Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

PHA recupera conteúdo de blog no iG

Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.


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Conversa Afiada


Quinta-feira, 20 de março de 2008


DEMISSÃO
Conversa Afiada


PHA recupera arquivos que iG quis deletar


‘O jornalista Paulo Henrique Amorim e a PHA Comunicações, titulares do ‘site’ noticioso conhecido como Conversa Afiada ajuizaram uma ação cautelar contra o Portal IG de busca e apreensão de todo o conteúdo produzido pelo ‘site’. O motivo da ação foi um rompimento abrupto e inexplicado do contrato então vigente com o IG. Na qualidade de ‘servidor’ e ‘hospedeiro’ do site de Paulo Henrique, foi exigido do Portal a devolução de todo o conteúdo de texto, sons e imagens produzidos desde o inicio do contrato.


Na mesma hora em que jornalista teve seus contratos cancelados, os acessos ao IG e aos conteúdos foram cancelados o que o obrigou à tomar as medidas urgentes de obtenção de seu conteúdo, sob pena de não poder ter a íntegra do seu trabalho disponível para si próprio e seus leitores ou usuários do site. Mais grave ainda foi o fato de o Portal IG ter desabilitado todos os acessos aos conteúdos através das ferramentas de busca como Google e outras. Com estas providências o trabalho do jornalista desapareceria ou ficaria inacessível.


Tudo isso ocorreu no final da tarde do último dia 18. O juiz da 33ª. Vara Cível da Capital concedeu no dia seguinte, ontem dia 18, medida liminar de ‘busca e apreensão’ de todo o banco dados produzido por Paulo Henrique Amorim nos computadores do IG e em seus servidores, bem como requisição de força policial e ordem de arrombamento, caso houvesse resistência do Portal. A ordem foi cumprida neste dia 19, a partir do início da manhã, quando o Oficial de Justiça, acompanhados de técnicos da empresa PHA e dos advogados do jornalista executaram a ordem judicial. Durante horas todo o conteúdo de Paulo Henrique Amorim foi transferido para computadores e mídias do jornalista.


O Portal IG tem cinco dias para contestar a cautelar. O jornalista e a PHA terão agora 30 dias para ajuizarem a ação principal. Por determinação judicial o processo corre em segredo de justiça. Os advogados do jornalista estudam agora quais os pedidos que serão incluídos no processo de natureza indenizatória pela rescisão do contrato por danos materiais e morais, além de eventuais multas previstas no instrumento. A condução do processo se encontra a cargo do escritório Bitelli Advogados, especialista nas áreas de comunicação e convergência de mídias.’


 


 


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 20 de março de 2008


ELEIÇÕES
Eliane Cantanhêde


Impressões nos EUA


‘WASHINGTON – Bastam alguns dias nos EUA, um deles com centenas de diplomatas e jornalistas de quase 40 países na sede da OEA, para confirmar duas impressões forjadas à distância: as eleições norte-americanas estão muito emboladas, e o republicano John McCain tem boas chances.


Pela lógica, qualquer candidato republicano seria carta fora do baralho depois de sete anos de George W. Bush, de cinco da Guerra do Iraque e no meio de uma crise.


Como política e eleições não têm lógica, ou têm uma muito particular, McCain é competitivo. Conseguiu apoio entre os correligionários e, aparentemente, distanciar sua imagem da de Bush na opinião pública. Veterano de guerra, conservador, maduro, parece muito mais a cara dos EUA do que os concorrentes: um negro e uma mulher.


Barack Obama, com a sua biografia cinematográfica e o discurso da ‘esperança’, é o fenômeno da vez. Hillary Clinton é tida como a mais preparada (intelectualmente e pela experiência de ativa ex-primeira-dama). Mas eles gastam mais energia se engalfinhando nas prévias democratas do que se precavendo contra o real perigo.


Candidatos bons ontem ou amanhã não o são necessariamente hoje. A realidade de crise, a ameaça de recessão e as intensas discussões sobre a enrascada do Iraque são elementos fundamentais para formatar o ‘candidato ideal’.


Biografias comoventes mobilizam multidões em campanhas, mas nem sempre se convertem em candidaturas vitoriosas em urnas que sacolejam por crises. É bom brincar, não brincar com fogo.


Há ainda a expectativa de uma chapa Hillary-Obama, esta, sim, considerada ‘imbatível’ por quem acompanha a eleição de perto, às vezes de dentro. Uma chapa ‘três em um’: o eleitor vota em Hillary e leva Obama e Bill Clinton. Mas isso é só torcida por aqui. Ainda tem muito jogo até o resultado.’


 


ECONOMIA
Kenneth Maxwell


O tolo na colina


‘OS ECONOMISTAS conservadores que há muito defendem a idéia do ‘risco moral’ estão vivendo uma semana de negação. Um exemplo seria David Malpass.


Ele ocupou posições econômicas nos governos Reagan e Bush (pai).


Em abril de 2007, escreveu na ‘Forbes.com’ que ‘governos causam recessões, não o setor privado’. Também argumentou que ‘uma desaceleração no setor de habitação (…) poderia ser facilmente absorvida por meio do crescimento de outras áreas da economia’.


Ele é (ou era) economista-chefe do Bear Stearns, o banco de investimento norte-americano resgatado no final de semana pelo banco central dos Estados Unidos, que abriu uma linha de crédito de US$ 30 bilhões para que o JPMorgan Chase pudesse adquirir a instituição ao preço ínfimo de US$ 2 por ação -e na prática assumiu a responsabilidade pelas carteiras de investimentos sem valor administradas pelo banco.


Eis como Malpass definiu ‘risco moral’ em um artigo: ‘[O risco moral] representa as conseqüências negativas de proteger demais as pessoas contra prejuízos (…) no setor financeiro, isso acontece quando os bancos centrais oferecem liquidez adicional durante e depois de uma crise financeira, estabilizando o sistema financeiro, mas recompensando as pessoas que tenham assumido riscos superdimensionados’.


Bem… Sim!


George W. Bush também sempre defendeu os mercados desregulamentados até que o mercado desabe, claro. Mas governos falidos vêm praticando esse velho truque desde que surgiram os governos organizados. Antigamente, o processo era conhecido como ‘degradação da moeda’. A casa da moeda secretamente reduzia o teor de metais preciosos nas moedas que produzia; e posteriormente ficava tentando imaginar por que o valor da moeda despencava.


Agora os bancos centrais imprimem dinheiro para resgatar especuladores, e os governos permitem que as moedas percam valor. Mas, para o patrimônio do cidadão comum, esses resgates e remendos produzirão os mesmos ruinosos resultados que sempre produziram: uma queda no patrimônio líquido das famílias médias, causada pela queda dos ativos pessoais, poupança e fundos de pensão e pela necessidade de enfrentar uma alta na inflação.


Assim, por que George W. Bush está feliz a ponto de dançar nos degraus da Casa Branca? Talvez ele tenha se lembrado da melodia e da letra de ‘Fool on the Hill’, o velho clássico dos Beatles: ‘Dia após dia, sozinho na colina/ O homem do sorriso tolo se mantém completamente imóvel/ Mas ninguém quer conhecê-lo/ Vêem que ele não passa de um tolo.’


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.


Tradução de PAULO MIGLIACCI’


 


TELES
Janio de Freitas


Um certo lugar na história


‘OS ARRANJOS no governo para levar à compra da Brasil Telecom pela Oi/Telemar, apesar do vigente impedimento legal, aceleram-se rumo à história. Onde esse negócio vai figurar como um dos mais escabrosos no gênero. Se, como trama, iguala as privatizações do governo Fernando Henrique, faz a sua com escancaramento que os artífices e beneficiários daquelas não foram capazes de ousar, só evidenciados ou confirmados com a divulgação de ‘grampos’ ilegais, mas benfazejos.


