Com as novas tecnologias e o crescimento do jornalismo colaborativo, um grupo de jornalistas americanos decidiu ir além e desenvolveu um sítio para que o público não apenas sugira uma pauta, mas também ajude a arrecadar recursos para que o tema seja investigado. A idéia, que está sendo chamada de ‘jornalismo financiado pela comunidade’, é testada na região de São Francisco, na Califórnia, pela ONG Spot Us.
A experiência é inovadora, mas levanta questões básicas. Entre elas, se este tipo de jornalismo pode vir a ser ‘comprado’ por quem têm mais dinheiro e segundas intenções com a reportagem. Embora qualquer pessoa possa indicar um assunto, são os editores que dão a palavra final. O tema escolhido é anunciado na internet para que os interessados em ver a história ser investigada contribuam com dinheiro. Se não houver doações, a pauta não vai adiante. Para evitar financiamento de uma reportagem motivada por interesses pessoais, cada doador só pode contribuir com até 20% dos custos.
Poder ao público
Na opinião do jovem jornalista David Cohn, o Spot Us dá um novo sentido de poder editorial ao público. Cohn, 26 anos, recebeu uma bolsa de dois anos da Knight Foundation, no valor de US$ 340 mil, para testar sua idéia. ‘Não sou Bill nem Melinda Gates, mas posso doar US$ 10. Este é o modelo Obama e Howard Dean’, afirma, comparando o projeto aos fundos de campanhas políticas arrecadados na internet.
Para Cohn, o Spot Us permite que os cidadãos façam parte do processo de produção de notícias. Se um morador de uma rua não está satisfeito com as promessas feitas por um político local para aquele bairro, ele envia a sugestão de pauta para que uma matéria investigativa seja produzida. As reportagens são disponibilizadas no sítio e, se algum jornal quiser exclusividade para publicá-las, terá que pagar por isto. O sítio já conseguiu, por exemplo, US$ 250 para um artigo que avalia se a Califórnia é capaz de suprir sua demanda por etanol. Até agora, o total de dinheiro arrecadado foi de US$ 2.500.
A experiência é posta em prática em um momento em que jornais em todo o mundo demitem repórteres e editores para cortar custos, além de reduzir as reportagens investigativas – em parte devido à migração de leitores e anunciantes para a internet. Informações de Sarah Kershaw [24/8/08].