Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Onde estão os Sérgio Moro do jornalismo?

Nasceu em Maringá (PR), tem 43 anos. Graduou-se, fez mestrado e doutorado na Universidade Federal do Paraná (onde leciona). Estudou dois anos na celebrada escola de direito de Harvard (onde o presidente Obama doutorou-se).

O juiz federal vai entrar para a história jurídica e política brasileira graças à impecável atuação à frente da Operação Lava Jato. Nosso judiciário jamais será o mesmo. Longe de encerrado, o saneamento da Petrobrás já produziu formidável numero de façanhas e recordes.

Sérgio Moro, porém, não é caso isolado, nem aconteceu por acaso. Fruto de um processo, incubado por um sistema jurídico que começa a livrar-se de seculares vícios e vexames. Outros magistrados da mesma geração começam a se destacar — caso do governador Flávio Dino, do Maranhão, que condenou ao ostracismo as diversas oligarquias do estado numa única eleição (1º turno, 2014).

Diante de um fenômeno tão impressionante cabe perguntar: onde estão os Sérgio Moro da política, da ciência econômica, da administração pública, da vida empresarial e, obviamente, os estão os indômitos renovadores do nosso jornalismo?

Que fatores acionaram esta incrível renovação no mundo jurídico e porque não poderiam reproduzir-se em outras esferas da vida nacional, sobretudo no jornalismo, o ignitor das inovações, mudanças e revoluções?

Acontece que o jornalismo da era industrial deixou de ser atividade pública, incorporado a um sofisticado sistema empresarial onde os desafios, valores e exigências passam obrigatoriamente pelo crivo da rentabilidade e da lucratividade.

Um jornalista corajoso, autônomo, talentoso e inventivo, só poderá destacar-se e estabelecer novos paradigmas profissionais se na empresa encontrar um acionista, alto executivo ou apenas uma alma-gêmea disposta a enfrentar todos os riscos e endossar sua atuação.

O serviço público permite desempenhos surpreendentes, revolucionários, porém impossíveis de copiar no modo de produção privado. Significa que ou criamos uma esfera de atuação jornalística não-lucrativa, focada prioritariamente no interesse público, ou nos resignamos a funcionar como caronas de avanços institucionais gerados sem a contribuição pluralista da imprensa.

Apesar do pessimismo reinante, o desafio é estimulante.