A maneira de criar um procedimento administrativo com aparência convencional, em substituição ao ato presidencial já combinado para alterar a proibição vigente, é uma seqüência de artifícios que não resistiriam nem a um exame de moralidade feito por Fernandinho Beira-Mar. Para evitar o constrangimento criado pelas notícias que lembravam ser a Oi/Telemar, principal beneficiária do negócio, a aplicadora de alguns milhões para capitalizar e cobrir prejuízos da empresa de um filho de Lula, o governo enveredou por desvios fantasistas que, a cada passo, só tornam a operação mais reprovável.


São passos escancarados (a Folha publicou ontem mais dois, um assinado por Elvira Lobato, outro por Humberto Medina), mas todos protegidos na Câmara e no Senado por um silêncio virginal. Alguém ainda se perguntaria o que e quem faz os políticos brasileiros manterem ouvidos e olhos sempre fechados a uma operação tão merecedora de escândalo nacional? E nacional até porque seu resultado será a apropriação por uma só empresa, a Oi/ Telemar, de todo o território nacional, excetuado apenas São Paulo incompleto.


Os passos mais recentes para a pretensa proteção de Lula são autodenunciantes, caso faltassem precedentes de mesma clareza. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, que deixou registrada na imprensa sua discordância da compra, agora foi feito peça-chave dos artifícios. Coube-lhe fazer um pedido à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para encaminhar, à Presidência da República, uma proposta de mudança na legislação, abrindo-a ao acúmulo de domínio territorial e operacional da Oi/Telemar. Mas pedido em razão de quê? Mudança de opinião, estudos técnicos do ministério? A saída não poderia ser mais viva e simplória: ‘a pedido das empresas’.


Lavadas biblicamente as mãos de Hélio Costa, Ronaldo Sardenberg, presidente da Anatel, meteu as suas e o nome na operação. Aceitou no conselho da agência a incorporação de José Zunga de Lima, que, apesar de petista e cutista, é gerente de Relações Não-Governamentais da Brasil Telecom (imagina onde estaria, se fosse gerente de relações governamentais). O conselho mais iluminado por Zunga é que vai receber de Ronaldo Sardenberg, ‘para decidir’, a proposta técnica ‘criada na agência’ em atenção ao ‘pedido’ do Ministério das Comunicações.


Lula, pode-se prever, ficará muito surpreso e indeciso, quando receber a sugestão que dará a sócios do seu filho o negócio de um punhado de bilhões. Embora, antes da surpresa, já tenha uma dúvida a respeito: há sugestões diferentes sobre o truque para evitar que faça pessoalmente a mudança da legislação, sendo possível um ato desse seu poder tanto para o Ministério das Comunicações como para a Anatel. E, de repente, um probleminha entra em discussão: se ficar concluído que essa transferência, para enfrentar melhor possíveis recursos judiciais, deve passar pelo Congresso, a repentina rebelião parlamentar contra medidas provisórias seria um tropeço para o negócio. Não, é claro, por oposição de parlamentares, que doadores e contribuintes merecem toda consideração. Mas porque o último lance da operação ficaria entre um lerdo projeto ou uma fragilidade formal -inconseqüente, como os processos do gênero, mas politicamente incômoda.


O lugar na história, porém, ninguém tasca.’


 


Projeto libera empresas de telefonia para operar TV a cabo


‘O projeto de lei nº 29, que deverá ser votado no início de abril na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, libera as operadoras de telefonia para oferecer TV por assinatura por meio de cabo. De acordo com a avaliação do deputado Jorge Bittar (PT-RJ), relator da proposta, a entrada das teles deverá aumentar o número de assinantes de aproximadamente 5 milhões para até 30 milhões. ‘Com a entrada das teles, o mercado vai ficar muito mais competitivo.’


Se aprovado na comissão, o projeto poderá ir ao plenário da Câmara, caso haja requerimento assinado por, no mínimo, 51 deputados. Depois, precisará tramitar no Senado. Se virar lei, revoga a atual Lei do Cabo, de 1995, que impede que concessionárias de telefonia fixa usem cabos para oferecer TV paga. Hoje, as teles só podem oferecer esse serviço por meio de satélite ou microondas.


O projeto também estabelece cotas para veiculação de produções com conteúdo nacional na TV paga. Segundo o texto a ser votado, 10% da programação chamada ‘qualificada’ (não contam telejornais, jogos de futebol, programas religiosos, concursos, televendas e programas políticos), que vai ao ar no horário nobre, deverá ser nacional. Segundo Bittar, isso equivale a, aproximadamente, dois filmes nacionais por semana, por canal.


Além disso, todos os pacotes de canais deverão oferecer, no mínimo, 25% de ‘canais BR’. São considerados ‘canais BR’ os que têm 40% de conteúdo nacional na programação ‘qualificada’ e 20% de produção independente. Como exemplo, ele citou o GNT, da Globosat.


Atendendo a pedido do setor de TV e rádio, o limite de participação das teles em empresas que atuam na fase de produção de conteúdo e na programação caiu de 49% para 30% do capital.


Ainda segundo o projeto, a Ancine (Agência Nacional do Cinema) passa a regular as atividades de produção, programação e montagem de pacotes de canais.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Vale, Petrobras etc.


‘Por todo lado, ‘Bovespa despenca’. No UOL, ‘Vale e Petrobras puxam’; no Terra, ‘Petrobras e Vale’; no Globo Online, ‘Vale e Petrobras’; no Valor Online, ‘Petrobras e Vale’. No topo da busca de Brasil no Google, a Bloomberg acrescentou a Cesp. O site do ‘Wall Street Journal’ acrescentou a Tele Norte Leste.


Nas análises em geral, de qualquer maneira, foram as commodities como o minério de ferro e o petróleo, da Vale e da Petrobras, que concentraram a atenção. O ‘WSJ’ se perguntava, abaixo da manchete, ontem no site: ‘A bolha das commodities está estourando?’.


A TARTARUGA E A LEBRE


Como se imunes ao sobe-e-desce, seguem as reportagens que dão a economia brasileira em ascensão. No ‘WSJ’ de papel, por exemplo, ‘De repente, um ressurgimento está a caminho no Brasil’, no setor imobiliário. O ‘Financial Times’, em texto crítico dos 100 dias de Cristina Kirchner, sublinha o contraste com o Brasil, que ‘consegue em um mês o que a Argentina obtém em um ano’, em investimento externo.


Já a ‘Economist’ vai além, em ‘A tartaruga e a lebre’, e explica ‘por que esses brasileiros fracos estão alcançando a economia mais rápida da Argentina’. Arrisca que o país chegará à frente da vizinha, na corrida pelo crescimento.


A CRISE DE WALL STREET


Com capa em que o ‘edifício maravilhoso das finanças modernas’ aparece rachado, a nova ‘Economist’ defendeu o resgate do Bear Stearns pelo Fed, questionou o excesso de ‘riscos’, mas sugeriu ‘não condenar o sistema inteiro’. Ele ‘é útil demais’, só que ‘as regras precisam mudar’


DE BEN A LEBRON


A modelo Gisele Bundchen, que no final do ano passado surgiu até em editorial do ‘WSJ’ por simbolizar a derrocada do dólar, em oposição a Ben Bernanke, o presidente do Fed, agora ocupa a mídia em uma dupla mais amena, pela capa da ‘Vogue’ de abril. Está com LeBron James, jogador americano e ‘fenômeno cultural’


PRAZERES DO BRASIL


Sob o título ‘Joys of Brazil’, a modelo e celebridade dos EUA Veronica Webb postou no blog do ‘New York Times’ que sua válvula de ‘escape’ cotidiana é capoeira. Diz que as brasileiras são famosas por suas ‘bundas’, em português. E que seu esforço já rendeu.


