Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Por que só à Folha e à Rede Globo?

O acusado demorou 20 dias para dar uma satisfação à sociedade e quando afinal decidiu-se a falar selecionou cuidadosamente os interlocutores. Resultado: as suspeitas só aumentaram. Não pelo que disse ou, sobretudo, pelo que deixou de dizer. Mas por escancarar a sua fragilidade.

A imprensa é uma instituição diversificada, sua legitimidade decorre exatamente da sua condição plural. Qualquer tentativa para compactá-la e seccioná-la equivale a um cerceamento.

A Folha de S.Paulo mereceria a exclusividade se o ministro Palocci oferecesse explicações imediatamente depois da divulgação da denúncia. A Rede Globo mereceria a exclusividade televisiva se o seu fabuloso time de repórteres topasse com o ministro durante um evento e dele arrancasse uma declaração.

Este pool informal, tático, enviesado, tipicamente brasiliense foi uma clara e insofismável tentativa de escapar de cobranças mais drásticas e evitar o único instrumento democrático e isonômico de dirigir-se à sociedade para esclarecer todas as suas dúvidas: a entrevista coletiva.

O pífio resultado das duas “exclusivas” não desabona os entrevistadores − Sérgio Dávila e Valdo Cruz (da Folha) e Júlio Mosquéra (Rede Globo) –, desabona o entrevistado, que candidamente, sem qualquer subterfúgio retórico, reconheceu que nada tem a declarar em sua defesa.

Leia também:

Caso Palocci: Mudança de tom