Os jornais de quinta-feira (30/12) divulgam a última pesquisa feita pelo Instituto Sensus para a Confederação Nacional dos Transportes, dando conta de que o presidente da República encerra seu segundo mandato com uma popularidade sem igual no mundo e um índice de aprovação também recorde para seu governo.
A CNT-Sensus comparou a popularidade de Lula da Silva com a de governantes de outros países no final do mandato e concluiu que seus indicadores são recordes mundiais: 87% de aprovação. Segundo o Sensus, apenas dois governantes chegaram ao fim de seus mandatos com números tão expressivos: Michele Bachelet, no Chile, alcançou 84% ao deixar o governo e nem mesmo Nélson Mandela, herói da África do Sul, com 82% ao fim do mandato, alcançou a popularidade de Lula. Da mesma forma, o governo como um todo chega ao fim com um índice de aprovação também inédito: 83,4%.
Essa aprovação acaba influenciando também as expectativas em torno do governo que se inaugura nesta semana: 69,2% esperam de Dilma Rousseff um governo ótimo ou bom, e apenas 6,4% acham que ela irá fracassar.
Imprensa estrangeira
As reportagens nos três principais jornais de circulação nacional não avançam em avaliações sobre esse fenômeno. Essas análises já haviam sido feitas pelo Globo e a Folha de S.Paulo no domingo (19/12), quando os dois diários publicaram suas versões para o balanço dos dois governos de Lula. E não conseguem fornecer ao leitor uma compreensão satisfatória do que vem a ser a figura de Luiz Inácio Lula da Silva na história da República.
A leitura criteriosa desses trabalhos revela que a imprensa tradicional do Brasil, que passou oito anos brigando contra os fatos, chega ao fim de uma longa relação de conflitos sem entender como seu desafeto consegue sair de cena aplaudido pela população, apesar de todas as restrições que a mídia fez a ele e a seu governo.
É mais fácil encontrar bons trabalhos jornalísticos sobre o desempenho do presidente do Brasil e os desafios de sua sucessora na imprensa estrangeira, como na edição do dia 29/12 na revista britânica The Economist.
A imprensa brasileira produz muitas análises, mas sua leitura deixa a impressão de samba de uma nota só.
Fugindo da realidade
Mesmo quando encara uma tarefa ambiciosa, como a de explicar ‘A construção do mito Lula’, como fez o Globo no dia 19/12, o viés ideológico acaba esmagando o espírito jornalístico. Explorando o que chama de paradoxo entre o ‘fenômeno político e um governo modesto’, o jornal carioca deslocou tanto os indicadores que acabou obrigando o governo a responder item por item, por meio de quase todos os ministros, a cada uma das reportagens.
Assim, para ter uma idéia mais equilibrada do tema que o Globo pretendeu analisar, o leitor teve que ler tembém o Blog do Planalto. Os que não tiveram esse cuidado ficaram com apenas um lado da história.
O Globo alinha algumas razões, que, segundo seus editores, podem explicar a popularidade de Lula: a estabilidade econômica (segundo o jornal, herdada do governo anterior), o Bolsa Família ou o carisma pessoal do ex-operário, com quem o povo brasileiro se identifica.
Para o jornal carioca, não importa que mais de 83% dos brasileiros de todas as classes sociais digam o contrário: o Globo entende que Lula fez um governo modesto, e ponto final. O caderno de 28 páginas só oferece algum refresco nas críticas quando ocupado por entrevistas de ministros e outras figuras do governo.
Outra análise é a da Folha de S.Paulo. Partindo de uma premissa diferente, a dos efetivos avanços econômicos e sociais produzidos nos dois mandatos de Lula, o jornal paulista não rejeita a percepção popular de que chega ao fim um governo de qualidade.
Sem abrir mão da crítica, como quando se refere aos escândalos associados à dificuldade do governo Lula de romper com velhos costumes políticos, a Folha afirma que Dilma Rousseff herda um país ‘socialmente mais inclusivo e dinâmico, além de mais destacado no cenário internacional’.
A diferença entre as duas visões é flagrante. Para completar, nenhum dos grandes órgãos da imprensa tradicional parou para analisar o que deve representar para o Brasil, daqui para frente, o fenômeno da mobilidade social, principal resultado dos dois mandatos de Lula da Silva.
Ao insistir em colocar o viés ideológico como condicionante de suas pautas, a imprensa se distancia do Brasil real – aquele que aparece nas pesquisas.