Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Reforço na ojeriza do jovem à política

Não é necessário encomendar pesquisas cientificas para entender o fato de que grande parcela dos jovens dá as costas às eleições ou à política – no mínimo o silêncio, no fim o deboche. Basta assistir a uma semana de horário eleitoral e se entende o porquê de tanto descrédito. Os candidatos – todos – não dialogam com o jovem, jogado na vala comum, na farsa da ‘escola-família’, pois o ensino é decadente. Um serviço que deveria informar desinforma e se transforma em produção de vídeo com atores que nem conseguem decorar suas falas – sem nenhum constrangimento, os candidatos/atores lêem sua fala no teleprompter, e alguns ainda conseguem errar ou gaguejar. É cômico, para se dizer o mínimo.

O ator principal nada numa produção milionária. Quando se assiste à propaganda de Lula, candidato à reeleição, tem-se a impressão de que vivemos num país maravilhoso, a julgar pela beleza natural. Infelizmente, quando falam em números, do ProUni, por exemplo, o jovem sabe dos que penaram para entrar e não conseguiram, mesmo provando renda baixa. Quantas dificuldades as universidades criam, tratam os jovens carentes com descrédito, um favor, mesmo! Precisamos é de um ProJovem!

E o ‘filme’ eleitoral não pára por aí. O Prona, que segue seu script alarmista, tem atores novos – ‘Meu nome é Patrícia!’. Imaginemos jovens de 18 a 25 anos assistindo a isso, o que pensam do jargão gritado? O partido dos aposentados (PAN), com aquele ‘Peroba neles!’, demonstra que há outras maneiras de se dizer que há caras de pau na política. Outra fórmula de mau gosto e antiga é a cena do candidato frente a um computador, simulando, como numa novela, que está trabalhando, e de repente a câmera lhe dá um close e o candidato faz cara de simpático e solta o texto lido.

Reforma política

Como fazer o jovem acreditar se de repente aparece Clodovil Hernandes e diz sem nenhum constrangimento que não tem vocação política, mas para denunciar? Para denúncias temos o Ministério Público. E o cinema de quinta continua: Alckmin caminha em nossa direção, com a bandeira nacional balançando, como se fosse nos salvar; Dr. Cury diz ter a cura para o Brasil, Waldemar Costa Neto, como em romance de banca, diz estar arrependido e querer começar do zero – assume desvio de conduta e pede votos! Falta integridade e realidade aos nossos políticos/atores.

Este horário eleitoral nos lembra dos programas cômicos, que estão aí para deboche e comédia, porém, parece que os papeis se inverteram. Pais e mães já estão calejados, os avós então… mas há de se pensar que a juventude de hoje é a sociedade amanhã, e cada vez mais desacredita destes políticos por motivos óbvios. Enquanto eles se deleitam em números, pesquisas e promessas, a massa dos jovens enfrenta desemprego, tráfico, falta de perspectiva, ensino falido, preconceito por parte de autoridades. No fim, sabe o que resta? O deboche, as piadas nas rodas de conversas, os adjetivos não muito simpáticos para os políticos, a vontade cada vez maior de anular o voto. Enquanto os políticos esvaziam seu discurso, a indústria cultural lota o dia-a-dia do jovem, mais preocupado com viver melhor.

O grande problema é o processo eleitoral. A questão do voto nominal, por exemplo: acabamos por votar numa pessoa, e não num projeto. Já que falam tanto em reforma política, deveriam pensar na votação em chapas, e não em pessoas, no voto não-obrigatório, que também é motivo de ojeriza por parte da juventude; um novo formato para o horário eleitoral, condizente com a realidade, e não com a arte de atuar; a introdução de disciplinas que levem a política às salas de aulas; partidos políticos orgânicos, e não arranjados para as eleições. Quem sabe assim, talvez, a massa juvenil olhe com menos desconfiança para a política.

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Jornalista