Recentemente fiquei sabendo que alguns jornalistas do Amazonas em Tempo declararam-se insatisfeitos, tristes e até envergonhados com a situação atual que vivem no jornal. Afinal, o veículo manauense deixou os seus 20 anos de bom jornalismo de lado para se tornar um mero panfleto político dedicado a criar factóides para prejudicar a imagem de quem não lhe interessa economicamente.
Sinto-me aliviado em saber que alguns profissionais ainda têm consciência e discernimento para enxergar o que está acontecendo. Não se trata de uma questão meramente eleitoral, como os mais retrógrados e egoístas podem achar; mas de justiça. O dever do jornalismo é a subversão, a contestação – e jamais a alienação da informação. A crítica jornalística deve se pautar em ajudar na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, e isso se faz na crítica embasada e fidedigna à realidade.
Alguns, do alto de sua arrogância de ‘não sei quantos anos de profissão’, podem vir a bradar: ‘E quem é você para querer me ensinar jornalismo?’ Tão logo, deixo claro que esta não é minha intenção. Não venho aqui tentar ensinar o que estou aprendendo. Venho apenas lembrar a alguns profissionais o que eles já sabem: pontos que certamente foram temas de apaixonados debates em suas academias de jornalismo, mas que, por razões desconhecidas, acabaram por esquecer.
Algumas portas se fecharam
O cerne da questão é: se sabem que tudo está errado, por que o silêncio? Pelo emprego? Pelo salário? Essas são boas tentativas, mas não justificam. Não justificam porque tais argumentos escondem a real essência dos fatos: a conivência, o comodismo, a banalização do crime, do mau-caratismo e do mau jornalismo. Talvez estas motivações não sejam válidas para todos os jornalistas, mas, sem dúvida, esta última vem a calhar a outros: a covardia.
Não é fácil erguer as mãos, tomar as espadas e se postar diante dos grandes interesses econômicos. Enfrentá-los não é para todos; não sozinhos. Não existem super-heróis dotados de poderes especiais ou coisa parecida. Os verdadeiros heróis são humanos, com defeitos, virtudes e, sobretudo, com todos os seus medos. Sua única força está na coragem quase inconseqüente e, mais importante, na união com seus semelhantes.
Certamente existirão contra-argumentos do tipo: ‘para você, que não sabe bem o que é uma redação de jornal, é fácil falar’. Mas não é fácil. Já critiquei muito, tanto os jornais quanto jornalistas, e por isso sei que algumas portas se fecharam. Em Manaus, muitos ‘profissionais’ não gostam de mim e do que ando escrevendo. Paciência. Não escrevo para jornalistas, muito menos para empresários, mas para leitores comuns, com necessidades comuns.
‘Gente com disposição diferente’
Já ouvi críticas severas de colegas de faculdade que afirmaram que ‘nomes importantes do jornalismo amazonense não aprovavam’ certos textos. Ora, se são ‘importantes’ – e acredito esta ser uma figura de linguagem para ‘competência’ ou ‘seriedade’ –, onde eles estão? Estarão de férias, dormindo, ou acovardados com medo de perder seu status de ‘jornalista de grande jornal’? O silêncio, meus caros, se torna conivência. No mínimo.
Antes de se acomodar com a mínima ‘a vida é assim’, pense no que já disse o jornalista Alberto Dines no capítulo XI do seu livro O Papel do Jornal: ‘Precisa-se: gente igual com disposição diferente.’ Para ser ainda mais apaixonado, deixo também a célebre frase de Emiliano Zapata: ‘Antes morrer de pé, do que viver de joelhos.’
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Estudante do 6º período de Jornalismo, Manaus, AM