Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

O Estado de S. Paulo

YOU TUBE CENSURADO
Valéria França e Laura Diniz

Justiça deve explicar decisão sobre site

‘A Justiça deve receber uma avalanche de pedidos de explicação sobre o processo que envolve o site YouTube e o vídeo da modelo e apresentadora de TV Daniella Cicarelli com o namorado Renato Malzoni na Espanha. Na quarta-feira, o desembargador Ênio Santarelli Zuliani, do Tribunal de Justiça (TJ), determinou que os provedores de Internet , responsáveis pela distribuição do conteúdo americano, impeçam o acesso de internautas brasileiros ao polêmico vídeo.

‘O despacho é ambíguo’, diz o advogado Renato Opice Blum, um dos maiores especialistas em Direito da Internet do País, que prevê o grande número de recursos. Uma das interpretações é que os provedores de linhas internacionais, como Embratel, bloqueiem o acesso do YouTube no Brasil. A outra é que sejam bloqueados apenas os caminhos que levem ao vídeo. ‘Diante da dúvida, as empresas devem entrar com um recurso chamado embargo de declaração, pedindo a Zuliani que explique exatamente o que determinou’, diz Blum.

A liminar – que teve ampla repercussão internacional – atende ao pedido de uma ação de Tato, como é conhecido o namorado de Daniella. Ele pediu o bloqueio total do YouTube para os internautas brasileiros. Para Blum, como o pedido inicial é a retirada do site, a interpretação mais coerente é que a ordem também seja nesse sentido. ‘Entendo a decisão como uma forma da Justiça punir a desobediência do YouTube, que até hoje mantém o vídeo.’

O caso chegou ao TJ porque o YouTube não cumpriu liminares concedidas em primeira instância, exigindo a retirada do ar das imagens picantes do casal na praia. A ordem judicial previa multas de R$ 250 mil por dia em caso de descumprimento. Estima-se que a multa já esteja por volta de R$ 4 milhões. Malzoni queria uma ação do TJ ainda mais dura.

Por meio da Assessoria de Imprensa do Tribunal de Justiça (TJ), Zuliani disse que sua intenção era determinar o bloqueio apenas do vídeo, e não do site. Mas, como em Direito vale o que está escrito e não o que foi dito, o assunto ainda deve dar muito pano para manga.

REPERCUSSÃO

Ontem, a imprensa internacional deu destaque para o caso. O jornal The New York Times relatou a concessão da liminar na seção de negócios de seu site, com um histórico do caso. Informou também que era impossível acessar o vídeo desde anteontem. A rede de televisão americana CNN, também em seu site, referiu-se às imagens como ‘vídeo dela (Daniella) aparentemente mantendo relações sexuais com seu namorado em água rasa’. Ambos lembraram que a modelo é ex-mulher do jogador de futebol Ronaldo.’

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Tirar do ar é mais fácil que bloquear vídeo

‘A ação de Renato Malzoni que pede o bloqueio do YouTube tem como base um laudo técnico expedido pelo perito em internet Paulo Cesar Breim. ‘É mais fácil e eficiente bloquear o site inteiro do que tentar selecionar apenas um dos conteúdos, o vídeo de Daniella’, diz Breim.

Para bloquear o site, basta que as empresas provedoras das linhas americanas coloquem um filtro de censura. Para impedir apenas o acesso ao vídeo, uma alternativa seria bloquear todo o conteúdo que tivesse o nome de Daniella. ‘Mas bastaria mudar o nome do vídeo e ele continuaria ali’, diz Giuliano Giova, presidente do Instituto Brasileiro de Peritos de Comércio Eletrônico. Outra possibilidade refere-se ao bloqueio pelo tamanho do arquivo do vídeo hospedado no site. ‘Mas isso prejudicaria outros conteúdos com o mesmo tamanho’, conclui Giova.

Além disso, segundo os peritos, os arquivos armazenados nos sites são informações que chegam fragmentadas e depois são reunidas na página do internauta em uma versão final. ‘Os provedores só têm acesso às informações que estão em circulação e não ao que está armazenado em um site’, explica Giova.

