Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.
A queda do ministro Antonio Palocci relaciona-se diretamente à quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa pela Caixa Econômica Federal. Mas esta ilegalidade só ganhou dimensão a partir do momento em que os dados sigilosos foram repassados a uma revista semanal e por ela divulgados com amplo destaque. Se a Caixa Econômica aparece como a responsável por um abuso de poder, não se pode esquecer que Época foi a sua parceira. Voltaremos ao assunto.
São Paulo considera-se a capital jornalística do país, mas quem está produzindo novidades é a imprensa carioca. Foi lançado ontem o tablóide Expresso, irmão caçula do Globo. É uma resposta ao tablóide Meia Hora, lançado há seis meses, do grupo O Dia que, por sua vez, vai aparecer nas bancas na próxima semana de cara nova para enfrentar o seu rival O Globo. Se o aumento na oferta de títulos corresponder a uma efetiva melhora na qualidade da informação, quem sai ganhando é o jornalismo brasileiro.
Não é todo dia que se troca o comando da economia. Nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso tivemos um único ministro da Fazenda, Pedro Malan. Antonio Palocci ia no mesmo caminho. Não deu. A mídia não fala em outra coisa, mas esta mesma mídia – e sobretudo a imprensa – ainda não esqueceu o impacto da exibição pelo Fantástico há dois domingos do documentário Falcão, meninos do tráfico. Hoje, 10 dias depois, um colunista da Folha de S.Paulo disse que naquele domingo ‘o Brasil A foi apresentado formalmente ao Brasil B‘.
No fim de semana ficou evidente que a mídia decidiu subir o morro para descobrir o Brasil e encarar as suas tragédias. Isso não acontecia desde a morte do repórter Tim Lopes, assassinado por traficantes há quase quatro anos.
É legítimo que a mídia diária se ocupe neste momento com o destino da nossa economia. Mas é obrigação deste Observatório preocupar-se com aquilo que a imprensa deixa de lado ou não tem tempo para acompanhar com atenção.
Convém lembrar que nos últimos 25 anos, desde a exibição de Pixote, é a mídia audiovisual que está apresentando o ‘Brasil A’ às realidades do ‘Brasil B’. A existência destes dois Brasis que só se encontram nas telinhas e nas telonas é uma outra tragédia.