A novidade começou a se esboçar no ano passado. Vários dos numerosos editoriais do New York Times sobre as desgraças que o protecionismo comercial americano causa aos pobres da Terra continham personagens e histórias – o que já é incomum em textos por definição, ou quase, conceituais.
E não é que aquelas histórias tivessem sido recuperadas de matérias impressas. Foram levantadas especialmente para rechear de vida real o ponto de vista dos editoriais.
Uma delas contava o drama dos miseráveis plantadores de algodão de Burkina Faso. Outra, dos pescadores de catfish no Vietnã. Lendo-as, tem-se a tentação de dizer que dispensam comentários.
Agora, o NYT está publicando uma série de editoriais sobre os problemas dos sistemas de votação nos Estados Unidos, que variam de Estado para Estado e graças aos quais, nunca é demais lembrar, Bush foi parar na Casa Branca. Entre 14 de março, quando a série começou, e 18 julho, saíram 12 editoriais.
Os editoriais vêm com a seguinte Nota da Redação:
‘Neste ano de eleição presidencial, a página editorial do Times examina as falhas dos mecanismos da nossa democracia, incluindo a confiabilidade das máquinas eletrônicas de votar, os obstáculos ao registro e comparecimento de eleitores e a ausência de eleições parlamentares competitivas devido à definição dos distritos eleitorais por critérios partidários. O projeto está sendo conduzido pelo editorialista Adam Cohen, que viaja pelo país para pesquisar essas questões.’
Ao lado, breve currículo e foteca do jornalista.
A série rompe assumidamente um tabu da escola anglo-americana de jornalismo, ao desfazer a divisão entre editorial (opinião do jornal) e reportagem (em tese, relato sem opinião) e ao dar nome e sobrenome ao responsável pela coleta e interpretação dos fatos em que se baseiam, e presumivelmente, pela maioria ou todos os textos.
Pode ser uma boa idéia. Pode não ser. De qualquer forma, melhor editorialistas/repórteres do que repórteres/editorialistas.
Procura-se: o avesso de Murdoch
A colunista Tina Brown (ex-New Yorker) do Washington Post, procura:
‘Um novo homem de mídia, empreendedor e arrojado, com bolsos fundos e muita curiosidade, que se deixe ligar tanto por reportagens rigorosas como por acesso ao poder’.
Contra a murdoquização da imprensa americana (Fox News, New York Post), Tina quer alguém ‘com integridade, paixão e vontade firme que acredite que notícias sobre assuntos sérios e cobertura internacional em profundidade podem ser o tipo mais sexy de reality shows‘.
O nome que ela tem na cabeça e pôs no papel é o multibilionário George Soros, para quem nada é mais importante do que derrotar George Bush em novembro.
A sugestão de Tina Brown não caiu do céu. Começa-se a formar na centro-esquerda americana o que poderá vir a ser em pouco tempo uma forte pressão para que o megaespeculador tornado progressista entre na mídia – não como notícia, mas como ‘poderoso antídoto a Rupert Murdoch, pelo menos na área da cobertura dos Estados Undios, se ele liderar o financiamento de uma organização de mídia eletrônica e internet’, nas palavras do articulista Don Hazen, do site AlterNet.
A ver no que dá.