Segundo Breim, o YouTube não tira o vídeo do ar porque não quer, pois dá audiência. ‘Há meios de fazer isso internamente’, explica o perito. ‘Vídeos de pedofilia, por exemplo, não sobem no YouTube, porque existe uma censura interna .’’



MAURO CHAVES CONDENADO
O Estado de S. Paulo

Direito de resposta

‘Em data de 25 de novembro de 2006, em artigo intitulado Justiça comanda o acinte, contido no Espaço Aberto, página A2, o jornalista e advogado Mauro Chaves faz duras críticas à Justiça brasileira, que qualifica como cara e ruim.

Seria apenas uma opinião se, ao final do artigo, o jornalista não afirmasse que ‘… nos fóruns, só por alguns servidores terem participado de mesas em seções eleitorais, eles e todos os demais foram contemplados com quatro dias inteiros de folga após as eleições. E é por isso que em Taboão da Serra, por exemplo, as três juízas das três varas fazem verdadeiro ‘revezamento de faltas’ – uma sumindo uma semana e passando os despachos para outra, que também some…’ (grifo nosso) Não fosse o autor do artigo advogado, poder-se-ia dizer que desconhece o funcionamento da Justiça, mas não é o caso.

Ao contrário do que registra o jornalista, as três juízas de Direito das Varas da Comarca de Taboão da Serra não fazem revezamento de faltas. Todas trabalham diária e simultaneamente nas respectivas Varas para as quais estão designadas.

Por outro lado, na excepcional ausência de qualquer das juízas, é designado pelo E. Tribunal de Justiça outro magistrado(a) para acumulação de Varas, o que é prévia e devidamente publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo.

A alegação de que as juízas não trabalham de forma concomitante é absolutamente inverídica, já que habitualmente as audiências acontecem nas três Varas da Comarca de Taboão da Serra, de segunda-feira a sexta-feira, sendo certo que, além de atuarem nas respectivas Varas, realizam audiências, prolatando os despachos e sentenças decorrentes, também no Juizado Especial Cível e Juizado Especial Criminal.

Cumpre mencionar que a falsa afirmação feita pelo jornalista causou grave repercussão na Comarca, a ponto de gerar uma visita de inspeção extraordinária pelo corregedor-geral da Justiça, desembargador Gilberto Passos de Freitas, juntamente com dois juízes assessores, em 27 de novembro de 2006, dois dias após o artigo, tendo sido constatada a inexistência de qualquer irregularidade.

Na ocasião, o corregedor-geral da Justiça encontrou audiências em curso nas três Varas, constatando, através do exame das pautas, que as magistradas designavam elevado número de audiências, inviabilizando qualquer suposto revezamento.

Importante esclarecer, ainda, que as pautas são elaboradas com bastante antecedência, de forma que não se cogita de que tais designações tenham sido decorrência dos comentários constantes do artigo. Há, inclusive, como se provar todas as audiências que cada uma das magistradas realizou durante o ano, por meio de simples certidões expedidas pelos diretores de Serviço das três Varas da Comarca e Juizado Especial.

O próprio desembargador corregedor fez questão de registrar, ainda, por meio de esclarecimento encaminhado ao jornal, que também não constatou registro de adiamento imotivado de audiências, sendo que as poucas faltas ao trabalho sempre foram comunicadas ao Tribunal.

Importante que se esclareça, que todos os juízes estão sujeitos à permanente fiscalização da Corregedoria Geral da Justiça, e não podem unilateralmente criar revezamentos de nenhuma espécie.

Registre-se, por fim, que, ainda como resultado dos comentários do jornalista Mauro Chaves, o assunto foi tratado na sessão administrativa do Órgão Especial do Tribunal de Justiça, sendo levado ao conhecimento dos presentes que era falso o conteúdo da notícia veiculada pelo jornal quanto ao pretenso revezamento.

