É absolutamente inadmissível a participação de um jornalista – no caso o repórter César Tralli, da Rede Globo – no circo armado pela Polícia Federal ao chegar a São Paulo com o filho de Paulo Maluf, Flávio. Ele foi preso pouco antes do amanhecer de sábado [10/9], no interior paulista. Ajudou a pilotar o helicóptero que percorreu os 280 quilômetros entre o município de Dourado e a capital.
Paulo foi algemado sem nenhuma necessidade; só para os federais poderem fazer o seu show, que configura uma agressão aos direitos individuais incompatível com o estado democrático de direito. Se este fosse um país decente, de há muito Maluf pai e Maluf filho estariam na cadeia. E os policiais autores da violência contra este último seriam imediatamente afastados e submetidos a inquérito.
O pior de tudo é a cumplicidade do jornalista – se ele de fato estava vestido de policial, como denunciou, sabendo o que dizia, José Roberto Battochio, o advogado de Flávio. A propósito, a única foto dele, algemado, publicada no domingo (11/9) em todos os jornais, foi feita por Edilson Lopes, do jornal Diário de S.Paulo, das Organizações Globo. A foto foi distribuída pela Agência O Globo.
A ética jornalística foi tão golpeada quanto o direito de Flávio Maluf de não ser algemado. Se este fosse um país civilizado, a Globo daria ao seu repórter hoje mesmo a oportunidade de trocar de ofício, para poder usar roupa de tira legitimamente, sendo um deles.
É imperativo que a Associação Brasileira de Imprensa e a Federação Nacional dos Jornalistas condenem já e com toda a dureza a quebra de decoro profissional no vergonhoso episódio.
E todos os jornalistas ‘com redação própria’, ou seja, com espaço na mídia para a sua expressão pessoal, deveriam manifestar o seu repúdio pelo ocorrido. Não é preciso lembrar a ninguém que polícia é polícia, bandido é bandido – e jornalista deveria ser jornalista. [Postado às 11h34 de 11/9/2005]