Irrisório, mas não irrelevante: o prestigioso diário Valor Econômico está entregando a alguns assinantes um exemplar extra todos os dias. Há alguns meses. Não é acidente, nem erro, é recurso usado em determinadas datas, edições e temporadas por concorrentes como a Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo, Época, Veja e IstoÉ. Nunca durante tanto tempo.
Prodigalidade? Prêmio da empresa a um grupo de fidelíssimos leitores? Não. Forma, digamos, indireta de inflar a audiência e engambelar os institutos verificadores de circulação.
Errado? Sim. Ilícito? Não.
Impróprio: uma empresa jornalística não pode adotar práticas comerciais indevidas mesmo que não haja comunicação entre a Diretoria Comercial e a Diretoria da Redação. A empresa é a mesma, a credibilidade do produto não pode ser comprometida por uma comercialização desabonadora. Os escrúpulos para produzir o conteúdo jornalístico devem ser idênticos aos adotados no resto da operação até a sua entrega ao consumidor final.
Burla inocente
O empulhado não é o leitor, ele apenas passa a ter mais papel para levar ao recipiente dos recicláveis. Quem está sendo tapeado é o anunciante. Ou a agência de publicidade que o representa, porque está pagando por um anúncio uma quantia maior do que deveria. E se a agência e a auditoria não estrilam, estão sendo cúmplices de má prática.
Valor Econômico é um dos mais qualificados, senão o mais qualificado dos diários do país. É manufaturado por uma empresa que tem como sócios dois respeitáveis conglomerados de comunicação (Globo e Folha). O gerente que autoriza esses trambiques certamente receberá um bônus pelo aumento da circulação, também o seu superintendente e também o seu superior imediato.
Nenhum deles percebe que a pequena e inocente burla alcança uma empresa-instituição que não pode ser colocada sob suspeição. Alcança, sobretudo, um batalhão de jornalistas cuja função é denunciar prevaricações. Pequenas e grandes.