Os jornais tratam com pessimismo os números da economia brasileira, tema central de todas as edições de quarta-feira (7/3). O cenário é o de períodos de acomodação em processos de recuperação, quando os dados disponíveis sobre o desempenho recente precisam ser cotizados com indicadores históricos e perspectivas para o futuro próximo.
Os números são importantes, mas, considerando-se a leitura do quadro maior para os detalhes, o fato mais relevante é que o Brasil consolidou-se como sexta maior economia do mundo em 2011, superando a Inglaterra, e pode ultrapassar a França já neste ano, tornando-se a quinta maior potência econômica, atrás apenas dos Estados Unidos, China, Japão e Alemanha.
Os leitores encontram boas análises misturadas a opiniões contaminadas pelo viés político, como bem observa o jornalista Walter Falceta Jr. ao questionar nas redes sociais o título da reportagem publicada no começo da tarde anterior no site G1, do grupo Globo.
“Consumo das famílias teve pior resultado desde 2004”, dizia o título, equivocado. Na verdade, o que houve foi uma redução no ritmo de crescimento, não uma queda.
Queixas de praxe
Exemplos como esse se acumulam na observação das escolhas de editores dos diários, principalmente em suas versões digitais. Pode-se suspeitar que os jornais ainda não sabem lidar com a urgência da internet, mas não se pode escapar à observação de que, na pressa em definir o significado dos fatos, opta-se sempre pela pior versão.
A queda no desempenho da economia brasileira em 2011 se deve principalmente ao crescimento pífio da indústria – de apenas 1,6%. A maioria dos analistas apresenta como causas prováveis a concorrência dos produtos importados da China, os juros altos, a carga tributária.
Nos cenários futuros, unanimidade em torno de novo corte nos juros, que já era esperado para a atual rodada de discussões no Comitê de Política Monetária, e perspectiva de crescimento mais consistente para este ano.
Nas entrevistas de empresários, as costumeiras queixas e pedidos de contenção das importações e controle da valorização do real.
Crises cíclicas
A imprensa tem verdadeira obsessão por crescimento econômico e raramente tem olhos para a questão do desenvolvimento – com miopia ainda mais acentuada para o tema da sustentabilidade. Talvez por isso a numeralha divulgada possa parecer um tanto desconexa.
Ninguém parece duvidar da pujança da economia nacional, e os antigos resquícios de pessimismo estão claramente isolados no noticiário dos jornais. A imprensa já não compara os atuais indicadores com os do governo Fernando Henrique Cardoso. Agora a avaliação é feita vis-à-vis o governo Lula da Silva, admitido implicitamente como referência na história do desenvolvimento econômico brasileiro.
Mas ao cotizar o primeiro ano de Dilma com os oito anos de Lula, os jornais deixam vazar um pouco mais de seu viés político, ao omitir ou deixar em segundo plano as causas externas de alguns elementos negativos da economia.
A observação do noticiário também permite constatar que, de modo geral, a imprensa evita as análises mais profundas, do ponto de vista histórico, sobre as atuais circunstâncias econômicas.
O leitor atento há de notar, por exemplo, que os jornais apagaram a crise financeira de 2008, quase convencendo o leitor de que os gregos, além da filosofia, inventaram também a incúria na gestão da economia.
Ora, até os jornalistas sabem que o capitalismo se renova em crises cíclicas, mudando de padrões em busca do crescimento constante e que provavelmente a crise financeira que teve Wall Street como epicentro faz parte desse jogo.
Política versus economia
Está registrado nos jornais, de passagem, que o banco americano Lehman Brothers, ponto de ignição das turbulências em 2008, anuncia o fim da concordata e vai começar a pagar seus credores. A negativa do governo americano em socorrer o banco, anunciada no final da manhã do dia 15 de setembro de 2008, foi o sinal para o desmanche dos castelos de cartas montados com créditos podres no mercado de títulos.
Quando apresentam ao seus leitores o resultado das dificuldades encontradas pelo Brasil no cenário internacional de terra arrasada, omitindo esses antecedentes e destacando os números locais menos auspiciosos, os jornais abrem espaço para críticas pontuais à condução da política econômica.
Para entender melhor esse noticiário, é preciso isolar a expressão, lendo separadamente política e economia.