Após cinco anos de suspensão, o Paquistão foi readmitido na Commonwealth, grupo formado pelo Reino Unido e por suas antigas colônias. A decisão, anunciada em 22/5, foi justificada pelo progresso democrático do país e por sua ajuda na luta contra o terrorismo. O Paquistão havia sido suspenso em 1999, por causa do golpe miitar que levou o general Pervez Musharraf ao poder. Agora, Musharraf terá que provar para uma população cética e para o resto do mundo que realmente teve êxito no respeito à democracia, afirma Juliette Terzieff [San Francisco Chronicle, 25/5/04].
Pelo menos por enquanto, os números mostram uma situação nada democrática. Apesar de o governo alegar que a imprensa pode trabalhar livremente, o Paquistão não ficou em uma boa posição em uma pesquisa divulgada no início do mês pela South Asian Free Media Association. Segundo os resultados da pesquisa, o país contabiliza 59 casos de assassinatos, prisões e ameaças contra jornalistas.
Já o relatório anual de 2003 da organização Repórteres Sem Fronteiras afirma que em um ano o Paquistão foi responsável por 12 prisões, 27 agressões e pelo menos seis ameaças contra jornalistas. A organização enviou uma cópia do relatório à Commonwealth.
Os Repórteres Sem Fronteiras também fazem um apelo ao secretário geral do grupo, Don McKinnon, para que seja feita uma intervenção com o governo paquistanês no caso da prisão de quatro jornalistas.
Os jornalistas do Paquistão costumam denunciar o lado negro da política do país. Analistas de mídia afirmam que a prisão dos repórteres representam um aviso para outros jornalistas que ousem fazer mais investigações.
Censura e maus tratos
As autoridades prenderam secretamente o jornalista Sami Yousafzai, que trabalha para a revista americana Newsweek. Yousafzai foi visto pela última vez em 21/4. Ele foi detido junto com a repórter americana freelancer Eliza Griswold e com Mohammad Salim, um motorista que havia sido contratado por eles. Oficiais de segurança interrogaram Eliza por algumas horas e depois a liberaram. Mas Yousafzai e Salim continuam presos e fora de comunicação. Nenhum membro de suas famílias ou advogado têm acesso a eles. Nenhuma acusação formal foi feita pelas autoridades, e o governo não diz o motivo da prisão e não entra em detalhes sobre o caso.
O ex-editor da seção de cartas do Frontier Post, Munawar Mohsin, foi condenado à prisão perpétua em julho de 2003. Mohsin é acusado de ‘selecionar’ e ‘publicar’ uma carta que, segundo as autoridades, insultaria o profeta Maomé, e por isso teria cometido uma blasfêmia e uma violação do código criminal do país. O jornalista foi preso em janeiro de 2001, no mesmo dia que a carta saiu no jornal.
Em agosto de 2003, o jornalista Rasheed Azam, que trabalha nas publicações locais Intikhab e Asap e é reconhecidamente um ativista dos direitos humanos, foi preso por distribuir pôsteres com a imagem de um soldado espancando jovens manifestantes. Durante a investigação do caso de Azam, foram feitas também referências a artigos escritos por ele que criticavam a polícia federal. Há notícias de que ele teria sido espancado nas sessões de interrogatório policial.
Desde abril de 1999, Rehmat Shah Afridi, ex-editor dos jornais diários Frontier Post e Maidan, está detido em condições deploráveis. O jornalista foi condenado à morte em 2001, por ‘tráfico e possessão de drogas’. Ele sempre se declarou inocente. Parte do material que servia como prova no caso de condenação de Afridi foi destruído em uma ação policial. O novo fato confirma que provavelmente o jornalista foi vítima de armação da Força Anti-Narcóticos, em vingança por matérias publicadas sobre o abuso de poder e corrupção na corporação. Afridi foi torturado e colocado no corredor da morte na prisão de Kot Lakhpat na província de Punjab.
Outro jornalista paquistanês, Khawar Mehdi Rizvi, que trabalhava para o jornal semanal francês L´Express, foi detido secretamente em dezembro de 2003, enquanto fazia uma reportagem sobre o Talebã com outros dois jornalistas franceses na fronteira com o Afeganistão. Rizvi foi solto sob fiança em 24/3. Mesmo assim, ele ainda deve responder pelas acusações de conspiração e perturbação da ordem pública, com o risco de ser condenado à prisão perpétua. Com informações de Repórteres Sem Fronteiras [25/5/04].