A semana chega ao fim em clima de incerteza. O PMDB, que enterra solenemente o que restava da herança de Ulysses Guimarães, conforma-se em se tornar instrumento dos presidentes das duas casas legislativas, Renan Calheiros e Eduardo Cunha.
A corda estica de um lado e de outro, mas o que vai definir o resultado do jogo é, como sempre, a economia. Brasília tem assistido, nos últimos dias, a uma intensa movimentação de lobistas e executivos de grandes empresas encarregados das relações institucionais. Esses protagonistas tratam de defender os interesses específicos de seus setores, e corre no chamado mercado que os ajustes anunciados vão acontecer no máximo em um mês.
A imprensa não consegue captar eventos de bastidores, porque, de modo geral, colunistas e repórteres só falam com personagens muito visíveis, com os quais estabelecem os acordos para vazamentos de informações.
A crise política a que assistimos pode ser o sinal superficial de um movimento de grandes proporções, que ameaça levar o PMDB oficialmente para a oposição. Nessa condição, ou o partido abocanha o poder, o que só poderia ocorrer por meio do impeachment da presidente da República, ou verá desidratar-se a estrutura portentosa que montou ao longo de três décadas.
Mas o partido depende de um apoio explícito e incondicional da imprensa, que mantém no centro do palco o senador Renan Calheiros e o deputado Eduardo Cunha, líderes dessa campanha. Interessante observar que o colunista Merval Pereira, do Globo, afirma na edição de sexta-feira (27/3) do jornal que “o PT está morto”, repetindo o que lhe passam as fontes peemedebistas. Como se sabe, são manifestações como essa que estimulam a militância e afirmações provocativas podem colocar no cenário um novo protagonista, com suas bandeiras vermelhas.
Como se pode constatar na leitura cuidadosa das escolhas dos editores e das opiniões de articulistas, o que sai nos jornais é apenas o som do vento. O que sopra no Planalto tanto pode ser sinal de uma tempestade sem precedentes, como a manifestação uivante do vento haragano, que, como o cavalo xucro, muda de direção sem aviso prévio.
Mais um escândalo
Nas entrelinhas do noticiário destacado pelos principais diários constata-se que os dirigentes do Congresso Nacional tentam passar novas ordenações constitucionais com o propósito de alterar as atribuições dos poderes, como a de nomear ministros do Supremo Tribunal Federal, chefes do Ministério Público e das agências reguladoras.
Em algum momento, outros parlamentares haverão de colocar um limite nas ambições de Calheiros e Cunha, por interferirem no equilíbrio das forças institucionais da República. Os presidentes do Senado e da Câmara são movidos pela poderosa energia da sobrevivência: eles sabem que, se a ventania virar, não haverá tapume capaz de salvá-los do envolvimento na Operação Lava Jato.
Pode animá-los a pouca disposição que o sistema da Justiça parece ter para levar adiante os casos que não envolvem diretamente representantes do PT: o chamado “mensalão tucano”, por exemplo, completou um ano na gaveta. Depois que o STF remeteu o caso de volta à primeira instância, em Minas Gerais, não se acrescentou uma vírgula ao processo.
Enquanto isso, o escândalo da Petrobras segue ocupando o noticiário, que ganha um novo caso de corrupção, desta vez envolvendo o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, uma espécie de instância judicial da Receita Federal.
Como sempre, o novo escândalo começa com a divulgação de números volumosos: a suposta quadrilha teria patrocinado a sonegação de ao menos R$ 6 bilhões devidos por 70 grandes empresas, entre as quais são citados o grupo Gerdau e o Banco Safra.
O valor é três vezes superior ao que teria sido desviado da Petrobras.
Então, temos o seguinte quadro: pressionados pela Operação Lava Jato, os dirigentes do Congresso alimentam uma crise política que pode alterar o quadro das alianças partidárias; um novo escândalo coloca em segundo plano o caso da Petrobras; o mercado espera sinais positivos de ajustes para colocar o dinheiro em movimento.
O barulho na imprensa faz pensar que as placas tectônicas se movem sob o chão de Brasília. Mas pode ser apenas o barulho dos ventos uivantes.