Assim, a presente tem por fim restabelecer a verdade quanto ao regular funcionamento das três Varas de Taboão da Serra.

Paulo Rangel do Nascimento e Renata Lev, advogados das juízas Flávia Castellar Olivério, Daniela Cláudia Herrera Ximenes e Ediliz Claro de Vicente Reginato.’



BRASIL NA ECONOMIST
Denise Chrispim Marin

‘Economist’ sugere Brasil em conselho da ONU

‘A revista britânica Economist defendeu, em sua edição desta semana, a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com a inclusão como membros permanentes de Brasil, Índia, Japão, Alemanha e um país africano. Em um dos artigos que compõem a reportagem de capa – Uma chance para um mundo seguro – Como os mais poderosos podem fazer um melhor uso das Nações Unidas – a revista sustenta que a organização precisará de mais agilidade para manter seu atual nível de êxito na solução dos dilemas da comunidade internacional.

O artigo gerou entusiasmo no gabinete do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que concentrou parte da estrutura diplomática brasileira a serviço da ambição do atual governo de conquistar uma vaga permanente para o Brasil no Conselho de Segurança.

De acordo com a Economist, a reforma do Conselho será um dos desafios inevitáveis do novo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, da Coréia do Sul, que substituiu no último dia 1º um dos mais motivados defensores da ampliação dos membros permanentes, Kofi Annan, de Gana. Na sua tentativa de aprovar a reforma, em 2005, Annan fracassou.

‘O secretário-geral é a face pública das Nações Unidas e leva as pauladas pelos seus fracassos. Mas ele é o servidor de um Conselho de Segurança, freqüentemente dividido, e enfrenta limitações em seu próprio poder. Com muito respeito, esse é o emprego do inferno’, afirma o artigo.

Em plena comunhão com a posição editorial da revista britânica, o ministro Amorim já iniciou contatos com Ban Ki-Moon em prol de seu objetivo maior. Aproveitou sua passagem por Nova York na última quarta-feira, onde tratou da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) com autoridades americanas, para conversar com o novo secretário-geral sobre a possível reforma do Conselho. Desde o fim de 2006 Amorim retomou sua estratégia para ampliar a rede de apoios à proposta do G-4 – Brasil, Índia, Japão e Alemanha – de apoio recíproco ao ingresso dos quatro no Conselho.

Amorim defende que a ampliação do Conselho, com os quatro países e outros dois africanos como membro permanentes, mesmo sem direito a veto por dez anos, permitiria a esse organismo decisório refletir mais adequadamente o mundo do presente. Assim como Amorim, a Economist argumenta que a atual composição – Estados Unidos, China, Reino Unido, França e Rússia – reflete o mundo pós-guerra de 1945.’



MÉXICO
O Estado de S. Paulo

López Obrador terá um programa na TV

‘O ex-candidato à presidência do México Andrés Manuel López Obrador anunciou que terá um programa semanal na TV. Inconformado com a derrota eleitoral, Obrador lançou um governo paralelo e se proclamou presidente em novembro. No programa, transmitido de madrugada pelo Canal 13, ele pretende divulgar as atividades desse governo.’



PUBLICIDADE
O Estado de S. Paulo

Petrobrás lança edital para escolher agências

‘A Petrobrás lançou ontem edital de concorrência pública para contratação antes de 31 de março de três agências de publicidade no lugar das atuais. A verba subiu de R$ 212 milhões para R$ 250 milhões.O contrato será por um período de dois anos e poderá ser renovado por mais dois. As atuais agências são a F/Nazca, Que Comunicação e Duda Propaganda.’



MEMÓRIA / OTTO LARA RESENDE
Ubiratan Brasil

A prosa enxuta de Otto

‘Otto Lara Resende gostava de brincar com seu primeiro nome: palíndromo que pode ser lido tranqüilamente de trás para diante, os dois T separam as letras O simetricamente. Profissionalmente, o repórter, contista, articulista, frasista e amigo de praticamente todo mundo também dividia incisivamente o jornalista do escritor. É o que se percebe ao vasculhar o terceiro número da coleção Arquivinhos, que contém livros, fotos, fac-símiles e DVD, e que chega na próxima semana às livrarias.