‘UNDERGROUND’


Por outro lado, espalhou-se por sites dos EUA a notícia da condenação de um médico brasileiro, parte de uma ‘rede subterrânea de operações plásticas’. Ele foi considerado culpado pela morte de uma mulher dois anos atrás, no ‘porão’ de uma casa nos EUA.


CONVERSA AFIADA 2


O iG rescindiu contrato e tirou do ar o site Conversa Afiada. Mas foi só ‘por oito horas e 58 minutos’, postou Paulo Henrique Amorim, agora em www.paulohenriqueamorim.com.br. Desde então o tema é prioridade de sites e blogs de mídia. Mino Carta postou sua saída do portal.


Para registro, o site Nomínimo, também cortado do iG, ano passado, sobrevive bem como coletivo informal, os Nomínimos, em pelo menos sete blogs espalhados na web.’


 


REINO UNIDO
Folha de S. Paulo


Diários britânicos publicam desculpa a pais de Madeleine


‘Os tablóides britânicos ‘Daily Express’ e ‘Daily Star’ publicaram na primeira página de suas edições de ontem desculpas ao casal Kate e Gerry McCann. Os McCann são os pais da menina inglesa Madeleine, que desapareceu em Portugal, em maio do ano passado, quando estava prestes a completar 4 anos de idade.


O pedido de desculpas e a doação de 550 mil libras (cerca de R$ 1,8 milhão) à campanha ‘Find Madeleine’ (Encontre Madeleine) fazem parte de um acordo do casal com a empresa Express Newspapers, proprietária dos jornais.


Os McCann haviam entrado com um processo contra o ‘Daily Express’ e o ‘Daily Star’, além de suas edições dominicais, afirmando que mais de cem textos publicados nesses periódicos os haviam difamado. A companhia decidiu fechar acordo com o casal na Justiça, envolvendo a publicação do pedido de desculpas e a doação à campanha.


O ‘Daily Express’ admitiu, na primeira página, que ‘alguns textos nos jornais sugeriram que o casal provocou a morte de sua filha, Madeleine, e que a escondeu’. O ‘Daily Star’ publicou suas ‘sinceras desculpas a Kate e Gerry McCann pelas reportagens sugerindo que os dois eram responsáveis, ou poderiam ser responsáveis, pela morte de sua filha e por encobrir o caso’.


Desculpas semelhantes devem ser publicadas nas próximas edições do ‘Sunday Express’ e do ‘Sunday Star’.


Em nota lida na corte por seu porta-voz, Clarence Mitchell, os médicos Kate e Gerry McCann afirmaram estar ‘satisfeitos que a Express Newspapers tenha admitido a total falsidade das numerosas, grotescas e extremamente difamatórias alegações que seus veículos publicaram’.


Suspeitos


Desde o desaparecimento de Madeleine, num balneário no Algarve, Portugal, os tablóides ingleses, assim como a imprensa portuguesa, têm publicado diversos textos sobre o caso, supostamente baseados em informações da polícia portuguesa, encarregada das investigações. Acusações aos McCann pelo desaparecimento da própria filha começaram a aumentar depois que o casal de médicos foi considerado formalmente suspeito pelos policiais portugueses, que aventaram a hipótese de que os dois a teriam matado acidentalmente, com tranqüilizantes, e escondido seu corpo.


‘A Express Newspapers lamenta ter publicado essas alegações, extremamente sérias, porém sem fundamento’, afirmou o advogado da companhia, Stephen Bacon.


Kate e Gerry negam que tenham qualquer envolvimento com o sumiço da filha. Eles contam que, no dia 3 de maio de 2007, deixaram a menina, junto com os dois irmãos de 2 anos, no apartamento do resort em que estavam hospedados, na Praia da Luz, e saíram para jantar num restaurante próximo. Quando retornaram ao quarto, dizem, a menina não estava lá.


Apesar de considerados suspeitos pela polícia, os McCann não chegaram a ser denunciados, e as investigações ainda não foram concluídas.


‘Nós esperamos que as autoridades portuguesas suspendam nossa condição de indiciados [formalmente suspeitos] logo, para que todos possam se concentrar em achar nossa linda menininha’, pediram os McCann em sua declaração.


A equipe policial que apura o desaparecimento da menina teve o comando trocado no fim do ano passado.


Celebridades


O ‘Find Madeleine’, cujo fundo receberá as 550 mil libras, faz parte da campanha lançada pelos McCann para encontrar Madeleine e contou com o apoio de celebridades como J. K. Rowling, autora da saga Harry Potter, e o jogador de futebol David Beckham. O papa Bento 16 também fez apelos pela menina e abençoou o casal.


Segundo a administração da campanha, o fundo já havia arrecadado mais de 1 milhão de libras em outubro de 2007.


Com agências internacionais’


 


FRANÇA
Folha de S. Paulo


Carla Bruni-Sarkozy protesta contra intriga sobre o marido


‘A cantora e compositora Carla Bruni-Sarkozy, mulher do presidente francês, publicou ontem no ‘Le Monde’ longo protesto contra o semanário ‘Le Nouvel Observateur’, por ter informado que, em 2 de fevereiro, pouco antes de seu casamento, Nicolas Sarkozy enviou à ex-mulher Cécilia Ciganer-Albéniz um torpedo em que dizia que ‘cancelaria tudo’ caso ela voltasse para ele.


Bruni nega a veracidade da informação e também discorre sobre o mau jornalismo a seu ver praticado pela revista de oposição.


A informação sobre o torpedo foi publicada na edição on-line do ‘Nouvel Obs’ pelo jornalista Airy Routier. Sarkozy, numa iniciativa inédita na recente história dos presidentes franceses, anunciou que processaria a publicação. Só não o fez porque Routier enviou carta se retratando.


A primeira-dama menciona longamente normas internas do ‘Nouvel Obs’ que exigem ‘maior rigor e a maior honestidade’ na apuração das informações.


‘Não serão publicadas informações de origem desconhecida. A vida privada das pessoas será respeitada’, diz uma das diretrizes citadas.


No texto ao ‘Le Monde’ ela afirma não ter ‘quaisquer lições de ética profissional a ensinar a quem quer que seja’, mas se diz revoltada porque o jornalista faltou com a verdade.


NA INTERNET


Leia o artigo de Bruni-Sarkozy em www.folha.com.br/080792′


 


‘ERROS’


Folha de S. Paulo


Espanha reconhece ter ‘errado’ no tratamento oferecido a brasileiros


‘O Ministério de Assuntos Exteriores da Espanha reconheceu ontem ter havido ‘erros’ no tratamento dado a passageiros brasileiros, o que iniciou uma crise entre os dois países. Um porta-voz da pasta admitiu à agência Reuters que o ministério não tinha ciência ‘dos erros até que eles começaram a chamar a atenção da imprensa e da opinião pública’.


‘O caso está em vias de ser solucionado’, afirmou, ao confirmar uma reunião de subsecretários dos dois lados no final do mês. ‘O primeiro passo está dado, que é a conversa’, completou, sem dar detalhes das medidas que podem ser adotadas.


Em janeiro e fevereiro, as autoridades do país barraram 880 brasileiros que tentavam entrar na Espanha, segundo dados do Ministério do Interior. Em 2007, houve em média oitos pessoas inadmitidas por dia; em fevereiro deste ano, foram 15 por dia.


‘Sabemos que existe imigração ilegal e não a defendemos, mas nos incomodou o fato de que foram recusadas muitas pessoas com toda a documentação necessária’, disse o porta-voz. ‘Sendo assim, agora estamos trabalhando para a reunião [que ocorrerá em Madri]. Esperamos que tudo termine bem.’


