Um comunicado do órgão ligado ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos, publicado na edição de terça-feira (27/4) da Folha de S.Paulo, traz uma pauta que há muito tempo se oferece à imprensa, mas não encontra jornalistas dispostos a encará-la.
O estabelecimento de bandos armados no litoral de São Paulo, já denunciado no ano passado por alguns jornais, começa a produzir os efeitos esperados sob a forma do aumento da violência.
É a segunda vez em menos de cinco anos que o Conselho Assessor de Segurança no Exterior, agência que cuida do bem estar de cidadãos americanos fora de seu país, faz recomendações de cuidados especiais para o Brasil.
Em 2006, o órgão recomendou aos americanos que evitassem viagens desnecessárias ao estado de São Paulo, onde estavam ocorrendo os ataques atribuídos ao grupo criminoso conhecido como Primeiro Comando da Capital. Desta vez, o alerta é específico para Guarujá, Santos, São Vicente e Praia Grande, onde seis pessoas foram mortas em três dias, na semana passada. Foram totalizados no mês 20 homicídios na região, até a sexta-feira (23/4), alguns deles com características semelhantes.
Disputa por pontos
A polícia investiga a hipótese de que os assassinatos estejam relacionados a ações do PCC e disputas entre gangues.
Um especialista citado pela Folha observa que o comunicado da agência norte-americana desmoraliza o sistema de inteligência da segurança pública no Brasil. No entanto, segundo o jornal, moradores do litoral santista vinham há dias sendo assustados com informações sobre ‘toque de recolher’ e outras ameaças do crime organizado, e a rede hoteleira apontava queda no movimento de turistas.
Desde que começaram no Rio de Janeiro as operações de ocupação de favelas pela Polícia Militar, cidades paulistas ao longo da Via Dutra e do litoral vêm registrando casos envolvendo a presença de traficantes e outros criminosos do Rio nessas regiões. Notas esparsas nos jornais chamados de populares apontam o aumento recente das disputas por pontos de drogas.
Talvez seja preciso um alerta do governo dos Estados Unidos para que a chamada grande imprensa brasileira descubra essa pauta.
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Segredos de sacristia
A imprensa brasileira, de modo geral, sofre de melindres ao tratar dos pecados da igreja católica. Os casos de pedofilia só ganharam repercussão recentemente porque inundaram o noticiário internacional e o próprio Vaticano foi obrigado a se manifestar oficialmente.
Considerado o maior país católico do mundo, e com milhares de crianças carentes sob cuidados de religiosos, o Brasil ainda não tem estatísticas de casos de abusos – e a imprensa não parece interessada em conhecer toda a extensão dessa verdade incômoda.
Alberto Dines:
A questão da pedofilia não é teológica, é jornalística: se a imprensa a encarasse sem complacência, da mesma forma como noticia todos os pecados e todos os crimes, a pedofilia há muito estaria eliminada. A política do sigilo só ajuda a impunidade e a impunidade explica a dimensão desta perversão na esfera religiosa.
O que aconteceu em Arapiraca é exemplar: o SBT denunciou o escabroso caso em meados de março, mas o resto da nossa mídia só começou a noticiá-lo trinta dias depois, quando a imprensa mundial já havia tratado do episódio exaustivamente.
A edição de hoje do Observatório da Imprensa na TV vai trazer o caso de Arapiraca com a participação do jornalista que o descobriu, Roberto Cabrini. Nesta terça-feira (27/4) pela TV Brasil, ao vivo, em rede nacional, às 23h. Em São Paulo pelo canal 4 da NET e 181, da TVA.