Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Quem dança é o leitor

Como os jornais saem todos os dias e os fatos não são estanques, supõe-se que os assuntos de uma edição deveriam ser acompanhados nas edições seguintes. Suposição errada: nossos jornais procuram a descontinuidade e, não, a continuidade. Isso fica mais nítido nos fins de semana e principalmente nos feriadões, como o que se encerrou no domingo de Páscoa.


Durante três dias – sexta, sábado e domingo – as primeiras páginas foram armadas com assuntos de gaveta, sem conexão com o noticiário dos dias anteriores. Nem a greve de fome do presidente boliviano Evo Morales, os desdobramentos da Operação Satiagraha ou os incríveis desperdícios do dinheiro do contribuinte pelos congressistas conseguiram empolgar e produzir encadeamentos mais consistentes.


A causa está no estranho sistema adotado na redações brasileiras nos últimos anos: sim, os jornais são diários, saem todos os dias, mas o trabalho é intermitente. Nos dias que antecedem os feriadões as equipes desdobram-se, preparam matérias por antecipação, a continuidade e a atualidade que se danem.


Explicação para a crise


Veja-se o caso do Pacto Republicano de Estado que será assinado hoje pelos presidentes dos três poderes, um esforço conjunto para acabar com o que se convencionou chamar de ‘estado policialesco’. O assunto só apareceu na primeira página do Estado de S.Paulo na sexta-feira (10/4), mereceu um lembrete do Globo no sábado e sumiu. Sumiu porque é um factóide. Mais grave do que o estado policialesco é a corrupção no aparelho policial e a violência solta nas ruas.


Cada dia uma nova pauta e nesta interrupção do fluxo noticioso pode estar a explicação para a atual crise do jornalismo impresso: se o jornal não se fixa e vive trocando de música, o leitor dança.