Ele negou que a conduta espanhola poderia ser resultado de pressões da União Européia. ‘Não há pressão.’


A chancelaria espanhola não mostrou sinais de preocupação, pois considera que há vontade política em ambas as partes e isso se evidenciou em uma conversa entre o ministro espanhol Miguel Angel Moratinos e o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.


Em uma ligação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, também foi mostrado interesse de resolver a situação.


Ontem, Lula disse que a crise é grave, mas está sendo resolvida diretamente com o governo espanhol. Ele recebeu o presidente da Comissão Européia, o português José Manuel Durão Barroso, mas disse que prefere tratar o tema com Zapatero.


‘A questão da imigração nós já estamos tratando com a Espanha. O presidente Durão Barroso nos ajudou muito quando tivemos problemas [na imigração] em Portugal. Agora temos que tratar diretamente com a Espanha, porque é outro problema e está mais grave’, afirmou.


‘O Celso Amorim já está tratando disso. E como somos amigos, tenho certeza que os espanhóis têm pelo Brasil a mesma admiração que a gente tem pela Espanha. Somos amigos pessoais do Zapatero. Acho que essas coisas vão ser resolvidas logo.’


Procurado, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou que não comentaria as declarações do porta-voz espanhol.


Com Reuters, Folha Online e Sucursal de Brasília’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Emissoras farão ‘degustação’ de TV digital


‘O relançamento da TV digital em São Paulo ocorrerá em maio com grande campanha publicitária chamando o telespectador para visitar ‘pontos de degustação’ da nova tecnologia.


Essa é a estratégia do Fórum SBTVD (Sistema Brasileiro de TV Digital), entidade que reúne emissoras e fabricantes de televisores, para tentar alavancar a tecnologia, que, lançada em dezembro, ainda não decolou.


Segundo Luís Olivalves, coordenador de promoção do fórum, uma agência de publicidade será convidada em breve para conceber e coordenar a campanha. A Família Nascimento, criação da Globo para o lançamento em dezembro, continuará ancorando a comunicação, apesar das críticas de emissoras concorrentes.


Instalados em locais de grande circulação, como shoppings, os ‘pontos de degustação’ contarão com vários televisores, para que o telespectador perceba as vantagens da TV digital. Por enquanto, há apenas melhor imagem. A mobilidade ainda é incipiente. A interatividade só deve chegar em 2009.


O fórum fez pesquisas que revelam grande interesse pela TV digital. Mas fabricantes detectaram muita desinformação _telespectadores acham que o selo ‘HDTV’ que aparece na tela já significa que ele recebe TV digital. ‘A gente percebeu que só campanha pela TV não é suficiente para ensinar todos os benefícios. Por isso, faremos degustação’, diz Olivalves.


FACTÓIDE 1 O presidente Lula não precisará do rádio de pilha que ganhou anteontem de um político do Mato Grosso do Sul para acompanhar os jogos do Corinthians pela Série B do Campeonato Brasileiro em 2008. Todos os jogos do clube na Segundona serão televisionados.


FACTÓIDE 2 A Globo finaliza acordo para transmitir 19 jogos do Corinthians fora de seu campo e outros três em São Paulo. Essas partidas serão irradiadas para o Estado de São Paulo e, eventualmente, também para Brasília. A Rede TV! exibirá 30 jogos da Série B em rede nacional, vários deles com Corinthians. O canal pago SporTV também terá Série B. E os Premiere, canais de ‘pay-per-view’, transmitirão para todo o país os jogos da Segundona.


CRISE CONTINUA 1 A Record adiou para 2009 a estréia de ‘Vendetta’, novela de Lauro César Muniz vetada por Tiago Santiago (autor de ‘Caminhos do Coração’), consultor de teledramaturgia da emissora. Assim, apenas ganhou tempo para administrar um problemão _os demais autores estão solidários a Muniz.


CRISE CONTINUA 2 A grade da Record ficará assim: a atual fase de ‘Caminhos do Coração’, às 22h, terminará em 31 de maio. Em 2 de junho, ‘Caminhos do Coração – A Evolução’, a segunda temporada, entrará às 21h _no mesmo dia e horário da estréia da nova novela das oito da Globo. Nessa data (2/6), ‘Amor e Intrigas’, hoje às 21h, muda para as 22h. Fica nesse horário até 23/6, quando estréia sua substituta, ‘Chamas da Vida’.’


 


Série investiga a trajetória de Jesus


‘‘A Vida Desconhecida de Jesus’ é o nome do episódio do especial ‘7 Dias de Reflexão’, que o Discovery Channel exibe hoje, às 22h. Até o dia 23, a série, que desde segunda-feira aborda temas sobre religião, revela alguns mistérios da existência de Jesus.


Em ‘A Vida Desconhecida de Jesus’, o explorador e especialista em textos bíblicos Kent Dobson viaja pelo Himalaia, pela Europa e pela África com o objetivo de reconstituir passagens da vida do filho de José e Maria não citadas na Bíblia. Para isso, ele avalia, por exemplo, teorias sobre os evangelhos.


Já em ‘Os Primeiros Anos’ (amanhã, às 22h), o programa examina importantes acontecimentos a respeito da vida e da morte de Jesus. Entre eles, a sua concepção e a história dos Reis Magos.


O episódio ‘A Missão’ (dia 22, às 22h) foca o personagem Jesus. São examinadas sua mensagem aos judeus, o sermão na montanha, a história dos 12 discípulos e as últimas horas de sua vida etc. Por meio dessa análise, o documentário defende a idéia de que Jesus nunca teve a intenção de evitar sua execução.


No último episódio do especial ‘7 Dias de Reflexão’ -intitulado ‘Os Últimos Dias’ (dia 23, às 22h)-, a aparência física de Jesus é reconstituída. Além disso, são mostradas teorias sobre a Páscoa, a crucificação e a ressurreição.


7 DIAS DE REFLEXÃO


Onde: Discovery Channel


Quando: de hoje a dom., às 22h’


 


CINEMA
Sérgio Rizzo


Visita de diretora a baile inspirou filme


‘É provável que nenhum técnico ou ator soubesse, mas a diretora de ‘Chega de Saudade’ voltou diariamente para casa, na primeira semana de trabalho, com a sensação desagradável de que ‘não tinha filme nenhum’ ali. ‘E não podia dividir isso com a equipe’, lembra.


Em casa, ela encontrava conforto no ombro do marido, que vinha a ser o roteirista do longa. ‘Era um misto de colo e ‘chacoalhão’, afirma ele. ‘Falava para ela: ‘Você não queria fazer esse filme? Pois agora vai e faz. Pode até ficar fraco, mas faz’.’


A parceria profissional entre Laís Bodanzky, 38, e Luiz Bolognesi, 42, já rendeu o longa ‘Bicho de Sete Cabeças’ (2001) e os projetos de exibição itinerante Cine Mambembe e Cine Tela Brasil, mas ‘Chega de Saudade’ talvez seja o que melhor traduza a simbiose entre trabalho e casamento.


‘Quando conheci a Laís, ela queria fazer um filme com um personagem que era motorista de Kombi e freqüentava um salão de baile’, afirma Bolognesi. Eles namoravam havia um ano, ‘em 1995 ou 1996’, quando foram dançar no Clube Piratininga. ‘Aconteceram com a gente coisas que acontecem no filme.


Fiquei com ciúme porque ela dançou com um ‘tiozinho’, no caminho para o banheiro; fui olhado por duas mulheres de 60 e poucos.’ A partir daí, ‘o salão tomou conta’ da história.


