A revista Época desta semana (edição 301, 23/02) trouxe nova denúncia sobre o caso Waldomiro Diniz. Desta vez, a novidade do semanário da Editora Globo foi uma entrevista em que o ex-assessor da Casa Civil admite ter se encontrado com o empresário Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira, em 2003, isto é, já sob a gestão petista no governo federal. A nova denúncia é importante porque de certa forma derruba a primeira linha de argumentação utilizada por políticos da base governista na semana passada, qual seja a de que o crime cometido por Diniz havia sido cometido em 2002, durante a campanha eleitoral, e, portanto, nada tinha a ver com o governo Lula.
Apesar da importância da denúncia, a matéria de Época tem um problema grave, que deve ter passado despercebido para a maior parte dos leitores. A revista não explica quando foi realizada a entrevista com Waldomiro Diniz. Pode parecer um detalhe irrelevante, mas não é. Na reportagem, o semanário informa: "Uma entrevista do próprio Waldomiro à Época, dada pouco antes dele desaparecer na semana passada, mostra que é preciso virar poucas páginas no calendário para verificar o que ele fazia como alto funcionário federal".
Como se vê, a revista deixa no ar a data da entrevista. Há duas hipóteses para que isso tenha ocorrido. A primeira é que Waldomiro tenha falado uma só vez com os repórteres de Época, na quinta-feira, dia 12, quando deu o depoimento relatado na primeira matéria, publicada na edição anterior. Neste caso, a revista teria "guardado" a parte da conversa em que o ex-assessor confirma ter se encontrado com Cachoeira logo após a posse do presidente Lula, em janeiro do ano passado. Se isso ocorreu, a revista ou agiu de má-fé, omitindo uma informação importante para garantir uma boa "suíte" do caso na edição seguinte; ou foi absurdamente incompetente ao não perceber a importância da revelação de Waldomiro.
A segunda hipótese é a de que Época tenha realmente voltado a entrevistar o ex-assessor na semana passada, "pouco antes dele desaparecer". É de se estranhar que Waldomiro tenha topado falar mais uma vez ao semanário (ele não falou com nenhum outro veículo de imprensa no período), mas se isso ocorreu, segundo a versão da própria revista, não foi no final da semana, próximo ao fechamento do semanário. Ou seja, mesmo que se trate de uma nova entrevista com Waldomiro, o fato é que Época segurou a informação — não publicou em seu próprio site, na internet, nem disponibilizou para os outros veículos irmãos (jornal O Globo, Diário de S. Paulo e telejornais da TV Globo, por exemplo) — até a publicação de sua edição 301, na sexta-feira, 20. No dia anterior, curiosamente, o Jornal Nacional anunciou que a revista chegaria às bancas antecipadamente, na sexta, com novidades do caso Waldomiro, mas nada revelou sobre o teor da reportagem.
O objetivo de garantir uma boa suíte e alta vendagem não justifica a omissão da informação obtida pela revista. Na semana passada, por exemplo, muita gente ganhou e perdeu dinheiro nas bolsas de valores em função justamente dos boatos de que Época sairia com novidades sobre o caso Waldomiro. Colunistas políticos bem-informados chegaram mesmo a antecipar o teor da "novidade", colaborando para o nervosismo do mercado.
Na verdade, ao segurar informações importantes, a revista agiu irresponsavelmente, como quem deseja jogar lenha na fogueira, papel que no máximo cabe aos políticos de oposição, nunca a uma imprensa que se pretende conseqüente, independente e séria. Como oportunamente apontou Alberto Dines em seu artigo nesta edição (clique aqui para ler o texto de Dines), lembrando o episódio que derrubou o presidente norte-americano Richard Nixon, "todas as denúncias do Caso Watergate foram divulgadas imediatamente porque todas as fontes — anônimas ou não — sabiam que o adiamento da divulgação das informações implicava cumplicidade com o delito". No caso de Época, os responsáveis pela revista acompanharam, durante a semana, os boatos sobre a publicação de uma informação de que já dispunham. No mínimo, foram cúmplices da especulação e fiadores dos que apostam no "quanto pior, melhor".
Nos bastidores do poder e em colunas de gossip político na internet, circulava, também na semana passada, a história de que, além da confissão do ex-assessor sobre os encontros com Carlinhos Cachoeira, Época dispõe de "mais munição" sobre o caso Waldomiro Diniz. O diretor de redação da revista, Aluizio Falcão Filho, porém, só utilizaria o "material" caso a cúpula da Rede Globo assim o desejasse, a depender dos resultados das negociações que estão sendo realizadas com o governo para que o setor de mídia seja agraciado com uma espécie de "Pró-Press" do BNDES. Sem dúvida alguma, trata-se de uma história bastante fantasiosa e imaginativa, sem nexo algum com a realidade. O problema é que, no mundo real, Época anda dando motivos para que este tipo de história cresça e apareça.