Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

O que a imprensa não mostra



A imprensa não parece interessada em destrinchar a estranha negociação pela qual os compradores pagaram apenas uma fração mínima do valor da Varig. Obcecados pelas intrigas do caso, jornais e revistas deixam na obscuridade os aspectos que mais interessam ao leitor.


Dominada pelo conceito de segmentação, nossa imprensa não consegue agregar os diferentes aspectos de um mesmo assunto. Não se oferece ao leitor uma visão holística dos fatos, apenas lâminas parciais.


Exemplo disso são as denúncias sobre as irregularidades na venda da Varig, que passam ao largo da ostensiva má vontade do governo em intervir na empresa para evitar a sua falência. As denúncias da ex-diretora da ANAC, Denise Abreu, quase nunca mencionam o porquê da opção privatista num governo teoricamente comprometido com o fortalecimento do Estado.


Com a divulgação no fim de semana do relatório da FAB sobre o despreparo dos controladores de vôo, abre-se outra frente noticiosa que obrigará fatalmente a grande imprensa a encarar a possibilidade de novos apagões aéreos e, sobretudo, encarar a insuficiência do duopólio TAM-Gol no atendimento satisfatório das demandas do mercado.


Breve deverão ser divulgados os relatórios sobre as causas das duas maiores tragédias da aviação comercial, uma ocorrida há quase um ano com um Airbus da TAM e outra há quase dois, com um Boeing da Gol. O relatório da FAB pode ser uma espécie de trailer das conclusões.


Mau tempo


Uma coisa é certa: governo e imprensa estão tratando o caso Varig de forma minimalista, fragmentada e enviesada. O problema é de grandes dimensões, desdobrável e, principalmente, com implicações na vida de todos os cidadãos e não apenas dos políticos que adoram escândalos.


A segurança no ar e o bom atendimento em terra interessam a milhares de brasileiros. E não apenas aos ricos – convém não esquecer que o cidadão aprendeu a voar e gostou. A estranhíssima venda de uma companhia aérea a compradores que até agora só pagaram 1% do que deviam desembolsar será assunto obrigatório nas salas de embarque no momento em que os aeroportos fecharem por causa do mau tempo.