Única noite


Deixaram o projeto para depois, no entanto, porque era complexo. Quatro anos atrás, a idéia começou a caminhar em direção ao filme que estréia amanhã, com a ação ambientada em um salão de baile de São Paulo, numa única noite.


‘Durante a filmagem, peguei minha pastinha com anotações feitas após aquela primeira visita, quando ainda estava na faculdade’, diz Laís. ‘Foi interessante rever o material porque observei que estava filmando a primeira impressão. O filme é a minha primeira lembrança do salão, que não mudou.’


Outra casa, a extinta Panelinha Baiana, também foi adotada como referência. ‘Era um lugar pequeno da Vila Madalena, que tocava forró e brega, freqüentado pelos garçons do bairro’, afirma Luiz. ‘Nosso filme tem um clima, que é do Panelinha Baiana.’


Os jovens personagens de ‘Chega de Saudade’, interpretados por Paulo Vilhena e Maria Flor, não foram inspirados, como esse relato talvez sugira, na experiência do casal de realizadores. Na primeira versão do argumento, o rapaz era ajudante do motorista da Kombi. Depois, virou músico da banda. Por fim, técnico de som -a ‘única pessoa entediada’ no lugar, segundo Laís. A moça, para representar um olhar estranho ao baile, seria uma estudante de jornalismo. Terminou como a namorada do técnico.


Bolognesi aponta ‘O Jantar’ (1998), de Ettore Scola, e ‘Short Cuts’ (1993), de Robert Altman, como inspirações. Laís menciona ‘O Gosto dos Outros’ (2000), de Agnès Jaoui, ‘O Gato Sumiu’ (1996), de Cédric Klapisch, e ‘Cinema, Aspirinas e Urubus’ (2005), de Marcelo Gomes. O que eles têm em comum? ‘Pequenos acontecimentos de conseqüências profundas’, resume Bolognesi.’


 


FOTOGRAFIA
Folha de S. Paulo


Mostra reúne fotos de atrizes em papéis que nunca viveram


‘A fotógrafa Vânia Toledo clicou grandes atrizes brasileiras em cena, ou melhor, em uma nova cena. A exposição ‘Mulheres Espetaculares’, que entra em cartaz hoje na Caixa Cultural (pça. da Sé, 111, tel. 0/xx/11/ 3321-4400; de ter. a dom., das 9h às 21h; até 20/4; entrada franca) reúne 30 imagens em preto-e-branco de atrizes como Fernanda Montenegro, Marília Pêra, Nicette Bruno, Beth Goulart e Aracy Balabanian interpretando para a câmera um personagem que até então não tinham vivido.


Toledo revisita aqui seu livro ‘Personagens Femininas’, premiado pela Associação Paulista de Críticos de Arte. A mostra atual reúne imagens feitas em 1984 e 1991. Em ambas ocasiões, as atrizes posaram para Toledo como um personagem que gostariam de interpretar.


Em outra exposição, a fotógrafa da Folha Lenise Pinheiro apresenta imagens de atrizes que viveram o mesmo papel lado a lado. Elas podem ser vistas no teatro Cosipa Cultura (av. do Café, 277, tel. 0/ xx/11/5070-7018; seg. a qui., das 11h às 18h; sex. e sáb., das 14h às 21h; dom., das 15h às 20h; até 1º/4; grátis).’


 


LITERATURA
Sylvia Colombo


Editoras Geração e Ediouro se separam


‘As editoras Geração e Ediouro anunciaram ontem o fim da parceria operacional que funcionava havia pouco mais de um ano. A decisão pela separação foi da Geração, que passa a compor agora, com as editoras Leitura, de Belo Horizonte, e Jardim dos Livros, de São Paulo, um novo grupo editorial.


Juntas, a Geração (SP) e a Ediouro (RJ) lançaram 14 títulos durante o período em que o acordo durou, sendo o mais bem-sucedido ‘Mulheres de Cabul’, de Harriet Logan.


‘A Ediouro está ficando muito grande, lançando e comprando selos. Nesse contexto, a Geração foi desaparecendo. Prefiro ser pequeno com visibilidade do que ser minúsculo dentro de um conjunto tão grande’, disse o editor Luiz Fernando Emediato, proprietário da Geração.


Metade desta foi vendida à Leitura, especializada em livros infantis. Juntas, então, ambas compraram a Jardim dos Livros, cujo catálogo reúne títulos de negócios e política. As três começam a operar juntas até o final deste mês.


Até o fechamento desta edição, a Ediouro, procurada, não quis comentar o fim da parceria.’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 20 de março de 2008


RELIGIÃO E CIÊNCIA
Demétrio Magnoli


Luzes e sombras


‘O processo inquisitorial de Galileu é uma chave crucial de nossa interpretação da modernidade. A narrativa do confronto prometéico entre a ciência, que é progresso e luz, e a religião, que é retrocesso e sombras, está inscrita na nossa mente como uma tinta indelével. É por isso que nos surpreendemos diante da informação de que Charles Darwin consolidou seu interesse pela história natural enquanto estudava teologia em Cambridge – e mais ainda ao sabermos que escreveu A Origem das Espécies como um crente em Deus. Todos nós, e não só os comunistas, encaramos com certa naturalidade a curiosa metáfora de Karl Marx, que identificou a revolução como ‘locomotiva da História’, porque tendemos a admitir que há uma História, assim, com maiúscula, cuja trajetória se acomoda aos trilhos da ferrovia do futuro. O culto ao progresso, que é antes de tudo um culto à razão científica, configura a religião pagã da modernidade.


Os pólos da narrativa caricatural da modernidade emergiram na forma dos dois inquisidores da polêmica sobre as pesquisas com células-tronco embrionárias. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, alertou para a inauguração de uma ‘época do obscurantismo e do atraso’ caso o STF venha a julgar inconstitucionais as pesquisas. Já o ex-procurador-geral da República Claudio Fonteles reiterou a tese da Igreja segundo a qual a vida está presente na ‘célula autônoma’ que ‘surge, por movimento de dinamismo próprio, independente de qualquer interferência da mãe ou do pai’. Atrás das posições polares se adivinham os contornos da próxima guerra de valores, que será sobre o aborto.


Será uma lástima se o debate público cair prisioneiro na armadilha de dois fundamentalismos. O articulista Reinaldo Azevedo, um católico, sugere que há espaço para nuances. Ele aceita, com relutância, a permissão das pesquisas com células embrionárias, mas se opõe por princípio à legalização do aborto. No seu blog, chama a atenção para a intervenção da bióloga Mayana Zatz, que estabelece uma distinção essencial. ‘No aborto, há uma vida dentro do útero de uma mulher. Se não houver intervenção humana, essa vida continuará. Já na reprodução assistida, é exatamente o contrário: não houve fertilização natural. Só há junção do espermatozóide com o óvulo por intervenção humana. E, novamente, não haverá vida se não houver uma intervenção humana para colocar o embrião no útero.’


A CNBB elevou o combate ao aborto à condição de eixo de sua Campanha da Fraternidade. Sob o sistema político que a separa do Estado, a Igreja fala legitimamente para os seus fiéis – e exprime um fundamentalismo que concerne à sua própria natureza. O ministro Temporão, por outro lado, é um agente do Estado, do qual se espera alguma coisa diferente da militância política fundamentalista. Quando ele se veste com a fantasia de porta-voz da ciência e, em nome da saúde pública, afasta liminarmente as objeções éticas levantadas pelos religiosos, revela apenas a estupidez da razão.


Sob Temporão, a esfera da saúde pública foi isolada, por uma muralha de insensatez, das esferas da moral e da cultura. Um experimento do programa de DST/aids instalou em escolas públicas máquinas de distribuição de preservativos para adolescentes a partir dos 13 anos, enquanto os postos de saúde oferecem pílulas do dia seguinte a jovens da mesma faixa etária. As iniciativas passam por cima de prerrogativas das famílias, mas as críticas dirigidas a elas são fulminadas pelo ministro como meras expressões de moralismo anacrônico.


