O rádio gaúcho será mais gay a partir da próxima terça-feira (15/11). Pelo menos na Ipanema FM (94,9), que a partir das 23h estreará o Programa Gay. A nova atração surge com a ideia de naturalizar o assunto na sociedade e mostrar que, guardadas as peculiaridades, homossexuais e heterossexuais compartilham as mesmas vivências e agonias no mundo moderno. A bancada contará com cinco apresentadores: duas lésbicas – a jornalista Nanni Rios e a produtora Aline Flores –, dois gays – o produtor de figurino Alex Hoff e um segundo integrante ainda não confirmado – e uma simpatizante, a coordenadora de produção da Ipanema, Paola Kremer.
Todas as terças-feiras, durante uma hora, os cinco integrantes do Programa Gay conversarão sobre cultura, entretenimento, música e também tecerão comentários sobre atualidades em geral. “Não queremos criar guetos, queremos compartilhar as dores e delícias de cada um ser o que é”, comenta Nanni. Ela lembra que a chamada “imprensa gay” no país costuma estigmatizar o tema e cita como exemplo o jornal Snob, que circulou no Rio de Janeiro entre 1963 e 1969. “Fazia um colunismo social, mostrava onde tinham as festas, os cinemas e as saunas. O aspecto do reconhecimento e da garantia de direitos só foi aparecer na imprensa em 1978, com a criação do Lampião da Esquina”, explica, citando o pioneiro jornal gay que circulou até 1981.
Para a jornalista, o Programa Gay da Ipanema pode preencher uma lacuna na área através de um olhar sem estigmas. “As iniciativas nesse sentido foram poucas e descambavam para o apelo erótico. Nossa ideia é fazer algo divertido, sem dramas, até porque nossa vida não é um drama”, aponta Nanni. Outro integrante do programa, o produtor de figurino Alex Hoff, considera que o Programa Gay será uma oportunidade, inclusive, para homofóbicos se manifestarem. O programa terá o chamado “minuto homofóbico”, em que as pessoas poderão telefonar ou mandar e-mails com suas críticas aos homossexuais. “Vamos tentar entendê-los. Ninguém precisa me aceitar, mas ao menos exijo respeito”, diz.
O fim de imaginários pré-formatados
Antes mesmo de estrear, o Programa Gay já gera alvoroço nas redes sociais. Aline Flores, que produz a festa Lez Girls e também participará do programa, foi alvo de críticas no seu perfil no Facebook ao anunciar a atração. “Tem gente que acha que o programa irá segmentar os homossexuais. A ideia é justamente mostrar que somos gays e temos gostos iguais aos dos héteros, somos mais do mesmo”, defende.
Uma das futuras apresentadoras do Programa Gay, a coordenadora de produção da Ipanema Paola Kremer, observa que a nova atração da emissora irá romper com o estigma da segmentação. “A grande mídia homogeniza o público. Aqui no Sul, acham que o gaúcho só quer saber de Gre-Nal, do litoral e da previsão do tempo”, critica, acrescentando que a intenção do programa é “assumir as diferenças (entre heterossexuais e homossexuais) para desmistificá-las e mostrar as semelhanças”.
Paola acredita que o Programa Gay contribuirá para o fim de imaginários pré-formatados sobre homossexuais. “Ainda há pessoas com preconceitos arcaicos. O Bolsonaro está aí para nos lembrar isso. O programa será uma janela para destruir essas imagens antigas”, projeta.