Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Para ser um bom repórter

A ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, avaliou, em sua coluna de domingo [23/11/08], o que faz de um jornalista um bom repórter. Para ela, repórteres competentes são o coração de uma boa apuração. Se algo é notícia, eles têm de saber. Sem eles, o público não teria acesso às informações essenciais para uma democracia. Seja a matéria local, nacional ou internacional, ela tem de ser apurada por um bom repórter, defende Deborah.

O que define, então, um bom repórter? Curiosidade sem fim e uma necessidade profunda de saber o que está acontecendo, além da habilidade de ouvir uma pequena informação e segui-la. Quando a repórter Dana Priest obteve informações sobre o que viria a se tornar o escândalo do hospital militar Walter Reed, ela não pôde ignorá-las e, juntamente com Anne Hull, investigou com afinco as denúncias de maus tratos a veteranos de guerra do Iraque. Ambas têm outra qualidade fundamental para um bom repórter: empatia. Elas se importavam com os soldados e demonstraram habilidade em contar a situação de modo a tocar os leitores.

Energia e compromisso

Na opinião de Ben Bradlee, editor-executivo aposentado do Post, a qualidade mais importante de um repórter é a energia. ‘Eles têm que amar o que fazem; têm de ser sérios ao abrir portas, enfrentar obstáculos. A matéria é o que te guia, é parte de sua alma’. Repórteres devem ir onde a matéria está – mesmo que isto signifique ir a uma montanha no Afeganistão a cavalo, em meio à neve. Foi o que fizeram o repórter Keith B. Richburg e o fotógrafo Lucian Perkins, em 2001, para alcançar a linha de frente da guerra entre o Talibã e seus inimigos.

Além disso, os bons repórteres têm um compromisso com a pauta – o que implica, por vezes, arriscar a própria segurança, como fez o jornalista da AP Terry Anderson. Em visita ao Líbano devastado pela guerra, em 1985, Anderson foi seqüestrado e ficou seis anos e meio em cativeiro. Já Anthony Shadid, correspondente estrangeiro do Post e veterano em conflitos armados no Oriente Médio, chegou a ser ferido a tiros quando trabalhava para o Boston Globe. ‘Durante as guerras, o trabalho está lá. Eu luto com a dor do que você vê para dizer algo mais’, afirma. Shadid irá, em breve, para o Iraque. ‘Se não formos, a história não será divulgada. Ou então será, mas não da maneira que você crê que deveria ser. Acho que é uma mistura de responsabilidade, curiosidade e ambição. Também é uma obrigação. Somos um dos poucos jornais com recursos e ambição para ainda cobrir a guerra’.

Fontes de confiança

O veterano repórter do Post Bob Woodward – que ficou famoso com o caso Watergate – acredita que os bons repórteres não deixam a pressa e a impaciência prejudicá-los. Eles têm a disciplina de ir a múltiplas fontes e de obter documentação meticulosa – notas, calendários, memorandos. Bons repórteres são sagazes o suficiente para encontrar fontes nas quais podem confiar. Para isso, é necessário construir a confiança. Bons repórteres sabem como ter acesso a pessoas e documentos.

O repórter Keith Alexander, que escreveu sobre o caso de duas garotas encontradas mortas e escondidas no freezer de casa, passou dias analisando documentos judiciais para tentar entender por que a mãe delas, acusada pelo assassinato, teve permissão para adotá-las. Os documentos tinham histórias tristes das famílias biológicas das meninas e ele conseguiu ir até elas para obter uma visão mais profunda da tragédia. O primeiro compromisso de um repórter é ir atrás da história para os leitores, e esta é a razão de muitos aniversários perdidos ou casamentos desfeitos. ‘Ser repórter é uma vocação’, conclui Deborah.