Editada pela Bem-Te-Vi Produções Literárias, a coleção, que já abordou Vinicius de Moraes e Hélio Pellegrino, oferece uma nova porta para a descoberta da intimidade do escritor. Trata-se de uma pasta, semelhante àquelas encontradas em papelaria, recheada de pequenas preciosidades avulsas. Assim, no volume dedicado a Lara Resende, há pequenos livrinhos com a biografia e a cronologia do autor, um caderno com fotos de família e com amigos, uma série de depoimentos escritos por colegas como Nelson Rodrigues e Paulo Mendes Campos, além da reprodução de um manuscrito inédito, uma carta de Resende a Vinicius.

A novidade do pacote em relação aos anteriores é o DVD com entrevistas feitas por Resende para a TV Globo, nos anos 1970 e 80 com nomes consagrados da literatura nacional, como Pedro Nava, Vinicius e Nelson Rodrigues (leia abaixo). Mas a agradável sensação continua a mesma: ao abrir a caixa, que custa por volta de R$ 150, o leitor sente o mesmo privilégio de quem investiga a escrivaninha particular do escritor, podendo manusear cartas, bilhetes, fotos, documentos cujo acesso é limitado a poucos.

Todo o material do Arquivinho de Otto Lara Resende vem da documentação doada pela família ao Instituto Moreira Salles depois de sua morte, em 1992, aos 70 anos. Não há, evidentemente, um roteiro básico, mas um bom caminho é começar pela biografia escrita pelo jornalista Benício Medeiros. É dele a comparação entre a separação das letras do primeiro nome do autor com a distinção entre sua carreira de jornalista e a de escritor.

Medeiros comenta que, para Otto, o fazer literário era um exercício secreto, sagrado, tratado com exacerbado perfeccionismo. ‘Durante toda a vida burilou e reescreveu textos já publicados em livro, como se tentasse se absolver de algum pecado antigo’, comenta Medeiros, lembrando da novela O Carneirinho Azul, sobre as aflições de uma família diante da Revolução de 1930, que saiu com uma escrita em O Retrato na Gaveta, de 1962, e com outra versão no livro póstumo A Testemunha Silenciosa, de 1995.

Se Otto encarava a literatura como uma fatalidade, a atuação na imprensa, porém, correspondia ao seu lado solar – ‘as frases famosas, as formulações reveladoras de impressionante agilidade mental, as peripécias inventadas ou não eram coisas que não deixavam de ser também, embora subprodutos, expressões legítimas de seu brilho’, atesta Medeiros.

De fato, a atuação jornalística de Otto Lara Resende, além de brilhante, tornou-se folclórica. Mineiro radicado no Rio desde 1946 e com passagem pelo Diário de Notícias, O Globo, Diário Carioca e Correio da Manhã, consta que realizou a proeza de escrever editoriais de dois jornais, um contra o outro, em dias seguidos. Era também o principal consultor de Roberto Marinho na escrita de textos em que as palavras precisavam ter o peso exato.

As amizades cultivadas pelo escritor também repercutem no Arquivinho. Otto sempre foi saudado pelos amigos como uma figura cativante, um adorável contador de histórias. Ao lado de colegas inseparáveis, como os também mineiros Hélio Pellegrino, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino, formava ‘os quatro cavaleiros de um íntimo apocalipse’. Já com Nelson Rodrigues, a relação beirava o exagero.

Benício Medeiros lembra que, como criador, o dramaturgo era o oposto de Otto, que podia até se exibir numa roda de amigos mas mantinha em segredo seu fazer literário, enquanto o outro alardeava a cada peça nova. ‘Talvez Otto quisesse fazer com a sua ficção o mesmo que Nelson fazia no teatro com a vantagem ou desvantagem de não entender nada de psicologia’, observa. O certo é que o dramaturgo transformou Otto num personagem de ficção, citando-o com freqüência em suas crônicas, tornando-o figurante em seus romances e até usando seu nome no título de uma peça, Otto Lara Resende ou Bonitinha mas Ordinária.

