Os do Globo estão oferecendo um show de investigação jornalística – na retomada do caso do Riocentro e na identificação dos responsáveis pelo assassinato do deputado Rubens Paiva nas dependências do DOI-Codi, no Rio de Janeiro.
Mas na apuração das responsabilidades pela morte do cinegrafista da Band Santiago Andrade atingido na cabeça, há três semanas, por um rojão durante violento protesto no Rio, algumas ausências e assiduidades chamaram a atenção.
A mídia ninja não deu o ar da sua graça tanto na identificação dos culpados pela tragédia como nos desdobramentos quando um dos responsáveis acusou partidos políticos de pagar diárias a manifestantes. A mídia ninja tem todos os atributos em matéria de agilidade, organização e compromissos públicos para antecipar-se à mídia tradicional. Não o fez, não se sentiu convocada, evaporou. Inclusive quando o Globo veiculou suspeições sobre o comportamento do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-Rio) o que gerou um tremendo e instrutivo debate público sobre o papel da imprensa (ver “Freixo outra vez”, “O dever de um jornal”, “A exaltação de um factoide”, “O dever de um jornal II”, “Jornalismo a serviço de quê?” e “Freixo e a violência”).
O que falta
Não foram os representantes do nobre segmento da reportagem investigativa que analisaram os vídeos realizados por cinegrafistas de diferentes emissoras, e com a ajuda do perito Nelson Massini identificaram prontamente os responsáveis pelo disparo do artefato. Os responsáveis pela façanha foram editores de imagem da TV Globo, profissionais que dispensam galardões, etiquetagem e categorias, empenhados apenas em fazer um bom trabalho.
Mas quem apareceu liderando as listas de votos de pesar e de protesto – sobrepondo-se mesmo à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e à secular Associação Brasilera de Imprensa (ABI) – foi a Abraji, Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, entidade que merece aplausos pelo trabalho na esfera de treinamento e motivação.
Mas a Abraji não dispõe de um corpo de repórteres investigativos; em outras palavras: não investiga, não promove a investigação. Seus associados são os repórteres que se consideram investigativos – todo repórter é, em princípio, investigativo – e trabalham para jornais, revistas, emissoras de rádio, TV, blogs, sites e portais.
Nossa sociedade carece de veículos jornalísticos – de qualquer porte –, eles é que têm a legitimidade e a obrigação de esquadrinhar, inquirir, perquirir, devassar, vigiar e fiscalizar o desempenho do poder público e privado.
A violência nas manifestações que tirou a vida de Santiago Andrade é um caso em aberto, quase esquecido. Também a violência do debate sobre a violência. Falta é investigação.