A maior parte da mídia brasileira registrou e analisou a primeira exposição conjunta dos três candidatos à Presidência da República com maior pontuação nas pesquisas, no encontro promovido pela Associação dos Municípios Mineiros, em Belo Horizonte. Foi um ensaio interessante, não apenas para os candidatos, mas para observar a própria mídia e como ela se relaciona com o universo da política. É até compreensível que muitas vezes embarque nos pratos prontos que lhe são oferecidos, mas a verdade é que muitas vezes, ao aceitar essa facilidade temática, coloca à sombra aspectos importantes do quadro político. E, ao mesmo tempo, pode acabar servindo de escada para cacoetes da cultura política vigente que ela mesma critica com grande propriedade vez ou outra.
Do encontro entre presidenciáveis, podem ser extraídos dois bons exemplos. O primeiro, a avaliação de que o debate foi ‘morno’. Há que tomar cuidado para não alimentar a velha ideia de que o debate entre candidatos é melhor quanto mais o clima for tenso, com provocações, pegadinhas, ataques mais incisivos. Talvez até com uma ou outra baixaria. Afinal, não é isso que se espera da política? Um bom vale-tudo?
Nova cultura
Seria interessante ir além da suposta mornidão e pensar se a democracia e o país não estariam mais bem servidos com uma nova cultura política, com menos performances midiáticas dos candidatos e mais atenção aos temas, preocupações e propostas de que seriam portadores. A estatura política elevada do debate deve ser o termo de referência adequado para julgá-lo, e não o contrário. E isso não se mede pela virulência das críticas mútuas, mas pela sua pertinência e justeza. É preciso evitar a armadilha de incentivar o reducionismo de confrontos maniqueístas, de termos absolutos. É uma obrigação ética dos candidatos valorizar o que de bom foi feito antes, mesmo por oponentes, e aperfeiçoar e inovar a partir daí.
O segundo exemplo liga-se à ideia da ‘eleição plebiscitária’. Pode até ser uma expressão de forte apelo, mas é empobrecedora e autoritária. Esse primeiro ensaio de debate foi a primeira oportunidade para desconstruí-la, mostrando o equilíbrio e o desempenho reais presentes no debate, em lugar de dar curso ao entendimento de que as eleições já estão decididas entre apenas dois contendores. Infelizmente não foi o que aconteceu, pois o recorte analítico mais utilizado foi exatamente esse.
Há inúmeros fatores na agenda das eleições. Quem ganha e quem perde é apenas um deles, ainda que muito importante. O que faria diferença seria marcar este momento pela inflexão para uma nova cultura política. Não é simples lutar contra os estereótipos, mas seria uma enorme contribuição.
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Senadora da República (PV-AC), pré-candidata à Presidência da República pelo Partido Verde