Tivesse eu vocação para investigação acadêmica, talvez me empenhasse na quantificação e análise científicas do espaço concedido pelo jornalismo brasileiro a dois pronunciamentos sobre o país por parte de publicações estrangeiras: um editorial de ontem do jornal “The New York Times” e um editorial-reportagem da revista “The Economist” em setembro de 2013.
O jornal dos Estados Unidos manifestou-se, reivindicando a defesa das instituições democráticas, francamente contrário ao afastamento extemporâneo da presidente Dilma Rousseff (para ler a tradução na íntegra, basta clicar aqui).
O hebdomadário do Reino Unido estampou na capa a estátua do Cristo Redentor despencando de cabeça para baixo, criticou ruidosamente o rumo da economia do Brasil e também o governo Dilma (para saber mais, eis o link).
Alguns pitacos:
1) sempre me pareceu de um provincianismo masoquista a postura reverente do jornalismo nacional frente à cobertura do Brasil pela imprensa do exterior. É notícia, sim. Mas a impressão alheia é encarada como se fosse a revelação da verdade, por sábios, a parvos daqui;
2) a edição da “Economist” foi anunciada pelo jornalismo brasileiro em altos brados, comparando-a com uma capa de 2009 em que o Cristo decolava;
3) o editorial do “New York Times” não mereceu tratamento semelhante. Houve quem lhe conferisse destaque à altura do de 2013. E, no extremo oposto, até quem o ignorasse. Lembro de locutores na TV divulgando com pompa e circunstância a “Economist”, em contraste com o silêncio sobre o jornal;
4) não interessa ou é secundário o juízo de cada um sobre os temas abordados. O essencial é a constatação de como fatos com importância equivalente (é o que eu acho) podem ser trombeteados como uma bomba ou abafados feito estalinho;
5) portanto, minha resposta à pergunta do título é: as duas notícias têm mais ou menos a mesma importância jornalística. Ou deveriam ter;
6) é curioso como a opinião de muitas pessoas sobre o “New York Times” e a “Economist”, publicações de alta qualidade, variam de acordo com o editorial de cada momento. Quando falam o que os leitores querem, são bestiais. Quando não, são bestas, como diria o saudoso Otto Glória.
No mais, repetia o Millôr Fernandes, livre-pensar é só pensar