A polícia da Dinamarca prendeu na terça-feira (12/2) três pessoas suspeitas de tramar o assassinato de um dos cartunistas responsáveis pelas polêmicas charges do profeta Maomé que, há dois anos, tanto desagradaram muçulmanos em todo o mundo. Investigadores afirmaram que conseguiram descobrir o plano ainda em estágio inicial na cidade de Aarhus. Os detidos são dois tunisinos e um cidadão dinamarquês de origem marroquina. ‘Este caso mostra que, infelizmente, ainda há na Dinamarca grupos de extremistas que não aceitam e respeitam os princípios básicos da democracia dinamarquesa’, lamentou o primeiro-ministro, Anders Fogh Rasmussen.
Jakob Scharf, chefe do setor de inteligência da polícia, afirmou que o dinamarquês detido tem 40 anos e já havia enfrentado acusação de violar uma lei anti-terror, mas deverá ser liberado após interrogatório. Os dois tunisinos serão expulsos do país. A polícia não revelou o nome do cartunista ameaçado, mas o jornal Jyllands-Posten – primeiro a publicar as charges de Maomé – afirmou que se trata de Kurt Westergaard.
Protestos e proteção
Westergaard, de 73 anos, desenhou uma das 12 charges do profeta publicadas pelo Posten em setembro de 2005 e reproduzidas por outros veículos da mídia ocidental no início de 2006. A lei islâmica é contrária a qualquer representação do profeta. O caso dos desenhos de Maomé levou ao boicote de produtos dinamarqueses e a violentos protestos em diversos países – a bandeira dinamarquesa foi queimada por multidões e embaixadas foram atacadas em países como Síria, Irã e Líbano.
Segundo o Posten, o cartunista e sua esposa contam com proteção policial há mais de três meses. Westergaard contou a uma emissora de TV dinamarquesa que o casal já teve que se mudar diversas vezes, pelo país e pelo exterior, e elogiou o trabalho do serviço de inteligência. ‘Eles certamente salvaram a minha vida, tenho certeza disso’, afirmou.
Reprodução
O Posten e outros jornais dinamarqueses, entre eles o Politiken, o Berlingske Tidende e o tablóide Ekstra Bladet, republicaram, nesta quarta-feira (13/2), o cartum de Westergaard, que mostra Maomé com uma bomba no lugar do turbante. O objetivo dos jornais era reafirmar seu compromisso com a liberdade de expressão e mostrar que não se intimidam com a ameaça de ‘fanáticos’. Pelo menos três jornais na Suécia, Espanha e Holanda reproduziram o desenho ao noticiar as prisões de terça-feira. ‘Esta é uma história sem fim’, afirmou Fred Jacobsen, vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas Dinamarqueses. ‘É repugnante que as pessoas sejam ameaçadas de morte simplesmente por fazerem seu trabalho’.
Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Dinamarca declarou que as embaixadas do país em todo o mundo estão monitorando a situação para detectar qualquer indicação de problemas por causa da reprodução do cartum. Líderes muçulmanos dinamarqueses afirmaram que republicar o desenho é uma forma errada de protesto, enquanto o líder da Comunidade da Fé Islâmica, grupo que organizou manifestações em Copenhague em 2006, disse que consideraria um protesto do lado de fora do parlamento. Informações de Jan M. Olsen [AP, 12/2/08] e Rosalind Ryan [Guardian, 13/2/08].