Os totalitarismos do século 20 se engajaram no culto à ciência e, paralelamente, nos projetos de abolição ou estatização da religião. Na URSS, a psiquiatria oficial definiu como distúrbio paranóico as idéias de luta pela verdade e pela justiça e os dissidentes foram internados em hospitais para doentes mentais. Na Alemanha, o teísta Hitler deflagrou o empreendimento eugênico de fabricação da raça pura. As sociedades democráticas separam a política da religião, mas não convertem a ciência num imperativo absoluto, incorporam ao debate público os valores de ordem ética e refletem sobre o sentido moral dos princípios religiosos.


A tentação da eugenia se esconde atrás da manipulação de células embrionárias e, por isso, há um nítido interesse público na regulamentação dessa esfera da atividade médico-científica. A crítica ética ao aborto não é uma manifestação medieval de ‘homens conservadores que prescrevem como a sociedade deve controlar o corpo das mulheres’, na frase do ministro-militante, mas um componente da indagação existencial dos seres humanos. Temporão parece incapaz de entender isso – que, no entanto, é claro não apenas para religiosos, mas também para agnósticos.


O ministro da Saúde se distingue positivamente sobre o pano de fundo de um Ministério nascido no caldo do fisiologismo. O médico sanitarista e planejador de saúde pública declarou, na hora da posse: ‘O Ministério da Saúde vai fazer política de Saúde; não fará política na Saúde.’ A sua cruzada pelo aborto, contudo, é exatamente ‘política na Saúde’ – e má política. Há argumentos ponderáveis para sustentar uma flexibilização da legislação sobre o aborto e o próprio Temporão apresenta alguns deles. Mas não é seu papel atuar como ideólogo hipnotizado por certezas absolutas, que desqualifica sem cessar a opinião divergente.


Desconectado da realidade cultural brasileira, Temporão declarou que a descriminalização do aborto, um fenômeno essencialmente europeu, é ‘uma tendência mundial’. Em novembro, seu Ministério se articulou às ONGs feministas para fazer aprovar um relatório pró-aborto na 13ª Conferência Nacional de Saúde, mas uma ampla maioria de participantes derrotou a proposta oficial. Agora, sua cruzada pode arrastar o País para um plebiscito cheio de som e fúria, cujo desenlace só o ministro não adivinha.’


 


GOVERNO
Ana Paula Scinocca


Hage vê preconceito em notícias sobre tapioca


‘A tapioca comprada pelo ministro do Esporte, Orlando Silva, com um cartão corporativo continua a render polêmica. Segundo o ministro Jorge Hage, da Controladoria-Geral da União (CGU), a tapioca foi explorada por ‘preconceito’ da mídia. Segundo ele, ninguém teria cobrado explicações do colega, se ele tivesse comido um hambúrguer.


Hage foi questionado pelo deputado Vic Pires (DEM-PA) sobre a compra da tapioca. ‘Se tivesse sido um sanduíche do McDonald’s, um hambúrguer, talvez não tivesse tanto apelo. Alguém ia denunciar?’, argumentou Hage.


‘Sei que vamos encontrar algo muito além de uma tapioca de R$ 8 na rubrica de alimentos. A compra de alimentos em Brasília, seja tapioca, McDonald’s, Piantella (restaurante freqüentado por políticos) ou caviar, é a mesma coisa. Só estou afastando um comentário preconceituoso em relação à tapioca’, afirmou. Ele ressaltou em que se a tapioca tivesse sido comprada fora de Brasília não haveria nenhuma irregularidade.


O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) reagiu aos comentários sobre preconceito. ‘Se preconceito houve, foi do próprio ministro (Paulo Bernardo) que disse que essa seria a CPI da Tapioca.’’


 


REINO UNIDO
O Estado de S. Paulo


Jornais pedem desculpas a pais de Madeleine


‘Os jornais britânicos The Daily Express e The Daily Star, do grupo Express, publicaram ontem na primeira página um pedido de desculpas aos pais da menina britânica Madeleine McCann – que desapareceu em Portugal no ano passado -, após terem indicado que os dois estariam envolvidos no desaparecimento da filha. A Express foi processada por Gerry e Kate McCann por ‘difamação grotesca’. Após acordo na Justiça, os jornais publicaram o pedido de desculpas e se comprometeram a pagar 550 mil libras (R$ 1,8 milhão) ao casal.


‘Sabemos que não há provas para sustentar outra teoria que não seja a de que Kate e Gerry são inocentes e não têm relação com o desaparecimento de sua filha’, diz o texto dos jornais.


Madeleine desapareceu em 3 de maio de 2007, poucos dias depois de completar 4 anos, de seu quarto em um hotel em Praia da Luz, na região de Algarve. Semanas depois, a polícia portuguesa declarou os pais suspeitos pelo desaparecimento.


Gerry e Kate sempre negaram as acusações. O casal afirmou que o dinheiro será doado ao Fundo Madeleine, dedicado às buscas da menina.’


 


TV POR ASSINATURA
O Estado de S. Paulo


Teles terão limite na produção para TV paga


‘O deputado Jorge Bittar (PT-RJ) decidiu propor um limite de 30% – e não mais de 49% – para a participação das empresas de telefonia nos mercados de produção e programação de conteúdo para TV por assinatura. Bittar é relator de três projetos de lei que tratam de novas regras para o setor de produção, programação e distribuição de conteúdos de TV. Pela nova proposta, porém, as empresas de telecomunicações poderão ter participação de 100% no mercado de distribuição e de montagem de pacotes de canais.’


 


CINEMA
Luiz Carlos Merten


Chega de Saudade e o encanto da palavra


‘É um filme sobre um salão de danças, sobre o tempo e personagens solitários, que buscam afirmar, no fugaz instante em que rodopiam pelo salão, a própria vida. Essa poderia ser uma definição sucinta de Chega de Saudade, o novo filme de Laís Bodanzky, que estréia amanhã em 31 salas de São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Brasília. Laís trabalha novamente sobre um roteiro de Luiz Bolognesi, seu parceiro na arte e na vida, autor do roteiro de Bicho de Sete Cabeças e pai de seus dois filhos. Ela está feliz da vida, mas exaurida. ‘Em todas as suas etapas, Chega de Saudade foi mais complexo e, nesse sentido, difícil do que o Bicho. Estou cheia de expectativa, mas também cansada. Se você me pedir alguma definição sobre o que vou fazer a seguir, não conseguiria pensar em nada nem teria coragem de embarcar imediatamente em outra aventura desse porte. Daqui a um mês ou dois, talvez.’


Laís e Luiz conversam com o repórter do Estado no bar do Anexo do Espaço Unibanco, na Rua Augusta. Daqui a pouco, eles vão atravessar a rua para participar – somente como espectadores – de um encontro de BiD, autor da trilha, com o público, mediado pelo jornalista Christian Peterman. Todas essas características referidas no começo do texto – o baile, o tempo – induziram muita gente a fazer a associação mais óbvia, justamente com O Baile, filme de Ettore Scola, de 1983. O diretor e roteirista italiano foi uma referência, sim – Luiz Bolognesi o coloca no panteão de seus roteiristas preferidos -, mas o filme que Laís e Luiz tomaram como paradigma foi outro, O Jantar, que Scola realizou 16 anos mais tarde. ‘Quando percebemos que o princípio dos dois filmes era o mesmo, estudamos O Jantar. Decupamos cena por cena, e O Jantar terminou sendo a nossa referência. Ambos começam mostrando a chegada das pessoas ao restaurante e ao salão de baile. Acompanham tudo o que se passa lá dentro, no salão e nos bastidores. E, depois, ambos vão mostrando as pessoas que abandonam o lugar, até ele ficar deserto.’