O escritor não gostou da, digamos, homenagem, mas, o que ficou de sua obra (e o Arquivinho comprova isso) é o grande interesse pelo próximo.’

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DVD reúne entrevistas do autor com nomes consagrados

‘Vinicius de Moraes, Pedro Nava e Nelson Rodrigues revelam, em conversa descontraída, seus medos e divertimentos

Durante sua passagem pelas Organizações Globo, Otto Lara Resende foi convidado para participar provisoriamente de um programa da tevê, Jornal de Verdade. Ele deveria permanecer lá até que acertassem a vinda de outro. ‘Fiquei mais de um ano, virei atração, fiquei identificável, todo mundo me conhecia na rua. Gostei da experiência na TV, foi divertida’, contou ele, em entrevista a Paulo Mendes Campos para a revista Manchete, em 1975.

De fato, a relação do escritor com a mídia televisiva foi marcante. Até deixar a Globo, no final de 1983, ele manteve tanto um quadro opinativo, chamado O Pequeno Mundo de Otto Lara Resende, como uma seção de entrevistas. É justamente dessa fase o valioso material que acompanha o DVD encartado no Arquivinho.

Ali estão entrevistas com Vinicius de Moraes e Nelson Rodrigues, ambas realizadas em 1977, uma conversa com Pedro Nava gravada em 1983, além do lançamento de um LP (o pai do CD) com o encontro com os colegas Hélio Pellegrino, Fernando Sabino e o próprio Paulo Mendes Campos, e uma matéria sobre os 78 anos de Carlos Drummond de Andrade, em 1980.

Diante das câmeras, Otto revelou-se um entrevistador carinhoso mas incisivo. Trajando um vistoso paletó, o autor mineiro diverte-se, por exemplo, com um Vinicius à vontade, camisa aberta no peito e na enorme barriga, sustentando o inseparável copo de uísque. ‘Já tentei fazer ginástica, mas descobri que sou contra o Teste de Cooper’, conta o poeta, que ri ao contar sobre um pacto firmado com Antônio Maria. ‘Juramos que não faríamos nenhum movimento desnecessário no resto da vida.’

Vinicius revela ainda como a poesia dominava sua vida. ‘Sou um labirinto em busca de uma porta de saída’, diz ele, no início da entrevista, para arrematar: ‘Amar é fundamental, mas não se pode amar as pessoas erradas.’

Já o encontro com Nelson Rodrigues é hilariante. Otto parece se divertir com toda a carga de obsessões do dramaturgo, que dispara suas frases características, como ‘o homem só não anda de quatro porque morre’, ‘aos 18 anos, eu era de uma ignorância enciclopédica’ e ‘o jovem só pode ser levado a sério quando fica velho’.

A falta de cultura da juventude, aliás, é o principal embate entre ambos, com Nelson dizendo que o jovem só tem graça quando é moleque. Eles conversam também sobre a obsessão que o dramaturgo tinha em citar o amigo em sua obra.

Outro bom momento do DVD é o encontro de Otto com os amigos mineiros. A cumplicidade torna a reunião um jogo de frases inteligentes e divertidas.’

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Otto por amigos

‘‘Acho o Otto um dos melhores contistas do Brasil, embora não goste muito de ler seus contos, porque são tristes’

Rubem Braga, Escritor

‘O jornalismo foi sua profissão e de certo modo seu destino. Sua paixão foi a literatura, em cuja intimidade passou toda a vida, principalmente os anos dolorosos e imprecisos da adolescência. A literatura era sua paixão, sua vida. (…) Os amigos que tiveram o privilégio de receber suas cartas julgam que o melhor do Otto estava na incontinência do espírito missivista tanto quanto no fulgor da palavra e do poder de comunicação direta desse que foi quem melhor soube conversar no País e no seu tempo’

