Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Paulo Ricardo Moreira

‘Roteirista de filmes consagrados como ‘Central do Brasil’ e ‘Deus é brasileiro’, João Emanuel Carneiro mudou sua rotina depois que começou a escrever a novela ‘Da cor do pecado’, da Rede Globo. Estreando como autor principal, ele diz que não tem mais vida social nem lê mais, a não ser o próprio texto. Colaborador das minisséries ‘Os Maias’ e ‘A muralha’, Carneiro decidiu virar novelista e se desligar um pouco do cinema porque acha a TV um veículo aberto para histórias originais. A experiência, segundo ele, tem sido ao mesmo tempo assustadora e estimulante. ‘Estou dando a cara a tapa’, diz o autor, que acompanha o minuto a minuto do Ibope diariamente para saber o que está indo bem na novela: ‘O capítulo não é um quadro que a gente bota na parede.’

O autor João Emanuel Carneiro diz que o horário da novela não é ideal para polemizar sobre racismo

Como está sendo estrear como autor de novela?

JOÃO EMANUEL CARNEIRO: É uma coisa assustadora. Sua vida social acaba, porque não saio nem leio mais. Só leio meus textos. Você vive em função da novela. É muito aflitivo. Parece que a gente vai se esvaziar inteiramente.

O que você faz antes de começar a escrever?

CARNEIRO: Tenho um hábito. Não posso escrever de cueca ou de pijama quando acordo, porque escrevo muito mal. Não me levo a sério. Tenho que pôr a roupa, o sapato, a calça comprida, como se eu fosse sair para trabalhar. Senão, não escrevo direito (risos) .

Como é sua rotina?

CARNEIRO: Escrevo de 11h às 19h. Paro para assistir à novela. Depois, trabalho das 20h às 3h. Todo dia, sete dias por semana, não tem folga, nada. Deixei de ser burguês. É uma vida de estivador. É um trabalho tão inacreditável que acho uma judiação quando alguém fala mal dos autores.

Há autores que terceirizam a escaleta (com os diálogos e cenas principais) e a edição do capítulo, e outros que fazem tudo. E você?

CARNEIRO: Tenho três colaboradores (Vincent Villari, Ângela Carneiro e Vinícius Vianna) , mas concentro a autoria de tudo. Faço a escaleta e o texto final. É o meu método.

O fato de já ter colaborado em minisséries ajuda no processo de criação?

CARNEIRO: Já fiz escaleta para outros autores. Se não tivesse essa experiência de conduzir a trama, seria mais dramático. A diferença é que a novela é muito autoral. Estou dando a cara a tapa, o que é ao mesmo tempo estimulante e assustador. É uma história original, não uma adaptação.

Como foi trabalhar com Silvio de Abreu? Ele mudou muito sua história?

CARNEIRO: Silvio discutiu comigo os primeiro capítulos, a construção dos personagens. É um grande mestre. Ele aprimorou as idéias, porque a novela está muito fiel à sinopse. Silvio me ajudou no encaminhamento das tramas. Foi um trabalho de supervisão mesmo, não mudou nada.

Você já disse que a novela é um conto de fadas, com um homem e uma mulher diferentes entre si. Isso é pouco. O que mais há na história?

CARNEIRO: A trama está montada em cima do casal inter-racial, Preta (Taís Araújo) e Paco (Reynaldo Gianecchini) . É um conto de fadas moderno, levado muito a sério. O texto e a direção trazem a trama para o realismo. Quando este casal se separar, ela vai ter um filho mulato, herdeiro de uma fortuna. E Bárbara (Giovanna Antonelli) também terá um filho, um falso herdeiro. Haverá uma passagem de tempo de oito anos. É o segunto ato. Aí vou abordar a questão ética e racial por intermédio das crianças. Essa é a história que quero contar.

Mas você vai polemizar sobre racismo?

CARNEIRO: Não, o horário não é ideal. Só dá para polemizar às oito da noite. O público das sete é muito difícil, assiste a novela fazendo outras coisas. A história tem que ter frescor e agilidade para prendê-lo.

E como vai fazer isso?

CARNEIRO: É o desafio maior, porque tenho que fazer uma trama interessante o tempo todo. Senão, o público se desinteressa. A novela tem um núcleo dramático e um cômico. Não gosto de meio-termo, da paródia. Acho que esvazia, gosto de fazer tragédia ou comédia. O drama é o fio condutor, a comédia é apenas o enchimento.

Quando decidiu que queria ser autor de novela?

