O modelo de atuação [ver ‘O pedágio do PT‘ (para assinantes), Veja nº 2156, de 17/2010] é idêntico ao famoso relatório do Ministério Público italiano, permanentemente levantado pelo lobby jornalístico de Daniel Dantas – especialmente a revista Veja – para atingir seus inimigos.
Esquematicamente, funciona assim:
1.
Começa o inquérito. Apresenta-se, então, uma testemunha dentro do instituto da ‘delação premiada’. Na condição de testemunha, fala o que quer.2.
No momento seguinte, cabe aos titulares do inquérito (procuradores federais) analisar tudo o que foi dito e considerar o que for consistente, jogando fora o que parecer inverossímil. Os elementos consistentes entram na denúncia; os inverossímeis fazem parte do copião.3.
A prova do pudim é simples: se deu o depoimento e ele não gerou um inquérito, é porque a autoridade ou concluiu que era falso ou não encontrou nenhuma prova que confirmasse o teor das acusações.4.
Quem banca o esquema, esconde essa informação do leitor e passa a divulgar o depoimento como se fosse oficial e aceito pelas autoridades. Dentro desse modelo, consegue-se qualquer coisa. Basta um fulano qualquer ir ao MP, declarar o que quiser, fazer a jogada que pretender. O MP não acata, mas divulga-se como sendo parte integrante do inquérito.O relatório italiano
Vamos relembrar, primeiro, o tal relatório italiano:
Um agente do serviço de segurança da Telecom Italia, Marco Bernardini, se apresentou espontaneamente ao MP italiano e passou a distribuir acusações a vários inimigos de Dantas.
Cabe aos condutores do inquérito avaliar se as acusações têm consistência ou se são manobras de uma das partes.
O MP italiano jamais levou a sério suas versões, tanto que nada foi incluído no inquérito final.
Mas o relatório servia para montar escândalos no Brasil e ser utilizado como fator de constrangimento dos adversários de Dantas. Como se recorda, o principal instrumento de Dantas nesse episódio – Diogo Mainardi –, mostrou-se tão empenhado na missão de dar vida ao depoimento, que chegou a levar o relatório para um juiz.
Aqui o capítulo de ‘O Caso de Veja‘ referente ao tema: ‘O lobista de Dantas‘. Narra-se com detalhes o papel de Bernardini e da tal secretária-tradutora que teria incluído até o nome de Lula no seu depoimento.
Confira trecho da entrevista com Angelo Jannone, ex-chefe de Segurança da Telecom Italia, sobre como o esquema operava:
Trecho 1 – Jannone diz que o inquérito começou com declarações mentirosas de fontes. No começo não conseguiu entender. Depois, ficou mais claro. No início de sua ‘colaboração’ com a justiça italiana, Bernardini ficou falando do Brasil. Ele não conhece o Brasil, nem tem cabeça refinada para falar o que falou. Imediatamente ele colocou nas suas declarações a idéia de uma Polícia Federal brasileira corrupta, de políticos corruptos, com Jannone como responsável. A coisa mais estranha é que no primeiro dia de interrogatório dele, entregou aos promotores, sem nada comentar, a famosa reportagem da Veja que falava de contas bancárias do presidente Lula, do chefe da Polícia Federal, Lacerda. Mas de forma estranha, sem comentar, como se outra pessoa tivesse dito a ele: se você vai lá, entrega isso.
Aqui o trecho da entrevista com Jannone.
O caso Funaro
Depois, se descobriu que o advogado de Bernardini – e da tal tradutora italiana – mantinha contato direto com Marcos Valério, o homem de Dantas para o ‘mensalão’.
Vamos agora aos pontos em comum com a atual capa de Veja:
1.
A testemunha-chave da capa também aceitou a ‘delação premiada’ e tem ligação com Daniel Dantas. É o doleiro Lúcio Bologna Funaro. Ele foi preso na Operação Satiagraha e um dos beneficiados pelo habeas corpus de Gilmar Mendes (clique aqui).2.
Os atingidos pela ‘delação’ são TODOS – tanto no caso italiano quanto no atual – adversários de Dantas.3.
Nos dois episódios, é a mesma revista Veja o veículo usado para transformar o depoimento em escândalo.******
Jornalista