Carlos Castello Branco, Colunista

‘Otto sofre de uma asma ética. Quando os brônquios do meu amigo começam a chiar, sabemos que o mundo vai mal. Se cai uma bomba em Hiroshima; ou se há um bloqueio; ou se a China invade a Índia; ou se o vizinho espanca o caçula – lá começa a asma do Otto. (…) Mas uma coisa vos digo: no dia em que o homem amar o próximo como a si mesmo, Otto ficará eternamente bom da asma’

Nelson Rodrigues, Escritor

‘Era um tanto cínico. E amargo como o diabo’

Paulo Mendes Campos, Escritor’



MEMÓRIA / CONCEIÇÃO CAHÚ
Jotabê Medeiros

Lembranças de Conceição Cahú, uma cartunista porreta

‘No dia 18 de dezembro, desafortunadamente no mesmo dia em que morreu o americano Joseph Barbera, o criador dos Flintstones e do Zé Colméia, morria quase anonimamente no Recife a ilustradora pernambucana Conceição Cahú, aos 62 anos.

No mundo da charge e do cartum nacional, poucas mulheres pontificaram. Conceição, que assinava apenas Cahú, tinha 45 anos de carreira e foi um dos grandes destaques femininos da ilustração, tendo sido considerada ‘a maior ilustradora de bico-de-pena da imprensa’ do Brasil, segundo colegas e editores (um de seus maiores admiradores foi o cartunista Henfil).

‘A Conceição foi uma das únicas chargistas mulheres do País, além da histórica Hilde Weber, aí do Estadão’, disse o cartunista José Alberto Lovetro, o Jal, que foi amigo de Cahú. Um dos elogiados trabalhos de Cahú foi encartado no Estado – 400 mil exemplares de revista sobre os 120 anos do Liceu de Artes e Ofício, que acompanhava o número de estréia do extinto suplemento Zap.

Revisitando a obra de Cahú, descobrimos uma grande versatilidade. Fazia caricaturas fantásticas, com um tempero clássico, às vezes um ponto entre Araújo Porto-Alegre e J. Carlos (caso da caricatura do pioneiro do futebol, Charles Miller, que ilustra esse perfil). Também se arriscava de vez em quando em quadrinhos seqüenciais, como na mini-HQ Uma História de Amor (Homenagem a Carlos Zéfiro), com a qual foi premiada no 19º Salão de Humor de Piracicaba, em 1992. E em parcerias, como nas histórias Trombadinhas e Um Nasceu para o Outro, com Xalberto.

Ela ainda ilustrou sua cidade, a bela Floresta do Navio (PE), em guaches fantásticos. Corintiana delirante, desenhou com rara argúcia o time da Democracia Corintiana, o que lhe valeu nada menos do que o título de Cidadã Corintiana, outorgado em sessão solene da Câmara Municipal de São Paulo, em 2005.

Conceição desenhou para a revista Placar, para movimentos populares e sociais (como o movimento Diretas Já), fez ilustração para o Dieese e para a Associação Nordestina de Crédito e Assistência Rural.

Chegou a São Paulo no início dos anos 70, iniciando seu trabalho na imprensa na Editora Abril. Ali, além de Placar, ilustrou nas revistas Cláudia, Nova e Capricho e Playboy. Em 1975, trabalhou na Folha de S.Paulo, passando depois por Jornal da Tarde, Visão e Saúde em Debate.

Gostava de futebol, outra diferença em relação à maioria feminina, e desenhou grandes caricaturas dos personagens da Copa do Mundo de Futebol e dos times do Brasil. Depois, chegou à Gazeta Mercantil, onde aprimorou seu estilo mais conhecido, o bico-de-pena, recurso amplamente utilizado na publicação. Segundo especialistas, seu trabalho nos anos 80 se tornou referência para novos desenhistas, além de muito respeitada no meio.