CARNEIRO: Tenho necessidade de contar minhas histórias. É o meu prazer. Por isso, quis virar autor de novela e sair um pouco do cinema. Um filme é um pouco o desejo de um diretor. No caso do Walter (Salles Jr.) , fizemos histórias que os dois queriam contar, mas isso é raro. Quis fazer novela depois de trabalhar com adaptações literárias em minisséries. A TV é um campo aberto para histórias originais.

Você trabalha mais com a intuição ou a teoria? Existe uma receita para fazer uma novela dar certo?

CARNEIRO: É difícil responder. É um sofrimento. Quem diz que tem prazer ao escrever novela, que é fácil e tranqüilo, não deve fazer nada direito. Você vive alienado, desconectado do mundo. Fazer novela é coisa para macho, porque é muita pressão.

Você se sente pressionado pela audiência?

CARNEIRO: Eu mesmo me pressiono. O capítulo não é um quadro que você bota na parede. É um jogo que o autor estabelece com o público. Acompanho o minuto a minuto do Ibope todo dia. Quero saber o que está dando certo e em que cena a audiência cai.

O que achou das quatro indicaçãos do filme ‘Cidade de Deus’ ao Oscar?

CARNEIRO: Acho supermerecidas. O roteiro é precioso. O filme é um divisor de águas no cinema, estabeleceu um novo tipo de interpretação. A favela é tão verdadeira que não dá mais para fazer favela caricata. O naturalismo da interpretação é o diferencial do filme.

Quando a novela acabar, você pretende continuar como autor principal?

CARNEIRO: Não fiz a novela com o propósito de seguir uma carreira de autor na Rede Globo. Fiz porque queria contar uma história. Mas não volto a ser colaborador. Depois, posso continuar ou não fazendo novela.’

 

TV / DESENHO NACIONAL

André Silveira

‘TVs poderão ter que veicular desenhos nacionais’, copyright MMOnline (www.mmonline.com.br), 4/02/04

‘A Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados deverá analisar, nos próximos meses, o Projeto de Lei 1821/03 do deputado Vicentinho. Pelo texto, as emissoras de televisão de sinal aberto e fechado deverão veicular desenhos animados produzidos no Brasil. Conforme o projeto, no primeiro ano de vigência da lei, 10% dos desenhos veiculados pela emissora deverão ter produção nacional. O percentual aumenta 10 pontos a cada ano, até chegar a 50% no quinto ano de vigência da legislação.

O projeto também define como de produção nacional o desenho animado feito por empresa ou organização sediada e operando no Brasil, criado e escrito por roteirista brasileiro e que empregue maioria de diretores, técnicos em geral domiciliados no País. E, ainda, que tenham como conteúdo: os princípios éticos, morais e de cidadania; entretenimento e cultura; cultura nacional e regional brasileira; a história do Brasil e seus expoentes; os heróis nacionais brasileiros; a promoção de igualdade entre brancos e negros, homens e mulheres e a promoção da solidariedade e da paz.

Segundo o autor do projeto, o objetivo é resgatar o patriotismo entre as crianças brasileiras.’Hoje, os desenhos veiculados estimulam a competição e o comportamento anti-social. As crianças aprendem a valorizar a cultura norte-americana, em detrimento da nossa. É importante valorizar as nossas riquezas’, argumenta. O deputado também ressalta que no Brasil há muitos artistas competentes, que não têm espaço. ‘Quando o projeto foi apresentado, o autor da Turma da Mônica, Maurício de Souza, entrou em contato comigo para dizer que esta estimulado’, comenta.

O deputado também disse que pretende dar uma atenção especial à tramitação do projeto, que tem como relator o deputado Íris Simões (PTB-PR). ‘Eu já conversei com o relator e ele me assegurou que irá apresentar o projeto em breve’, adianta Vicentinho.

Caso seja aprovado na Comissão de Ciência e Tecnologia, o projeto seguirá para a Comissão de Constituição e Justiça e Redação. Se não houver rejeição e nem requerimento de parlamentares para apreciação em Plenário da Casa, o texto seguirá para a análise do Senado Federal.’

 

PERFIL / LUCIANO HUCK

Mariana de Almeida Santos

‘A pinta é de carioca, mas o paulistano não pára de trabalhar’, copyright Jornal do Brasil, 8/02/04

‘Ele é uma máquina. Aos 33 anos, o apresentador e empresário Luciano Huck não pára de criar e de abraçar projetos, todos bem-sucedidos. Sua mais recente faceta estreou nos cinemas no último dia 30. Depois de participações especiais nos filmes Xuxa Requebra e Xuxa e os Duendes, este paulistano com pinta de carioca, que há cinco anos escolheu São Conrado para viver, faz par romântico com Angélica em Um show de verão. O novo reforço ao currículo farto agradou em cheio:

– As maiores riquezas conquistamos com novas experiências. Seja a de abraçar um tubarão ou de encarar o desafio de protagonizar um filme. Foi fantástico, e pude contar com a ajuda de todos da equipe, principalmente com a do diretor Moacyr Góes.

