‘Alô, New York Times? Eu gostaria de cancelar minha assinatura hoje. Não, não estou reclamando de sua cobertura do Oriente Médio, de seu tratamento a qualquer minoria étnica ou religião esquisita, e certamente não estou irritado com algum problema bobo sobre a entrega do jornal. Também não estou bravo com a fotografia repulsiva que vocês publicaram recentemente na primeira página ou com o cancelamento de minha seção favorita. Estou cancelando porque o formato do seu sítio na internet, que estreou ontem, é tão melhor que a edição impressa que eu decidi economizar os US$ 621,40 anuais que eu gasto atualmente com a assinatura’. [Jack Shafer, editor da revista eletrônica Slate, em 4/4/06].
O novo visual do NYTimes.com, anunciado no domingo com uma carta do editor Leonard M. Apcar, tem como objetivo tornar a navegação mais fácil, atrair a atenção dos leitores e fazê-los ter vontade de pular de um link para o outro, e mais outro e mais outro. A página inicial do sítio ficou mais ampla – para se adequar a monitores maiores – e as notícias e seções, mais organizadas. Jack Shafer nota que o jornalão conseguiu a proeza de unir, na internet, o mundo impresso e o online.
‘Primeiro, a página inicial lembra o visual de uma primeira página de jornal’, diz ele, priorizando as notícias entre as que são mais ou menos importantes. ‘Mas ao mesmo tempo, parece ser uma página de internet. A arquitetura das seções faz um trabalho melhor ao separar os conteúdos do jornal em categorias, como um sítio deve fazer’. Shafer repara também na facilidade de navegação entre o ‘Jornal de Hoje’, página que reproduz a organização do conteúdo da versão impressa do dia, e os comandos ‘Vídeo’ e ‘Tópicos do Times’, que reúnem notícias e materiais de referência dos mais variados temas. A seção ‘Mais Popular’ concentra os textos mais enviados por e-mail pelos internautas, os assuntos mais comentados nos blogs, e os temas mais procurados no sistema de busca do sítio.
Modelo de negócios
Shafer lembra que o NYTimes.com é gratuito, com exceção dos colunistas e temas específicos concentrados no programa pago TimesSelect – que pode ser assinado por US$ 49,95 anuais. Ele diz acreditar que a melhor estratégia para um sítio de notícias é conquistar o maior número possível de leitores e apoiar seus custos em anúncios publicitários, para que possa permanecer gratuito.
‘Eu suspeito que o Times siga outro modelo de negócios. Eu aposto que ele irá testar a disposição dos leitores em pagar por conteúdo movendo os limites do TimesSelect para frente e para trás e ajustando taxas de assinatura online’, comenta o editor da Slate. ‘Mas isso é no futuro. Em curto prazo, a única coisa que poderá me deter dos meus planos de cancelar minha assinatura é o Times tornar a edição impressa melhor e o sítio pior. Esta semana, o sítio está vencendo.’
O futuro é agora
James Cramer, em artigo na New York Magazine [10/4/06], também defende a idéia. ‘Eles deveriam fazer o jornal todo [no formato] digital’, já diz o título do texto. ‘Por que atrasar o inevitável? O meio digital não é o caminho do futuro; já faz parte do presente.’ A companhia apresentou queda de receita no primeiro trimestre de 2006, com aumento apenas no portal About.com, comprado no ano passado. Cramer lembra que, como anunciado há pouco tempo, o Times não mais publicará as tabelas de preços de ações em sua versão impressa. ‘O objetivo é cortar custos com impressão e aumentar o tráfego do excelente sítio do Times‘, diz ele.
O artigo afirma que a mudança das tabelas para a internet é apropriada, já que é cada vez menos importante ter em mãos preços congelados quando eles variam o dia inteiro – e a cobertura online varia junto com eles. ‘A rede não é melhor apenas para as tabelas de ações; é melhor para tudo’, defende Cramer.