‘O talento de Cahú vicejou ao encontrar no caminho um jornal como a Mercantil, que apostou no lúdico, no desenho, para quebrar um pouco a sisudez de seu conteúdo e tratar com graça e leveza temas e discursos áridos, embora consistentes’, escreveu Eduardo Ribeiro, no Observatório da Imprensa.

Maria da Conceição de Souza Cahú morreu de câncer. A última empresa em que trabalhou foi o DCI – Diário Comércio e Indústria, em 2005. Seu site, ainda hoje, destaca uma modesta exposição da artista em 2003 na Associação dos Amigos da Praça Benedito Calixto, a mostra Traços do sem Fim, dividindo o espaço como o escritor e jornalista Ignácio de Loyola Brandão, que lançava seu livro O Anônimo Célebre.’



POLÍTICA CULTURAL
Beatriz Coelho Silva

Saída de Grassi ainda é ‘assunto interno’, diz Gil

‘A saída do ator Antônio Grassi da presidência da Fundação Nacional de Arte (Funarte) ‘ainda é assunto interno do Ministério da Cultura’. As palavras são do ministro Gilberto Gil, anteontem antes da estréia do show Carioca, de Chico Buarque, no Canecão. Cauteloso, ele não confirmou nem desmentiu a decisão, lamentou que o assunto tenha vazado, mas confirmou que houve uma sondagem ao músico e professor José Miguel Wisnik para ocupar o cargo. ‘Ainda não conversamos porque ele está de férias’, informou o ministro.

A Funarte é o órgão do governo que executa políticas públicas do MinC, especialmente nas áreas de pesquisa e produção. Os boatos sobre a saída de Grassi do cargo que ocupa desde 2003, começaram a circular no fim do ano e, na quinta, veio a confirmação pelo secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, Alfredo Manevy. ‘Gil considera o trabalho de Grassi excelente, mas quer dar novo rumo ao setor.’

As reações vieram de todos os lados. ‘Grassi ressuscitou a Funarte e injetou oxigênio nas artes cênicas’, disse o ator Juca de Oliveira. ‘Não sou petista, mas reconheço a qualidade do trabalho de Grassi. Se ele sai para outra área tão relevante, será ótimo. Se sai do governo, é ruim porque estaremos recomeçando mais uma vez’, afirma a atriz Cristiane Torloni. ‘Não votei no PT, mas aqui não importam partidos nem pessoas e sim as políticas. Não podemos perder um bom time.’

A atriz Marília Pêra torce para que eles se entendam. ‘Sou uma atriz e só tenho a pretensão de fazer esse governo gostar de teatro: o Lula, dona Marisa e Gil. Gostaria que eles se entendessem, embora a escolha do Wisnik também seja ótima, nada há contra ele.’

Paulo Betti, que é do PT, se empenhou por Grassi, mas lembra que a decisão é de Gil. ‘O ministério é dele. Ele escolhe o time.’ A atriz Renata Sorrah discorda. ‘Em mais de 30 anos de carreira, nunca vi uma gestão tão boa, para todos os setores. Votei no Lula, me empenhei para que o Gil ficasse no MinC, mas com toda a equipe’, reclama. Giselle Tiso, mulher e produtora do maestro Wagner Tiso, concorda. ‘A mesma visibilidade que Gil deu ao MinC, Grassi deu à Funarte. Só a volta do Pixinguinha, que levou músicos de gêneros e estilos diversos a vários lugares do País, já evidencia a importância do trabalho dele’, diz ela. ‘A atuação de Grassi corresponde aos propósitos do PT e de Lula na área cultural.’

Segundo Grassi, aí pode estar a raiz da questão, pois o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais e ex-presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, já afirmou que o presidente Lula gostaria de ‘despetizar’ o governo. ‘Deve ser coincidência que eu e o secretário de Articulação Institucional do MinC, Mário Meira, também do PT, estejamos para sair’, comenta o ator. ‘Não tenho apego ao cargo, que sacrifica minha carreira de ator (ele está na novela ‘Paixões Proibidas’, da Rede Bandeirantes), mas gostaria de ver andar os projetos iniciados há quatro anos. Os editais de música, teatro, circo, dança e artes plásticas devem sair este mês. Em 2002, não tínhamos dinheiro para nada, agora há recursos para tudo, já no início do ano.’

