Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Os formadores de opinião estão frustrados

Matéria da CartaCapital e pesquisa Datafolha publicada no fim de semana indicam que os chamados formadores de opinião da grande imprensa nacional andam frustrados porque, aparentemente, a opinião que eles supostamente influenciam não sofre influência deles.

Assim simples: a imprensa perde influência sobre parcelas importantes da população. O site Bluebus, que congrega uma vasta e ativa audiência de publicitários, relações-públicas e jornalistas, observava nesta segunda-feira que especialistas da área de comunicação vêm consolidando essa percepção desde janeiro deste ano. Este observador, modestamente, gostaria de remeter à série de comentários feitos neste sítio desde o segundo trimestre de 2005, no qual alertava para o risco que corria a credibilidade da imprensa por causa do noticiário tendencioso sobre a crise política.

Já em 12 de abril do ano passado era possível observar, como foi publicado, que ‘sem o suporte dos programas eleitorais gratuitos, as escolhas de edição têm um efeito menor sobre a opinião pública’ [ver remissões abaixo]. O comentário se referia à revelação, pelo Datafolha, de que, a despeito da cobertura favorável da imprensa, o então prefeito José Serra perdia popularidade no primeiro trimestre de seu governo.

Na seqüência das denúncias sobre corrupção envolvendo a direção do Partido dos Trabalhadores, que se iniciou em junho e avança ainda hoje, outra vez este Observatório registrou a constatação de que havia em curso um processo de ‘desconstrução’ do presidente Lula da Silva, e que talvez a imprensa estivesse passando a impressão de que se orientava por premissas pré-existentes, mais do que pelos fatos.

Cabo eleitoral

Em 6 de junho de 2005, observava-se uma queda de 10 pontos porcentuais na aceitação do presidente pela população pesquisada, mas a imprensa ignorou que nada menos do que 45% dos consultados preferia manter uma atitude neutra, considerando o governo ‘regular’, apesar do massacre no noticiário, nos editoriais e nos artigos de todos os dias. Este Observatório registrou a hipótese de esses 45% não estarem aceitando integralmente o viés da imprensa.

Agora, os ‘formadores de opinião’ se mostram frustrados porque, após um ano inteiro de bombardeio, o presidente segue dono de popularidade capaz de lhe proporcionar a reeleição, enquanto seu principal adversário se enrola em verbas de publicidade e vestidos de grife. Um desses príncipes da mídia vociferava nesta segunda-feira contra o ‘baixo nível de educação democrática’ dos brasileiros. Na sua opinião, o fato de as notícias sobre corrupção no governo não serem suficientes para demolir a reputação do presidente é sintoma de que estamos todos mergulhados em absoluto cinismo.

Pode ser verdade. Nesse caso, a sociedade brasileira estaria em maus lençóis. Mas também pode ser que os especialistas em mídia estejam certos, e que tudo não passe de uma fenômeno muito simples: depois de um ano agindo com cabo eleitoral, a imprensa acaba perdendo credibilidade, e seus formadores de opinião se descobrem pregando no deserto. O que pode até nem ser tão ruim assim para a sociedade.

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Jornalista