Na opinião de Deborah Howell, ombudsman do Washington Post [23/3/08], o jornalão – assim como outros veículos de comunicação americanos – perdeu o timing ao divulgar a controvérsia envolvendo as declarações sobre raça do reverendo Jeremiah A. Wright Jr., ex-pastor do pré-candidato presidencial Barack Obama. Antes de 15/3, o Post não havia publicado nada sobre Wright e chegou a recusar dois pedidos de uma repórter para fazer uma matéria sobre o pastor. Mais uma vez, a força da internet fez diferença: foi através da rede que diversos leitores tiveram acesso a dezenas de vídeos de sermões de Wright, alguns deles atacando a pré-candidata Hillary Clinton por ser branca, e quiseram saber por que a grande imprensa dos EUA não estava se pronunciando sobre o caso.
Finalmente, no dia 15/3, o Post optou por publicar matéria na qual dizia que Obama havia retirado Wright de seu comitê de campanha e que o pastor é, há meses, fonte de controvérsia na disputa democrata. Em resposta, ele declarou que está na hora de os EUA deixarem para trás as suas ‘velhas feridas raciais’.
No dia 18/3, a repórter Eli Saslow publicou artigo com citações de pessoas que defendem a posição de Wright – o que também gerou críticas de muitos leitores. Na opinião de Deborah, a matéria não contextualizou as igrejas afro-americanas e a teologia. Há um ano, o New York Times e a Associated Press haviam publicado informações sobre a relação de Obama com seu ex-pastor. Antes de 15/3, Wright só havia aparecido em uma matéria no Post, publicada em 28/2, sobre a tentativa de Obama de tentar assegurar a líderes israelenses seu apoio a Israel. Wright é um grande defensor dos palestinos.
Antes de se aposentar, Wright foi pastor da maior congregação da Igreja Unida da Trindade de Cristo nos EUA. Em seu livro The Audacity of Hope (A Audácia da Esperança), Obama o menciona de forma proeminente. Para Deborah, é natural que haja interesse sobre ele e sobre sua importância na vida e carreira de Obama. Segundo o pré-candidato negro, foi seu ex-pastor que, há 20 anos, o levou para o cristianismo, realizou sua cerimônia de casamento e batizou suas duas filhas. Ainda assim, muitos leitores questionam por que os líderes espirituais de outros pré-candidatos não ganham tanto destaque como vem ganhando Wright.