Duas notícias chamam atenção na edição de quinta-feira (5/6) do Globo: na manchete, a informação de que o Rio continua entre as cidades que disputam a primazia de sediar as Olimpíadas de 2016. É a última colocada entre as finalistas, mas segue na disputa. A outra notícia, também destacada na primeira página, informa que o Rio é a cidade brasileira com o maior número de homicídios por 100 mil habitantes.
O direito de sediar os Jogos Olímpicos é um velho sonho dos brasileiros, e o Rio sempre foi o cartão-postal desse desejo. Mas o que lhe deu a natureza pode ser tirado pela incompetência de seus dirigentes: para ser escolhida, a cidade terá que melhorar muito sua nota nos critérios segurança, meio ambiente, transportes e hotelaria.
As autoridades já anunciam obras de vilas residenciais, corredores de ônibus e a despoluição de lagoas, mas não há perspectivas de reduzir os índices de violência a padrões aceitáveis.
‘Doenças da pobreza’
Os dados que dificultam a realização do sonho olímpico estão num amplo estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, divulgado na quarta (5). O cenário traçado na pesquisa ‘Indicadores do Desenvolvimento Sustentável’ mostra que não estamos apenas longe do sonho olímpico: o Brasil também está distante de se tornar um país desenvolvido.
O estudo revela que o país cresce, mas seu crescimento é baseado num padrão predatório, no qual o meio ambiente é devastado para ser ocupado, produzindo pouca riqueza e deixando de lado problemas sociais graves. Os indicadores ambientais são extremamente negativos e se relacionam ao problema das chamadas ‘doenças da pobreza’: por falta de saneamento básico, a população brasileira, de modo geral, está mais distante dos padrões de países desenvolvidos do que o Rio de sediar os Jogos Olímpicos.
Pauta quente
O estudo do IBGE dá oportunidade à imprensa de incluir o desenvolvimento sustentável em sua pauta diária. De qualquer maneira, deve-se observar que dois dos três principais jornais brasileiros, O Estado de S.Paulo e O Globo, deram destaque à notícia, mas a Folha a escondeu no material sobre desmatamento da Amazônia.
O estudo do IBGE mostra a conexão entre problemas sociais e a questão ambiental, uma evidência que os jornais sempre ignoraram. Sem resolver os desafios ambiental e social, não existe desenvolvimento. Antes de sonhar em sediar as Olimpíadas, esse é o tema que a imprensa deveria estar sugerindo a todos os brasileiros.
A editoria de corrupção
Há uma média de cinco casos de corrupção em evidência nos jornais de quinta-feira (5). Mesmo para um país que nunca primou pela correção na administração do patrimônio público, as edições de quinta dos principais diários do país não trazem muitos motivos de orgulho para a brasilidade.
A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, mal teve tempo de se desvencilhar da CPI dos Cartões Corporativos e já cai em outra panela quente: ela agora é acusada de haver pressionado a Anac, Agência Nacional de Aviação Civil, a facilitar a venda da Varig para a VarigLog.
A legislação brasileira proíbe o controle de empresas aéreas nacionais por investidores estrangeiros. Em 2005, a VarigLog foi comprada por um consórcio composto por um fundo de investimentos americanos e dois sócios brasileiros. A acusação contra Dilma Rousseff é de que ela teria forçado a venda, sem exigir a comprovação da origem do capital.
Também estão nos jornais os casos de venda de documentos falsos de habilitação nos departamentos de trânsito de São Paulo, Pará e Rio Grande do Sul. Em São Paulo, o corregedor foi afastado, sob suspeita de haver favorecido o esquema. No Rio Grande do Sul, o secretário-geral de governo será convocado a depor na Assembléia Legislativa.
Em Brasília, a Polícia Federal cumpria, na quarta-feira (4), nove mandados de busca e apreensão nas casas de empresários e autoridades do governo do Distrito Federal, por fraudes na Companhia de Desenvolvimento do Planalto. Ainda em Brasília, o deputado Paulo Pereira da Silva se enrola cada vez mais na acusação de haver montado um esquema para influenciar na concessão de empréstimos pelo BNDES.
Pelo andar da carruagem, os jornais já poderiam ir pensando em criar cadernos especiais para abrigar as notícias de corrupção.
Notícia não vai faltar.