Uma indústria de cosméticos queria saber se as mulheres se acham bonitas, ou melhor, belas. Para isso entrevistou 36 mil mulheres em dez países, entre os quais o Brasil. Resultado: na Argentina, Canadá, Estados Unidos, Portugal, Holanda, Inglaterra, Japão e França, apenas 2% deixaram a modéstia de lado e disseram que, sim, se acham belas. No Brasil, a nossa auto-estima está um pouquinho melhor: 6% das brasileiras se acham belas.
Mas, quando a questão se aprofunda, a pesquisa fica mais interessante: 68% das entrevistadas culpam a mídia por não se encaixarem na definição, pois a mídia utiliza padrões irreais e inatingíveis de beleza. E pedem (75% delas) que a mídia retrate a beleza com pessoas normais.
Não se pode dizer que as pessoas normais, mais especificamente as mulheres, estão fora da mídia. É só dar uma olhada nas revistas femininas e conferir. Quando se trata de matérias sobre filhos, carreira e comportamento, a mulher normal tem espaço. Afinal, para dar credibilidade, é preciso mostrar a cara das pessoas, de preferência numa foto bem discreta.
Foto grande, close que enche os olhos e mostra tudo, só mesmo das belas ou das celebridades, mesmo que não se encaixem no padrão atual de beleza (além de linda, magra, cabelos e pele perfeitos).
Desafio para editores
Parece existir – principalmente nas revistas femininas – um secreto manual de redação no que se refere às fotos: às celebridades, tudo (maquilador, cabelereiro e retoques no photoshop); às mulheres normais, fotos no pé da página. E, se alguém tentar discutir, use-se o argumento definitivo: belas e celebridades vendem anúncio, gente normal espanta anunciante. Ou, reescrevendo o sábio Joãozinho Trinta, quem gosta de ver gente normal em revista é intelectual.
Normais são todas as mulheres que não viraram modelo e, para piorar, não fazem parte do seleto grupo de ricos e famosos que ajudam a vender, para o grande público, revistas sobre a minoria das minorias: as celebridades.
Para se tornar celebridade é preciso ter talento, dinheiro… e cair nas graças da mídia. Ou, no caso das mulheres, ser linda, chique e chamar a atenção de um homem lindo, famoso ou poderoso. Igualzinho à Bela Adormecida, resgatada pelo príncipe, aquele do cavalo branco.
Mas, feminismo à parte, é bom ver as mulheres do mundo exigindo uma nova postura da mídia. Depois de conquistar o direito ao trabalho e à carreira, parece ter chegado a hora de conquistar o direito à imagem real. Exigir uma nova postura da mídia já é um começo. Divertido mesmo seria criar o ‘dia mundial do boicote às revistas femininas’. Diríamos assim: este mês, se a capa da revista não for uma mulher normal, não compre. Não sei se funcionaria, mas que ia ser divertido, isso ia.
Seria um grande desafio para editores, maquiladores, cabeleireiros e fotógrafos transformar mulheres normais em capa de revista. E seria, quem sabe, uma forma de democratizar os grandes salários desse milionário mercado das top models.
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Jornalista