Uma referência não significa dizer que Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi copiaram Scola e seu ‘jantar’. Digamos que o cineasta italiano lhes ajudou a resolver certas dificuldades intrínsecas ao projeto (e ao tipo de narração sutil proposto pelo novo filme). Na verdade, todas as pontes que Laís e Luiz fazem entre seu filme e o de Scola são válidas, mas o repórter arrisca outra interpretação. É um filme sobre dança, sobre tempo, solidão, sobre vários personagens marcados pela experiência de uma única noite, num mesmo espaço – nenhum deles sai daquele salão do jeito que entrou -, mas Chega de Saudade é, no limite, um filme sobre a palavra. Laís e Luiz entreolham-se. Como? François Truffaut fez diversos filmes – construiu uma obra inteira – para dizer que o amor se constrói na oposição entre o gesto impulsivo e a palavra consciente. O gesto é freqüentemente impulsivo em Chega de Saudade, a palavra pode ser consciente (mas nem sempre). Os extremos são fornecidos por dois personagens emblemáticos – o de Paulo Vilhena e o de Stepan Nercessian.


Paulinho vive uma relação meio institucional com Maria Flor. São jovens, belos, mas ele usa a palavra para agredir, para tentar dominar. A relação de Nercessian com Cássia Kiss é mais subversiva – ela chega a dizer que não quer prendê-lo, porque na gaiola o passarinho não canta. Nercessian possui o que se poderia chamar de ‘lábia’. Ele é um encantador da palavra. Usa-a para seduzir e, efetivamente, possui essa força sobre a mulher – alguma coisa que vem da experiência e que o jovem, ainda imaturo, precisa adquirir. ‘Que lindo!’, exclama Laís. ‘Nunca ninguém viu o filme dessa maneira e ela me encanta porque valoriza ainda mais o trabalho do Luiz, e só eu sei quanto ele é importante.’


Chega de Saudade chamava-se, inicialmente, União Fraterna, como o salão de danças na Lapa, em que foi filmado. Ao salão vão alguns jovens, mas a maioria é formada por um público mais maduro. A origem do projeto é antiga, anterior a Bicho de Sete Cabeças. Naquela época, Luiz e Laís já tinham a idéia de um filme sobre um burocrata, um senhor que freqüentava um salão de danças. O projeto não andava, eles não sabiam direito como lidar com ele. Surgiu Bicho, a dupla foi arrebatada e o filme virou uma das obras-farol do cinema da Retomada, período que começa com Carlota Joaquina, Princesa do Brazil, de Carla Camurati, em 1995. Depois do Bicho – que é 2000 -, o projeto do ‘velho’ voltou, mas aí Laís e Luiz já estavam mais maduros e ele percebeu que a melhor parte da vida do personagem era o salão de danças. Se era assim, por que não fazer logo o filme sobre o salão?


Luiz escreveu cinco versões do roteiro de Chega de Saudade. A sexta foi a filmada. Qual era a maior dificuldade? ‘É um filme sobre um espaço. Não tem um personagem principal. Possui vários personagens que evoluem por meio de pequenos gestos e situações. Não há uma grande história. Tudo é mais sutil do que no Bicho’, ele avalia. Laís sabia disso, mas admite que ficou desconcertada na primeira semana de filmagem. Chegou a dizer a Luiz que achava que eles não iam conseguir. ‘Eu filmava um dia inteiro e chegava em casa com a sensação de que não ocorria nada no filme.’ Na segunda semana, ela já sabia como mostrar a sutileza dos personagens (e da história, que é tênue, mas existe). O desafio continuou com o elenco. Grandes atores contracenam com os autênticos freqüentadores do União Fraterna, que receberam preparação de Sérgio Pena, com quem Laís havia trabalhado no Bicho. As dificuldades, em todos os níveis, foram estimulantes. A pergunta que não quer calar – Laís e Luiz são pés-de-valsa? ‘Não somos grandes dançarinos, mas a gente adora dançar. No começo, íamos muito ao Panelinha Baiana, um salão em Pinheiros que agora virou estacionamento’, conta Luiz. O lugar era um centro de brega e forró. ‘Tocava muito Reginaldo Rossi’, lembra Laís. Claro que ele não podia faltar em Chega de Saudade.’


 


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Nem Ettore Scola foi melhor falando de solidão e tempo


‘Passaram-se já oito anos desde Bicho de Sete Cabeças, o longa (de 2000) que colocou a diretora Laís Bodanzky e o roteirista Luiz Bolognesi no mapa do cinema brasileiro. No intervalo até chegar a Chega de Saudade, eles tiveram dois filhos, criaram um projeto de cinema itinerante, realizaram um documentário sobre a revolução de 32. Fizeram muita coisa – e amadureceram. Eles próprios admitem que, do roteiro à realização e à montagem, Chega de Saudade foi sempre mais difícil de fazer do que Bicho. Foi um desafio, no qual se saíram muito bem.


Na entrevista ao lado, Laís e Luiz contam como O Jantar, filme de Ettore Scola (de 1999), lhes serviu como referência. Ambos possuem vários personagens – nenhum principal -, cujas histórias vão se ligando de forma muito sutil. Parece que não ocorre muita coisa, mas tudo e nada são limites muito tênues. Há todo um aspecto ‘barraqueiro’ no salão de danças de Chega de Saudade. As pessoas brigam, se expõem na pista e nos bastidores. Ninguém sai daquele salão da mesma forma como entrou.


É um filme cruel? Sem dúvida. Todos aqueles grandes atores e atrizes estão se misturando aos anônimos freqüentadores do salão e interpretando personagens solitários, velhos, mal-amados. Mesmo os jovens da trama (Paulo Vilhena e Maria Flor) estão em crise. Betty Faria reinventa-se, após Bens Confiscados, e mostra coragem e talento como essa mulher que chega a pagar um garoto para dançar com ela, só para não ficar ‘encalhada’ no salão. Cássia Kiss é genial passando da ansiedade à raiva e à compreensão.


O que faz com que uma pessoa não dance, numa noite como aquela? Mau hálito ou não saber dançar, mas as coisas são mais complexas que isso. Entre a chegada e a saída do salão, existem muito conflitos e uma forma de se comunicar, de usar a palavra – o grande tema de Chega de Saudade -, cujos limites são os personagens de Paulo Vilhena e Stepan Nercessian. Direção, elenco, coreografia, trilha – tudo se integra num mesmo movimento. Foi um filme difícil de escrever, de filmar. Poderia ser difícil de montar, mas Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi não poupam elogios ao montador Paulo Sacramento, que transformou o que poderia ser complicado numa atividade prazerosa.


Há algo mais na presença de Paulo Sacramento, que tem essa produtora chamada Olhos de Cão. Sacramento é ligado ao chamado ‘cinema de invenção’. Agora mesmo, a Olhos de Cão está resgatando a figura (e o cinema) de Jairo Ferreira, por meio de um DVD duplo que recoloca na roda os curtas e longas de invenção do crítico e cineasta que tinha orgulho de ser chamado de udigrudi. Não é que Laís e Luiz representem um cinema mais tradicional, ou ‘industrial’. Bicho de Sete Cabeças é corajoso, Chega de Saudade é cruel (e terno). Mas eles têm prazer em contar histórias, em filmar gente. Sacramento e seus amigos também filmam gente, mas talvez privilegiem a investigação da linguagem. O casamento feliz ajuda a fazer a grandeza de Chega de Saudade. Naquele salão não existe preconceito. Dançam velhos e moços, negros e brancos, ricos e menos ricos. Elza Soares solta a voz em Não Deixe o Samba Morrer – mas não é só o samba que está querendo viver ali dentro -, Reginaldo Rossi canta o veneno que uma mulher pode injetar no sangue de um homem. Nem Ettore Scola conseguiu ser melhor em O Jantar.’