A polivalência é palpitante. Há mais de um ano, Luciano trabalha para consolidar uma ONG, o Instituto Criar de TV e Cinema, com o objetivo de capacitar profissionalmente, para televisão e cinema, jovens de baixa renda.

– É um projeto muito bonito – orgulha-se Luciano.

O Instituto contará com oficinas de projetos, leitura criatividade, expressão e digital, além de cursos de inglês. Terão também aulas técnicas de luz, câmera, áudio, edição, produção, computação gráfica, cenografia, figurino, cabelo e maquiagem.

Sempre de bem com a vida – o bom humor é flagrante, seja através da TV ou pessoalmente -, Luciano mantém-se imune às miudezas do cotidiano. Dificilmente algo o tira do sério. Paulistano de sangue e carioca de coração, mudou-se para o Rio em 1998, convidado pela Rede Globo, para apresentar o Caldeirão do Huck. Duzentos programas na sacola, o riso corre frouxo:

– Sinto que contribuí para a história da televisão. Orgulho-me de ver outras emissoras investindo no sábado à tarde. É uma vitória de toda a equipe.

Sem tempo para respirar, Luciano apresenta, além do Caldeirão, dois programas de rádio: o Torpedo, ao lado de Fabiana Saba e Marcos Mion, aos domingos, na Jovem Pan; e outro, às sextas-feiras, na Paradiso.

Dos empreendimentos diversificados, a música não fica de fora. Em 2002, lançou o selo fonográfico Jóia, especializado em compilações lounge e chill out. Em seu terceiro volume, o selo teve o primeiro contrato com artista assinado neste ano. Celso Fonseca, autor de Slow Motion Ipanema (música feita para o comercial estrelado por Gisele Bündchen) fará parte do quarto volume que o Jóia irá lançar, em parceria com a Universal Music.

Nas raras folgas que esta agenda superlotada lhe permite, Luciano gosta de curtir a cidade pela qual diz ter adoração.

– Adoro o Rio. Hoje, não conseguiria mais tirar esta cidade da minha vida. É como se estivesse em um constante parque temático – desmancha-se.’

 

TV RECORD

Keila Jimenez

‘Record começa a acertar suas contas com o MP’, copyright O Estado de S. Paulo, 9/02/04

‘A Record já começou a exibir, sem fazer alarde, vinhetas de cunho social em seu horário comercial (das 7 horas à 0h30) seguindo determinação do Ministério Público Federal. Além das vinhetas, sempre relacionadas ao respeito dos direitos humanos, a emissora também já começou a produzir reportagens sobre trabalhos sociais, Justiça e Cidadania, que deverão ser exibidas no Cidade Alerta durante dois meses, pelo menos. Esse é o preço que a emissora está pagando por ter exibido e reexibido cenas de um suicídio no noticiário policial nos dias 10 e 11 de abril do ano passado.

A veiculação dessas vinhetas e reportagens são as bases principais do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado pela emissora na sede da Procuradoria da República. Esse termo evitou que o Ministério Público entrasse na época com uma ação contra a emissora por causa da exibição do suicídio.

Apesar de ter começado a cumprir o acordo na surdina, a Record escolheu a dedo o tema de sua primeira vinheta. É justamente sobre suicídio – o motivo do puxão de orelha que a rede levou do MP – e mostra o trabalho voluntário do Centro de Valorização da Vida ( CVV).

Mas a vinheta, que tem 30 segundos e está no ar há 20 dias, tem ido ao ar em horário pouco nobre: por volta das 7 horas da manhã, quando o número de televisores ligados é bem inferior ao da faixa do Cidade Alerta. Uma equipe foi montada na emissora para a realização dessas vinhetas – serão quatro, ao todo – e reportagens.

Pena – No Ministério Público ninguém ainda foi informado da veiculação das vinhetas. O combinado é que a rede submeteria à aprovação do MP todo o material produzido para cumprir o TAC. Isso não ocorreu.

Apesar de não ter um prazo definido para o cumprimento do TAC, a Record sabe que o Ministério Público está de olho em sua programação.

Em caso de não cumprimento desses termos, a emissora poderia ser processada, dessa vez, criminalmente, com chances de pagar multa diária de R$ 1 mil.’