Embora troquem elogios, a relação entre Gil e Grassi tem arestas. Este nunca reivindicou a pasta da Cultura, mas a escolha de Gil em 2002, desagradou ao PT, que preferia alguém do partido. Quando José Dirceu era chefe da Casa Civil, houve uma reunião na casa da produtora Marisa Leão para influenciá-lo, mas quase todos os presentes, inclusive a dona da casa, eram neutros ou a favor de Gil e José Dirceu garantiu que ele era a trunfo de Lula para o setor. No fim do ano passado, quando Gil decidia se ficava, a comissão de cultura do PT emitiu um documento que, em resumo, pedia a sua permanência, mas caso ele saísse, o melhor nome para substituí-lo seria Grassi. Gil ficou e a permanência de Grassi no ministério é incerta.’



TELEVISÃO
Etienne Jacintho

Estréias no Universal

‘Além da estréia da aguardada Heroes, uma das séries mais comentadas nos EUA ultimamente, o Universal Channel colocará no ar episódios inéditos de suas séries mais famosas. Heroes entrará em cartaz no dia 2 de março, mas o canal trará novidades antes dessa data.

Já nesta terça-feira, dia 9, o Universal estreará a oitava temporada de Law&Order: Special Victims Unit, com a atriz Connie Nielsen temporariamente no lugar de Mariska Hargitay, que teve bebê. No dia 28 de fevereiro, entrarão em cena os novos capítulos da primeira fase de Psych.

House, a melhor atração do canal, voltará para seu segundo ano em 15 de março, com o personagem de Hugh Laurie um pouco menos mal-humorado. Ainda não há previsão de estréia da nova fase de Monk, que, nos EUA, será iniciada este mês. Aqui, deve chegar neste semestre.

SUPERPODERES

A única série inédita que entra no canal promete barulho. Heroes reúne o ingrediente que mais pontua a favor de Peter Parker, o Homem-Aranha: a descoberta de seus superpoderes. A série mostra uma turma que tenta controlar talentos especiais, como o teletransporte.

Neuras de verão

O casal Neura formado por Cazé e Marina Person vai passar as férias de verão na praia, situação que renderá esquetes para o programa Neura MTV, a partir do dia 10, às 22h30. A série terá participação de VJs como Keyla, Kênya, André e Ana Luiza Castro.

Entre-linhas

O clima promete esquentar em Páginas da Vida. Marta (Lília Cabral) descobrirá que Clara (Joana Mocarzel) está viva e Léo (Thiago Rodrigues) também será apresentado à menina, sem saber da paternidade.

No enredo a seguir de Páginas, a megera Marta articula uma historinha para que a culpa pela informação da falsa morte de Clara recaia, claro, sobre Helena (Regina Duarte).

Durou pouco a sorte da série The O.C. sem a personagem Marissa, a bela Mischa Barton. A atração será cancelada nos EUA em 22 de fevereiro.

A Fox Home Entertainment lança novos DVDs de séries: a 1.ª temporada de Dharma & Greg, o 2.º ano de Angel e a 4.ª fase de Nova York contra o Crime.

A ESPN Brasil reapresenta hoje, às 19 horas, um especial sobre o Rally dos Sertões. O programa mostra todos os detalhes e bastidores da competição, mais entrevistas com os pilotos.

No momento em que a MTV decreta a redução do videoclipe na sua programação, o Multishow anuncia que, das 40 músicas do segmento jovem adulto mais executadas nas rádios de grandes cidades, 25 delas tiveram seus clipes exibidos em primeira mão pelo programa TVZ em 2006.

No topo da lista da pesquisa do Multishow, realizada pelo instituto de pesquisa Crowley Broadcast, estão hits como Because of You, de Kelly Clarkson, You´re Beautiful, de James Blunt, e O Sol, de Jota Quest.’

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O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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