Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Salvatore Cacciola vem aí

Diz-se nas redações que o bom jornalista, além de talento e competência, precisa ter sorte. Pois a imprensa brasileira acaba de ganhar um presente da Corte de Apelação do Principado de Mônaco: o ex-banqueiro Salvatore Cacciola deverá ser extraditado no prazo máximo de um mês.


Pivô de um dos muitos escândalos que envolvem o dinheiro público na nossa história recente, Cacciola está condenado no Brasil a mais de 17 anos de prisão, em vários processos. Sua presença entre nós será um prato cheio para a imprensa.


A soma de seus problemas inclui lavagem de dinheiro, porte ilegal de arma e empréstimos fraudulentos, mas o grande interesse da imprensa se deve ao seu papel central no episódio da maxidesvalorização do real, ocorrida em janeiro de 1999.


O escândalo rendeu condenações para o então presidente do Banco Central Francisco Lopes e ex-diretores da instituição. Todos já cumpriram parte de suas penas e estão em liberdade há muito tempo. Cacciola foi beneficiado por um habeas-corpus depois de passar 37 dias numa carceragem do Rio de Janeiro, e fugiu para a Itália.


O caso sumiu da imprensa e muitos detalhes ficaram sem elucidação, até que ele foi preso quando passeava no Principado de Monaco.


Sem atrativos


Dono do Banco Marka, Salvatore Cacciola vivia se gabando de contar com fontes privilegiadas no Banco Central e apostou até o fim contra a possibilidade de desvalorização da moeda brasileira.


Quando a decisão foi tomada, seu banco foi apanhado na contramão. Ele havia bancado que a política cambial não iria mudar, tinha assumido compromissos de entrega de 1,2 bilhão de dólares no mercado futuro e não tinha fundos para honrar os papéis. Consta que ele chantageou autoridades monetárias, mas esse detalhe nunca chegou a ser esclarecido.


O episódio que deve despertar o maior interesse da imprensa é a operação de socorro montada pelo Banco Central para impedir a quebra do banco Marka: o Tesouro Nacional lhe vendeu dólares a preços inferiores ao mercado, tomando um prejuízo de 1,5 bilhão de reais.


A alegação de que a intenção do BC era preservar o sistema financeiro nunca convenceu os analistas. Quando o escândalo aconteceu, já fazia quatro anos que o governo Fernando Henrique havia criado o Proer, fortalecendo o setor.


Cacciola vem aí. Quando a CPI dos Cartões Corporativos começa a ficar sem atrativos, a imprensa vai ganhar mais uma fonte de entretenimento.