A edição de quarta-feira (9/3) do Globo noticia com destaque documento elaborado pelo Comando do Exército contra a criação de uma Comissão Nacional da Verdade, destinada a apurar crimes cometidos em nome da defesa da segurança nacional durante a ditadura militar. Segundo o jornal, o texto foi enviado em fevereiro ao ministro da Defesa, Nélson Jobim, e tem apoio da Marinha e da Aeronáutica.
A notícia prevê que o Congresso Nacional, onde a lei que cria a comissão deve ser aprovada, se tornará palco de embates entre apoiadores e adversários da iniciativa governamental. O projeto de lei foi enviado pelo governo Lula e tem apoio do governo Dilma.
O texto do Globo registra que o assunto foi encarado por outros países da América do Sul que passaram por ditaduras militares. De fato, no Chile, por exemplo, foi o próprio comandante do Exército, Juan Emilio Cheyre, que apoiou a apuração dos crimes. A ministra da Defesa era Michelle Bachelet. Entre 2002 e 2006, Cheyre estabeleceu um divisor de águas benéfico para o avanço da democracia naquele país. O Chile, como se sabe, é um país politicamente dividido, onde os adeptos da ditadura de Pinochet se manifestam com estridência. Mas as Forças Armadas se submeteram ao poder civil.
O que não está no noticiário do Globo, mas chama a atenção, é que os comandos militares brasileiros fazem parte do governo e deveriam seguir a orientação de quem foi eleito pelo povo. O fato de os chefes militares se colocarem como um corpo à parte da sociedade brasileira dá uma medida do desenvolvimento insuficiente da democracia no país.
Ainda falta indignação
As manobras de Gilberto Kassab para calçar sua candidatura ao governo paulista em 2014 continuam em destaque no noticiário político. Ele pretende criar um novo partido para, ao sair do DEM, escapar da cassação de seu mandato de prefeito de São Paulo. Em seguida, esse partido seria absorvido pelo Partido Socialista Brasileiro e Kassab ingressaria na base do governo. Já foram escritos editoriais com críticas ao esquema de Kassab, ex-malufista que se tornou aliado de José Serra. Já se registraram as críticas doutrinárias de Luiza Erundina. Mas ainda falta indignação. Não dirigida pessoalmente a Kassab, mas a práticas que desmoralizam o regime democrático.
No ‘Painel’ da Folha de S.Paulo noticia-se que o ex-deputado federal Gustavo Fruet pretende sair do PSDB se não conseguir a indicação para disputar a prefeitura de Curitiba em 2012. É o mesmo caso. As legendas passam a ser meros instrumentos de projetos pessoais. Que democracia se pode consolidar assim?
Kadafi e mídia inglesa
Em meio à frustração causada pela contraofensiva de Kadafi na Líbia, passa discretamente pelo noticiário a informação de que o fundo soberano do país, pilotado por Saif Kadafi, filho do coronel, detém três por cento da editora Pearson. A Pearson edita o jornal Financial Times e a revista The Economist.
Marcos comemorativos
Este foi o programa de número mil e quinhentos do Observatório da Imprensa no rádio. Fomos ao ar pela primeira vez em 4 de maio de 2005. Severino Cavalcanti – lembram-se dele? – era o presidente da Câmara dos Deputados. Quem poderá dizer que o panorama mudou radicalmente desde então? A mídia afeita ao jornalismo declaratório continua dando voz a figuras que privilegiam interesses pessoais ou de grupo, em detrimento da discussão dos problemas da sociedade brasileira.
Em 2011 o Observatório da Imprensa comemora também 15 anos de existência na internet e 13 anos de presença na televisão.