A entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao jornal Valor Econômico – quinta-feira, 17/9 – foi a mais importante matéria econômica e política das três primeiras semanas de setembro. Falando com franqueza, o presidente afirmou seu direito, em nome do ‘interesse do país’, de tentar interferir na administração de qualquer empresa, estatal ou privada. Contou como tem dado ordens à diretoria da Petrobras e como decidiu a compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil. ‘Comprei um banco’, foi a expressão usada em relação a esse caso. O mesmo sujeito (eu) foi usado na frase seguinte: ‘Quando fui comprar [via BB] 50% do Banco Votorantim, tive de me lixar para a especulação’.
Na mesma entrevista, ele anunciou a intenção de enviar ao Congresso Nacional um projeto de consolidação das leis sociais, um bom tema, segundo explicou, para debate durante a campanha eleitoral. É um material precioso para quem quiser entender a concepção de Lula de suas funções e de seus poderes na presidência da República e sua estratégia para as eleições de 2010.
Boi na mídia
No mesmo dia, quinta-feira (17), todos os jornais publicaram grandes matérias sobre como a JBS, por meio da fusão com a Bertin e da compra da americana Pilgrim´s Pride, se tornou a terceira maior empresa não financeira do Brasil, pelo critério da receita líquida. O assunto foi explorado também nos dias seguintes, com detalhamento dos últimos negócios e dos planos da empresa. As coberturas mais amplas e com a apresentação mais completa da história do grupo – a transformação de um açougue num complexo internacional com 40 mil empregados, em meio século – apareceram na Folha de S.Paulo e no Estado de S.Paulo.
A expansão do JBS era um assunto obviamente suculento e os jornais, de modo geral, foram capazes de explorá-lo. Mas histórias saborosas têm sido muito menos frequentes do que nos melhores tempos da falecida Gazeta Mercantil, quando fatos aparentemente comuns, como a atividade de um negociante de passes de ônibus no Largo 13 de Maio, em Santo Amaro, rendiam boas narrativas.
A última novidade na área fiscal foi a decisão do governo de reduzir mais uma vez o superávit primário, o dinheiro posto de lado para o serviço da dívida pública. A justificativa oficial foi a liberação de R$ 5,6 bilhões para investimentos e essa explicação apareceu em todas as matérias. Em alguns jornais apareceram coberturas um pouco mais ambiciosas. Desse total, R$ 1,2 bilhão irá para aplicações vinculadas a emendas parlamentares, segundo o Globo. É um detalhe politicamente significativo e o jornal traz, na mesma reportagem, opiniões de parlamentares oposicionistas e governistas e um quadro dos atuais problemas orçamentários.
A Folha de S. Paulo apresentou um material mais curto, mas também mencionou o atendimento a ‘pressões dos congressistas aliados por mais despesas em seus redutos eleitorais’. Além disto, mostrou as dificuldades de execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), suposta destinação das verbas excluídas do cálculo da meta fiscal. Os dois jornais poderiam ter ido mais fundo na discussão do assunto e na informação sobre o ritmo dos investimentos custeados pelo Tesouro.
Poderiam ter mencionado, por exemplo, números disponíveis no site da ONG Contas Abertas: até 10 de setembro foram desembolsados R$ 4,84 bilhões dos R$ 50,45 bilhões orçados para o ano – apenas 9,61% do total. Se é este o desempenho, tem sentido falar em liberação de recursos para investimento? Os dois jornais, de toda forma, foram bem além da informação oficial e isso valorizou sua cobertura.
PNAD 2008: novidades e manchetes
A divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2008 rendeu grandes matérias no fim de semana. A pesquisa mostra a situação do país antes do grande impacto da crise econômica. De modo geral, os jornais exploraram informações contrastantes, bem exemplificadas na manchete do Globo: ‘Emprego cresce no Brasil, mas educação não avança’.
A PNAD é importante pela amplitude de suas informações. Permite acompanhar praticamente sem defasagem a evolução dos principais indicadores sociais do Brasil. Seus números mostram, por exemplo, a redução da mortalidade infantil nos últimos cinco ou dez anos, a elevação dos padrões de consumo. Ao lado de informações positivas, como essas, a pesquisa fornece um quadro muito menos animador sobre a redução do analfabetismo funcional, ainda acima de 20% na população com idade igual ou superior a 15 anos.
Mas não será um exagero tratar com destaque, como fizeram os jornais, a variação de indicadores sociais num período de apenas um ano, de 2007 para 2008?
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Jornalista