Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O sigilo da fonte no jogo da hipocrisia

Cabe ao jornalismo informar, e não ocultar informações. Segundo o Art. 1º do Código de Ética do Jornalismo brasileiro, o acesso à informação publica é um direito inerente à condição de vida em sociedade, que não pode ser impedido por nenhum tipo de interesse. Mas será que isso funciona de verdade na pratica?

Segundo Eugênio Bucci, em seu livro Sobre ética e imprensa, há atualmente o ‘vazamentismo’ agregado ao ‘offismo’. Informações caem do céu diretamente no colo do jornalista e, como é de direito, a fonte não precisa ser revelada. Levanta-se então uma questão: onde foi parar o jornalismo investigativo? Nos livros de mito da Grécia antiga? Ora, quanta hipocrisia, esse tipo de função não existe mais, ou se existe está na mesma situação do urso panda. Políticos e artistas, entre outros, distribuem diariamente bandejas de informações com interesses próprios. É lógico que numa matéria, sendo escândalo ou não, alguém se dá bem e alguém se dá mal. Quando o vazamentismo e o offismo ocorrem reputação de alguém está em jogo. Dependendo da informação, o país pode até entrar em crise. Ora, que coincidência, é justamente o que estamos vivendo. Será que alguém do grande poder está mesmo interessado em acabar com a corrupção no Brasil? Santa inocência! Há sempre um interesse próprio nisso.

Seria então ingenuidade ou malícia da mídia fingir que faz seu papel? É um caso a se pensar. Ao mesmo tempo em que o jornalista oculta sua fonte, na primeira ameaça à reputação entrega-a, com a justificativa de que era direito dela o sigilo. E então alguém logo lembra a famosa frase, ‘no Brasil tudo acaba em pizza’.

Alienado cúmplice

Geralmente o jornalista é um animal faminto em busca de furos de reportagem, nem sempre pensa no que aquilo pode resultar. É lógico que o imediatismo o pressiona. O tempo está cada vez mais caro nesse bombardeio de informações que desinformam. A verdade se torna cada vez mais precária, mas a confiança tem que estar em alta. O engraçado é que as 24 horas de hoje são as mesmas de 25 anos atrás. Então, o que está acontecendo com nosso jornalismo?

A grande verdade é que somos autoritários e espertos. Alguém já parou para pensar por que o Super-Homem é um jornalista no dia-a-dia? A resposta é clara. O jornalista quer sua imagem atrelada à de um super herói, que salva a humanidade, é bonzinho, honrado, tem o compromisso com a verdade e é respeitado. Quem não quer ser comparado a um super-herói com poderes fantásticos? Então, por que não afirmar que a mídia é o quarto poder? Ela vive passando por cima de todos os outros. Todos acreditam nela. Mãe generosa e fiel! O jornalista está sempre querendo acreditar que o público quer saber aquilo que ele informa, mas ninguém pergunta ao público o que ele realmente quer. Ao chegar fim do dia, pergunte a alguém o que sabe de novo; reina um silêncio total ou frases não concluídas pelo simples esquecimento sem explicação. A mídia está criando pessoas com chips na cabeça, programados para esquecer e obedecer.

Seria ousado então dizer que no lugar da inocência está a malícia? Acredito que não, porque no momento em que o jornalismo diz fazer seu papel o que há por trás disso é muito ocultismo sujo e interesse de alguém que soube persuadir. Um bom jogador que sabe como transformar um ótimo jornalista, que busca o sustento do seu trabalho (a informação), em alienado cúmplice de suas falcatruas.

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Estudante de Jornalismo, Nilópolis, RJ