A leitura dos comentários postados nas áreas de debates de blogs e sites noticiosos, inclusive neste Observatório, pode induzir o observador a concluir que o Brasil está dividido em dois grupos políticos radicais, irredutíveis e inconciliáveis.
Um deles apóia incondicionalmente o presidente da República, mesmo quando ele defende o indefensável presidente do Senado, odeia o presidente do Supremo Tribunal Federal e acha que a imprensa não merece confiança.
O outro grupo condena liminarmente tudo que diz ou faz o presidente da República, independentemente de seus recordes de popularidade e seus indicadores de acertos, tem o presidente do STF em alta conta e parece acreditar em tudo que a imprensa publica.
Esses dois universos paralelos se manifestam em reuniões sociais, onde um encontro entre indivíduos das correntes antagônicas oferece sempre o risco de descambar para bate-boca e irracionalidade. As posições controversas também podem ser detectadas no comércio, nas correntes de opinião que circulam pela internet e até nas anedotas que eventualmente brotam em elevadores lotados.
O outro lado
No Brasil ainda não se percebe a contaminação de outros ambientes mais inflamáveis, como as torcidas de futebol, por esse assunto radical e explosivo. Em Honduras, por exemplo, a questão que envolve o afastamento do presidente Manuel Zelaya provocou um confronto entre torcidas dos dois times de futebol mais populares do país, deixando dois mortos e quase vinte feridos. Mas, estranhamente, essa expressão da diversidade democrática passa quase imperceptível pela imprensa brasileira, ou aquilo que ainda chamamos de o núcleo duro da imprensa.
A leitura dos jornais e revistas dá a impressão de que o Brasil se caracteriza por uma opinião majoritária e claramente oposicionista. As seções de cartas dos leitores, se fossem tomadas como referência da opinião pública, revelariam um cenário absolutamente oposto ao que demonstram as pesquisas.
Articulistas, colunistas, entrevistados e humoristas em geral que têm espaço garantido na mídia tradicional alinham-se quase absolutamente de um lado dessa linha divisória, o que faz a imprensa parecer um linguado, aquele peixe que tem os dois olhos de um lado só.
Quem quiser conhecer o outro lado tem que acessar a internet. O Brasil de verdade não está no papel.
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Ele tinha razão
As empresas brasileiras de mídia tiveram participação ativa e fundamental em duas decisões recentes do Supremo Tribunal Federal: na extinção da Lei de Imprensa e no fim da exigência do diploma universitário específico para o exercício da profissão de jornalista.
As duas medidas se revelaram não apenas controversas, mas, principalmente, fontes de novas dores de cabeça para a própria imprensa.
No caso da revogação da Lei nº 5.250, de 1967, já se observa movimentação do lobby das empresas de mídia pela criação de uma lei substitutiva, especialmente no que se refere à regulamentação do direito de resposta. Com a extinção da lei, agora as decisões cabem a cada juiz, o que deve atrapalhar o planejamento das empresas e pode criar interpretações distorcidas e prejudiciais ao exercício do jornalismo.
No caso da extinção da obrigatoriedade do diploma, também se comenta que as empresas estão percebendo dificuldades, algumas das quais já manifestas na seleção de estudantes e recém formados nas chamadas escolas de ‘focas’ que funcionam em alguns jornais e revistas.
Se limitam as inscrições a formandos e diplomados pelas escolas de jornalismo, as empresas não têm como justificar o fato de haverem lutado pela extinção da obrigatoriedade do diploma. Se, para manter a coerência, abrem inscrições para todos os cursos universitários, torna-se muito mais onerosa e complicada a seleção.
Assim, as empresas de mídia se enrolam na teia que elas mesmas criaram.
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O Observatório da Imprensa na TV apresenta, nesta terça feira, uma entrevista do ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello, o único integrante do STF que sugeriu a manutenção da Lei de Imprensa e também o único que defendeu a necessidade da obrigatoriedade do diploma específico para o exercício do jornalismo profissional. Mostrando-se absolutamente coerente, o ministro falou a Alberto Dines sobre suas convicções.
O Observatório da Imprensa vai ao ar hoje às 22h40, ao vivo, pela TV Brasil. Pela Net, canais 4 (SP), 16 (DF), 18 (RJ e MA); pela Sky-Direct TV, canal 116; pela TVA digital, canal 181.