A importância acrítica dada ultimamente na imprensa a manobras do PMDB, tratado como um partido político, o que a rigor não é, faz pensar em jornalismo ingênuo, para dizer o menos.
Uma crônica política atilada trataria o PMDB como o que de fato é, uma federação de interesses encastelados em instâncias dos poderes Executivo e Legislativo (e que têm relações, digamos, cordiais com segmentos importantes do Judiciário). A imprensa, assim, age exatamente como o PT ao fingir que a ‘base aliada’ é composta de agremiações políticas e não de ‘coronéis’, para usar uma designação herdada do Império.
A resolução política aprovada pelo Diretório Nacional do PT em sua reunião do dia 19/11 diz, por exemplo, que ‘nos Estados, a base aliada elegeu 15 dos 27 governadores, dos quais cinco do PT’. Sob esse manto numérico abrigam-se, para dar apenas dois exemplos curiosos, nomes como Roseana Sarney, no Maranhão ‒ aliada do PT nacional, mas não do maranhense ‒, e, em Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, que apoiou José Serra para a presidência da República. Ambos do PMDB.
Jornalista não deveria participar de encenações
Tudo bem que ‘o mundo é um palco; os homens e as mulheres,/ meros artistas, que entram nele e saem’, como queria Shakespeare, mas o que o jornalista precipuamente não pode fazer é participar da encenação.
Logo, todo o noticiário sobre a pressão do PMDB em torno da distribuição de cargos no futuro governo deve ser apurado, escrito e lido tentando-se entender quem especificamente está querendo ser aquinhoado com o que, e não como se o PMDB estivesse agindo republicanamente. Nunca será demais lembrar que o vice-presidente eleito, Michel Temer, apoiou Geraldo Alckmin para a presidência da República em 2006, contra Lula.
Sim, aos poucos a imprensa, depois de dar manchetes sobre o ‘Blocão’ e similares, vai decodificando o ‘recado’. Mas depois de se ter prestado a dar tal recado.
‘Fala sério’, diria o saudoso Bussunda.