Começa o último mês do ano: 2008 já era. Governo e imprensa, ultimamente tão próximos e assemelhados, só pensam em 2009.
Significa que dezembro passará em branco? Os próximos 31 dias serão interditados e a vida só recomeçará no dia 5 de janeiro, já que o dia 2 cai numa sexta-feira?
Significa que a catástrofe catarinense é assunto encerrado? Os desaparecidos vão aparecer?
Em dezembro não chove, as estradas já estarão recuperadas, a safra agrícola garantida?
A mídia, é verdade, movimentou-se, deixou o bem-bom dos estúdios e redações, enfiou-se na lama – parabéns. O chefe do governo movimentou-se, foi lá, viu tudo de helicóptero e adiantou 2 bilhões de reais para obras de socorro.
Mas tanto a mídia como nossos governos são vocacionados para o varejo, para o factual, não têm apetite para problemas ou ações conjugadas de grande porte.
Mesmo que o estado de Santa Catarina comece imediatamente um mutirão para recuperar os estragos, ainda tem pela frente um verão chuvoso. O estado é rico, sua produção pesa no PIB, a população é alfabetizada, capaz de ser mobilizada para uma empreitada coletiva, mas sem um plano de emergência a catástrofe pode agravar os presságios e pressentimentos para 2009 – que não são poucos nem desprezíveis.
Nosso sistema federativo impede a intromissão do governo central. Impede mesmo? O governador se oporia a uma reunião ministerial de emergência in loco? Nossa imprensa por acaso já cobrou uma colaboração mais efetiva entre o estado catarinense e a União?
Nos próximos 31 dias muita coisa ainda pode acontecer.