Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Os presentes e a mídia ausente

Na semana passada, o presidente Lula ficou feliz da vida ao ganhar de presente de uma empresa um celular que toca o hino do Corinthians. ‘Vou usar para namorar com a Marisa’, comemorou. A senhora Luiz Inácio da Silva também ganhou um aparelho. Deu em todos os jornais.

Também na semana passada, Lula deu de presente a Pelé um passaporte vermelho, reservado a diplomatas e autoridades do primeiro escalão. Deu na coluna de Ancelmo Gois, no Globo.

Salvo melhor juízo, nenhuma publicação criticou de bate-pronto uma coisa e outra.

Presidentes da República não tem nada que aceitar presentes de empresas. Está no Código de Ética da administração federal. Mulheres de presidentes da República, muito menos.

Presidentes da República tampouco devem dar passaportes de presente. E nem o mais conhecido brasileiro no mundo em todos os tempos deve ser agraciado com um documento diplomático.

Pelé foi citado pelo Globo como tendo se queixado de que só no Brasil ele precisava abrir a mala na alfândega. Justo ele, um Rei.

O cidadão Edson Arantes do Nascimento tem lá o direito de achar que certos privilégios lhe são devidos, tantas foram as alegrias que Pelé deu ao país. Inconcebível é o senhor Luiz Inácio da Silva achar que Lula pode, por exemplo, receber celulares e dar passaportes, tantas foram as esperanças com que acenou ao país.

Pena que, por complacência ou temor reverencial, a imprensa não tenha flagrado a posição de impedimento em que o presidente boleiro se colocou ao receber o agrado de um industrial e fazer outro a uma celebridade.

P.S. Na sexta-feira passada, a prefeita Marta Suplicy, em campanha pela reeleição, visitou uma feira de produtos e equipamentos ópticos (a Abióptica 2004). Foi brindada com meia dúzia de óculos de grife, além de um anel e uma pulseira. As prebendas valem pelo menos 5 mil reais.

Só O Globo, entre os principais diários, perguntou à assessoria de imprensa da candidata o que ela faria com os mimos. Resposta (sem aspas no original): A Prefeitura não tem qualquer norma que impeça as autoridades municipais de receberem presentes. Por isso ela decidiu ficar com os óculos que recebeu na feira.