Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O rádio sem autocrítica

É difícil ou quase impossível a transformação do rádio em nosso estado (Ceará), pois falta a tal autocrítica que é sempre salutar para todo meio de comunicação onde a reflexão sobre problemas, dificuldades ou situações do mundo do rádio deveriam ter espaço nas rádios e ter guarida nas representações da categoria no sentido pleno da mudança e da transformação. O problema é que não se assimilam críticas no mundo do rádio e o pobre que critica é defenestrado, proibido de falar, isolado, chamado de louco e outros impropérios.

Por que o rádio não se questiona? Valeria a pena ouvir a voz dos usuários, seria importante criar ações de mudanças, dizer o sentido real do rádio e procurar fazer com que os usuários tivessem comunicação verdadeira, desatrelada de interesses políticos e econômicos e que preservassem o respeito e a consideração com os ouvintes que, infelizmente, ainda aceitam o rádio desbocado e o escárnio neste meio. As mudanças são aceitas passivamente e ao bel-prazer do que paga, do que tem nas mãos – uma concessão que todos esquecem que é pública, ou seja, pertence ao povo.

O certo é que o quadro da comunicação via rádio em nosso estado é grave, não temos voz nos programas de rádio e é comum que ouvintes sejam até cortados quando não dizem o que agrada ao locutor ou ao dono da rádio. A situação do rádio cearense é de monopólio, de quem pode pagar horários e dizer o que quer, fazer programa via telefone, não comparecer e não dar satisfações, xingar a todos sem o mínimo de compostura, falar de sexo sem nenhuma preocupação com quem ouve os programas, desclassificar lutas em prol do rádio cidadão, promover espetáculos de homofobia no ar e outras aberrações do mundo do rádio são ruins, sim, para a comunicação e acabam promovendo o afastamento dos ouvintes tradicionais e evitando a formação de novos ouvintes.

Comunicação plural e verdadeira

Hoje nosso rádio está repleto de programas voltados exclusivamente para o futebol, não há programas voltados para a cultura, os programadores preferem encher a programação de música, ao invés de dar espaços para os profissionais que poderiam fazer bons programas. O debate sobre o rádio e sua importância ainda é muito pequeno e as outras mídias fecham espaço para tal discussão preferindo apostar no fim do rádio no nosso país. Claro que essas atitudes são perniciosas ao meio rádio e têm a ver com seu sucateamento e sua liquidação quase completa.

Que tal abrir um debate consciente sobre o rádio? Há programas que há mais de vinte anos fazem a mesma coisa todos os dias… Isso é rádio? Que tal organizações como Sindicato dos Radialistas ou a Associação Cearense de Emissoras de Rádio e Televisão criarem observatórios da programação buscando eficiente a mudança do sentido de sua comunicação? Claro que não estamos pedindo nada impossível, mas o rádio carece, sim, de autocrítica, precisa se renovar e, principalmente, ouvir seus usuários conscientes, mesmo que ainda haja alguns que defendam a baixaria e até critiquem o modelo de ação que adotamos na Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará pelo fato de sermos críticos e lutarmos pelo rádio cidadão referindo nossa atitude como censura ou grupo de desocupados.

No momento em que criticamos o meio rádio, temos a certeza de que a mudança é possível, mas só será real se houver uma atitude de união de todos os que ainda acreditam neste meio de comunicação e os que o fazem sejam abertos à crítica e ao debate, pois para o rádio acontecer como meio de comunicação forte, altivo e vigoroso é preciso que todos se unam na busca de seu sentido real como meio de comunicação que realmente atenda aos preceitos de uma comunicação plural, verdadeira e com um sentido real.

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[Francisco Djacyr Silva de Souza é vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE]