A Folha de S.Paulo tinha um enorme abacaxi e não sabia como descascá-lo. Agora tem dois abacaxis e continua sem saber como livrar-se deles.
O nome de José Sarney assinando uma coluna na nobilíssima Página Dois deixou o jornal numa posição constrangedora a partir da reeleição para presidir o Senado. Ficou ainda mais constrangedora quando o senador-colunista tornou-se alvo de uma formidável sucessão de denúncias veiculadas por toda a mídia, inclusive a própria Folha.
O problema agravou-se há duas semanas, quando o articulista passou a usar o espaço do jornal em sua defesa, o que é eticamente incorreto. E como se não bastassem os desconfortos, eis que uma colunista do mesmo jornal, da mesma página, a também senadora Marina Silva, começa a ser ostensivamente cogitada como candidata à sucessão de Lula pelo Partido Verde.
Ao contrário do colega, Marina separa a sua atividade política da sua função jornalística: suas manifestações a respeito da eventual candidatura foram veiculadas em outros veículos.
Unanimidades nacionais
Considerando seus compromissos éticos é possível que Marina consiga evitar a superposição das duas carreiras, a de colunista e a política. Mas a partir de março, quando os candidatos deverão desincompatibilizar-se das funções públicas, a senadora Marina Silva terá que assumir-se como candidata dos Verdes.
Então a Folha exigirá que deixe a coluna se não exigiu o mesmo de Sarney quando se candidatou à reeleição no Senado? Candidatura confirmada será então a oportunidade para o jornal livrar-se do outro colunista, pivô de tanta celeuma?
Uma coisa está clara: nenhum jornal deste país jamais ostentou em seu corpo de articulistas duas unanimidades nacionais. Marina Silva, exemplo de simpatia, dignidade e idealismo. José Sarney é… José Sarney, dispensa qualificativos.
A Folha está bem servida.