 


FOTOGRAFIA
Simonetta Persichetti


O retrato como forma de revelação


‘Se existem alguns temas inerentes à contemporaneidade – ou pós-modernismo, seja lá como quiserem chamar – é o do retrato, do auto-retrato, do conhecimento. E são justamente essas as questões abordadas pelas duas exposições da Pinacoteca do Estado: Retratos de Um Auto-Retrato, de Pablo di Giulio, e Do Outro Lado, de Vivian Lembo. Claro que retrato, auto-retrato ou mesmo autoconhecimento não são novos nas expressões artísticas. São temas que sempre fizeram parte da história da arte, assuntos centrais nas discussões acadêmicas, nos debates, nas exposições. Mas nos últimos anos a questão do corpo, do individualismo, do retrato, do auto-retrato, da narração de experiências pessoais adquiriu – ou parece ter adquirido – importância dentro das galerias, museus, exposições e palestras.


Já se tornou lugar-comum dizer que todo retrato é, na verdade, um auto-retrato. Como afirma a historiadora e pesquisadora Annateresa Fabris em seu livro Identidades Virtuais, ‘o indivíduo assemelha-se ao infinito a outras imagens de si mesmo, é uma cópia de uma cópia, não importa se real ou mental’. Pode ser. Desde que nos coloquemos como pessoas únicas, caso contrário, todo retrato é igual a qualquer retrato.


Pablo di Giulio optou pela primeira opção. Com 90 imagens – curadoria de Diógenes Moura -, que se iniciam nos anos 80 e vão até o ano passado, Pablo procura nos outros o que existe em si próprio. Não de forma convencional, nem simples. Ele ousa. Ele extrapola suas possibilidades. Os retratados não são pessoas comuns, homens que perpassam na nossa frente, mas personalidades, pessoas responsáveis ‘pela produção artístico-cultural de seu tempo’, como escreve o pesquisador Rubens Fernandes Junior no catálogo da exposição. Talvez aí possamos encontrar um problema. Ele só se querer ver em pessoas que para ele são importantes num determinado circuito e não no homem pelo homem. Mas isso não tira a essência e a competência de seus retratos.


Argentino de nascimento, há mais de 40 anos vivendo no Brasil, Pablo de Giulio iniciou seu percurso nas artes plásticas nos anos 80. Ano onde começam a ser mostradas suas fotos nesta exposição. O que ele procura é encontrar o que de alguma maneira procuramos esconder. Sair do que apresentamos. Como se cada sua fotografia fosse um auto-retrato acéfalo em que o fotógrafo não aparece, mas se coloca na cena destacando por meio de ângulos, tomadas, luzes e cores, o que ele acredita que se torna relevante para ele.


Afinal, se o retrato é a descrição e o status de determinada pessoa dentro de um contexto sócio-histórico, o auto-retrato nada mais é do que uma encenação. Todos os retratados representam frente de uma câmara. Se somos fotografados é porque vale a pena ser imortalizados. Esta parece ser a tônica do retrato. Mas no trabalho de Pablo de Giulio, além de todas essas questões, o que prevalece e seus retratos trazerem até nós é a simplicidade e muitas vezes a timidez de pessoas reconhecidas pela mídia.


Linha parecida perseguida, por forma diferente, pela psicanalista e fotografa Vivan Lembo. Ela apresenta 35 imagens (curadoria de Rosely Nakagawa) de diversos locais do mundo onde o homem aparece ou procura ser visto por meio de sua essência, de seus gestos. Ao contrário de Pablo di Giulio, Vivian não vai atrás do conhecido ou reconhecido, mas atrás de um ser que, como afirma a curadora, ‘não se explica, não tem seqüência, não tem legenda, nem data, local ou justificativa’. Numa época em que cada intenção é estuda, em que cada movimentação é preconcebida, em que tudo é muito igual, Vivian ainda busca a essência desse homem. Fruto de sua formação como psicóloga e psicanalista, ao olharmos as imagens de Vivian é como se estivéssemos sentados vendo as pessoas desfilarem à nossa frente. Quase um estudo de caso.


Como escreve em texto da mostra Diógenes Moura: ‘A poética de cada imagem enquadra sensações, algumas vezes metafóricas, onde um retrato que não é um retrato nos faz imaginar a quem pertence àquela vida naquele instante…’ Por isso também o nome Do Outro lado onde várias possibilidades são oferecidas. Olhar além das máscaras, por trás das câmaras, além do visível. Tudo vale. Vivian nos convida para um jogo em que o importante não é desvendar, mas se encontrar. Como ela disse em entrevista por telefone ao Estadão: ‘Toda imagem é autoconhecimento. Aliás, acho que toda forma de expressão é autoconhecimento e ninguém escapa disso. Não é possível separar o sujeito do objeto.’


Vivian se coloca como observadora, não interfere. Como se assistisse ao mundo por trás de um vidro, sem por isso deixar de ser instintiva sensorial. Seu trabalho é impulsivo. Não dá para saber o que a levou a fazer determinada foto, mas ela sabe: ‘Muitas vezes eu nem vi a imagem, mas sei que a emoção que senti me fez ter a certeza de que havia conseguido.’ Nisso está seu estilo. Na busca do ser humano, no prazer em estudá-lo e de alguma forma entendê-lo, por meio da fotografia.


Não interessa a Vivian onde foram feitas as fotografias, nem quando. Ela nos apresenta um jogo de espelhos, ela nos coloca (ou gostaria de) dúvidas, questionamentos. ‘Tenho me perguntado o que gostaria que as pessoas sentissem ao sair da minha exposição’, nos coloca Vivian. E ela mesma responde. ‘Gostaria que elas se sentissem provocadas, que saíssem da exposição com uma indagação sobre si mesmas.’


Pois é. Na época da tecnologia avançada, da informação visual, das formas mais modernas de comunicação, ao fim parece que a pergunta que fica é a da antiga esfinge: ‘Decifra-me ou te devoro!’


Serviço


Pablo Di Giulio e Vivian Lembo. Pinacoteca . Praça da Luz, 2, 3324-1000. 3.ª a dom., 10h/18h. R$ 4 (sáb. grátis). Até 25/5′


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Crise entre autores


‘A guerra de autores da Record culminou em uma grande mudança de planos na emissora. Prevista para estrear em junho, Vendetta, trama de Lauro César Muniz, foi adiada para janeiro de 2009. E, pior, pode não entrar mais no ar.


A confusão começou quando o autor Tiago Santiago, encarregado de cuidar da teledramaturgia da Record, resolveu dar pitacos na obra de Lauro César.


Com mais de 20 anos de dramaturgia, o autor não teria aceitado as imposições de Santiago, e ameaçou deixar a Record.


Para colocar panos quentes, a emissora passou na frente da trama de Lauro César, Chamas da Vida, de Cristianne Fridman.


Vendetta, então, estreará só em janeiro, no lugar de Chamas da Vida. Como a trama de Cristianne Fridman não estará pronta até o término de Caminhos do Coração, no dia 31 de maio, a novela Amor e Intrigas – no ar atualmente às 20h30 – assume o horário das 22 horas até junho. Confuso? Muito, e pode ficar pior, caso Lauro César resolva abandonar o canal. Por muito menos o autor deixou a Globo. Quem sofre é a audiência, que não sabe mais quando sua novela favorita vai ao ar.’


 


 


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