Causou polêmica o cancelamento das apresentações da ópera Idomeneo, de Mozart, na Deutsche Oper de Berlim. A decisão, anunciada na segunda-feira (25/9), foi tomada por receio de que algumas cenas enfureçam os muçulmanos e representem um risco à segurança no país. As apresentações, marcadas para novembro, serão substituídas por La Traviata e As Bodas de Fígaro.
Na ópera, dirigida por Hans Neuenfels, o rei Idomeneo é mostrado vacilante no palco ao lado de cabeças decepadas de Buda, Jesus, Poseidon e do Profeta Maomé – todas colocadas em cadeiras. Forças de segurança de Berlim alertaram a produção de que exibi-la como planejado poderia apresentar um ‘risco de segurança incalculável’.
Precedentes
Há duas semanas, o papa Bento 16 também causou controvérsia no mundo muçulmano ao citar, durante discurso na Alemanha, trechos de um texto medieval ligando a disseminação da fé islâmica à violência. No fim do ano passado, violentos protestos foram presenciados em diferentes países depois que um jornal dinamarquês publicou charges de Maomé.
Mesmo que estes episódios tenham servido para aumentar o receio ao se abordar questões ligadas ao Islã, políticos alemães criticaram a decisão do cancelamento da ópera. Segundo o presidente do parlamento, Wolfgang Thierse, a suspensão de Idomeneo representa uma nova ameaça à liberdade de expressão artística no país. ‘Chegou a tal ponto que devemos limitar a expressão artística? O que virá em seguida?’, questionou.
A diretora da Deutsche Oper, Kirsten Harms, afirmou que o chefe da polícia de Berlim ligou alertando sobre os riscos da exibição do espetáculo. ‘Se eu não prestasse atenção e algo acontecesse, todos diriam prontamente que eu ignorei o aviso’, justifica ela.
Hoje, mais de três milhões de muçulmanos vivem na Alemanha. Informações de Noah Barkin [Reuters, 26/9/06].