Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Retratação da Folha, silêncio da imprensa

O desfecho foi inesperado, inédito. Ao reconhecer que errou ao designar a ditadura militar implantada no Brasil como uma ‘ditabranda’ e, simultaneamente, noticiar o protesto diante da sua sede, a Folha de S.Paulo‘ encerrou um incidente que começava a tornar-se extremamente desconfortável.


Teria evitado muitos dissabores se a admissão do erro tivesse ocorrido na semana retrasada, antes do seu editor de Política, Fernando de Barros e Silva, contestar abertamente o infeliz editorial do jornal (ver ‘Editor discorda da direção do jornal‘).


Acontece que nossa imprensa, sobretudo a grande imprensa, é arrogante, considera-se infalível, acima do bem e do mal. Não é bem assim. Ou melhor, já não é bem assim, os tempos são outros.


A imprensa está sendo observada atentamente por uma parte ponderável da sociedade que aprendeu a duvidar do que é veiculado por jornais e por jornalistas. Esta consciência crítica foi a grande vitoriosa do episódio. Também os leitores.


O risco


Os grandes perdedores foram os veículos concorrentes, que ao longo de três semanas mantiveram-se impassíveis diante de um debate político de grande relevância. O pacto de silêncio que nos últimos 30 anos impede qualquer discussão sobre o desempenho da imprensa mostrou novamente a sua solidez.


Nossa imprensa não é plural, não é diversificada, não é múltipla. O episódio foi péssimo para a Folha, porém poderá ainda trazer dividendos. Foi mais danoso para os concorrentes, que se fingiram de mortos e assumiram uma posição subalterna e ambígua. Como se não fosse com eles.


Era, sim, pois uma imprensa que abre mão da disputa e do debate está condenada a calar-se para sempre.


 


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