Não tardou para pipocarem as opiniões sobre o caso Larry Rohter. Warren Hoge, do New York Times [13/5/04], informou que líderes da oposição do Brasil, associações de imprensa e grupos judiciários e legais protestaram contra a decisão do governo de expulsar o correspondente do jornalão.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi citado em vários veículos estrangeiros dizendo-se surpreso e desapontado com a decisão de Lula, apesar de considerar o artigo do NYT superficial e frívolo. ‘A expulsão foi uma reação exagerada’, disse. ‘Vai contra os princípios democráticos.’
A Força Sindical também foi contra a cassação do visto de Rohter. ‘A medida tomada pelo governo nos preocupa porque é uma reação típica de governos autoritários avessos a vozes de oposição’, disse o presidente da central sindical, Paulo Pereira da Silva.
Diplomatas brasileiros tentaram insistentemente mudar a cabeça de Lula. Enquanto isso, o ministro do Exterior Celso Amorim declarou que apóia totalmente a ação do presidente. ‘Participei dessa decisão e a apóio’, disse Amorim, numa sessão do Senado. ‘Ninguém pode chamar isso de um ataque à liberdade de imprensa.’ Já o senador Cristovam Buarque, afirmou a Vivian Sequera [AP, 12/5], que ‘a decisão do governo foi uma medida errada e perigosa do ponto de vista democrático’.
Paulo Sotero, correspondente em Washington para o Estado de S. Paulo, afirmou, em entrevista a Warren Hoge [The International Herald Tribune e The New York Times, 13/5], que os jornalistas brasileiros estavam unidos por Rohter quando sua permanência no país corria risco. ‘No Brasil, não somos tão obcecados como os americanos pela vida sexual e hábitos de beber de nossos presidentes, mas nada no artigo justifica esse tipo de medida contra um jornalista’, disse.
Em Washington, Richard Boucher, porta-voz do Departamento do Estado, criticou a revogação do visto do correspondente, mas ressaltou que a visão de Lula expressa pelo New York Times não reflete a do governo.
Segundo a AFP [12/5], o Times disse que tomaria as ‘medidas apropriadas’ para defender seus direitos e de seu correspondente. Quando a Suprema Corte anunciou sua decisão de permitir que Rohter fique no país até que se defina se sua expulsão foi constitucional, o jornalão aplaudiu. ‘Estamos felizes com a decisão do juiz’, disse a porta-voz do Times.
Um grupo de senadores brasileiros pró-Lula já havia dado sinais de disposição de reconciliação. Afirmou, no dia 13/5, que reconsideraria o cancelamento do visto se o jornal publicasse uma retratação sobre o artigo. ‘É de se supor que, uma vez detectado o erro cometido, o jornal publicasse uma retratação para reparar o dano. Essa retratação nos protegeria de futuros ataques à honra do presidente e do país’, disse André Singer. Segundo ele, o que está em discussão não é a liberdade de imprensa, e sim a necessidade de responsabilidade no uso de um poderoso instrumento que é um veículo de renome internacional.
Jonathan Wheatley e Holly Yeager, em artigo ao Financial Times [14/5], disseram que o tiro de Lula não poderia ter saído mais pela culatra. O que começou como uma reportagem acabou virando um incidente diplomático de repercussão mundial entre Brasília e Washington. Por causa da expulsão, o governo brasileiro foi acusado de autoritarismo e paranóia.