Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Sem fotos e com críticas a Obama

Osama bin Laden morreu, anunciou o presidente Barack Obama, na noite de domingo (1/5). Mas nem os americanos nem o mundo verão imagens, em fotos ou vídeos, de seu cadáver. Em conversas com seus principais assessores, Obama decidiu não divulgar as reivindicadas imagens do líder da al-Qaeda – morto numa operação no Paquistão – pelo temor de que possam servir como propaganda extremista e por considerar que representariam um ‘risco à segurança’ dos EUA. A decisão presidencial recebeu críticas e apoio de parlamentares, mas foi reprovada pela maioria da população. Segundo uma pesquisa feita pela CNN, 56% dos entrevistados se manifestaram a favor da divulgação das fotos, e 39% se disseram contra.


– Os riscos da divulgação superam os benefícios. Há um risco real de que a divulgação das fotos sirva apenas para inflamar a opinião pública do Oriente Médio. Uma foto não vai fazer diferença para provar que ele morreu. Alguns sempre vão duvidar, mas o fato é que Osama bin Laden não andará pela Terra novamente – justificou Obama, em entrevista ao programa 60 Minutos, da rede CBS.


De acordo com os relatos oficiais americanos, Bin Laden recebeu dois tiros à queima-roupa ao resistir ao ataque, um na cabeça e outro no peito. Segundo a CBS, que diz ter tido acesso às imagens – classificadas como ‘horrendas e potencialmente incendiárias’ pelo governo americano – a foto do corpo mostraria Bin Laden com um grave ferimento na cabeça e com perda de massa encefálica.


– É importante assegurarmos que imagens muito dramáticas de alguém que recebeu um tiro na cabeça não fiquem circulando como incitação a mais violência e como ferramenta de propaganda. Não somos assim. Osama bin Laden não é um troféu – defendeu Obama.


No calor da hora


A decisão de não divulgar as imagens foi discutida em conjunto com os secretários de Defesa, Robert Gates, e de Estado, Hillary Clinton, e com assessores de inteligência e de segurança nacional da Casa Branca.


– Nós discutimos isso internamente. Todos concordaram. Tenham em mente que nós estamos absolutamente certos de que era ele. Nós fizemos testes de DNA. Então, não há dúvida de que nós matamos Osama bin Laden – garantiu o presidente.


O senador republicano Lindsey Graham definiu a opção de Obama como ‘um erro’:


– O objetivo de enviar nossos soldados ao assalto em vez de fazer um bombardeio aéreo era obter provas indiscutíveis da morte de Bin Laden. Eu sei que Bin Laden está morto. Mas a melhor maneira de defender nossos interesses no exterior é provar esse fato para o resto do mundo. Temo que essa decisão tomada pelo presidente Obama vá prolongar desnecessariamente este debate.


O líder da maioria republicana na Câmara, John Boehner, ‘apoiou’, e o presidente da Comissão de Segurança Interna, Peter King, ‘respeitou’ a decisão.


– Eu entendo a decisão do presidente e não vou me opor. Embora tenha dito que a divulgação da foto possa ser uma boa maneira de evitar previsíveis teorias de conspiração sobre a morte de Bin Laden, essa é uma decisão a ser tomada pelo presidente, e eu a respeito – disse King.


Fotos exibindo três homens mortos no esconderijo de Abbottabad foram divulgadas na quarta-feira (4/5) pela agência de notícias Reuters. As imagens foram feitas por um oficial paquistanês na madrugada de segunda-feira (2), momentos depois do assalto do comando especial da Marinha americana.


Novos números


Ontem [4/5], uma pesquisa realizada pelo New York Times e pela CBS mostrou que Obama continua colhendo frutos da morte de Bin Laden. Sua aprovação subiu de 46% no mês passado para 57%.


Somente nos EUA, cerca de 57 milhões de pessoas assistiram ao pronunciamento em que Obama anunciou a morte de Bin Laden, no domingo. Apesar de o número de espectadores ser menor do que o obtido pelo discurso do presidente George W. Bush logo após o impacto de dois aviões contra as Torres Gêmeas, em 2001 – visto por 82 milhões de pessoas – essa é a maior audiência televisiva de Obama até agora.


A última vez em que o atual titular da Casa Branca havia conseguido uma audiência similar, ainda que menor, foi logo depois de sua posse como presidente, quando 52 milhões de pessoas assistiram ao seu primeiro discurso numa sessão conjunta do Congresso. Os novos números reforçam análises de que a morte do líder da al-Qaeda fortaleceu a posição do presidente diante dos republicanos para as eleições de 2012.


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Em que situação se justificaria a divulgação de fotos ‘horrendas’ e ‘potencialmente incendiárias’?


** ‘Mostrar foto de cadáver nessa situação é acentuar o ódio já latente nessas populações. Se o Bin Laden foi mesmo morto, a mostra do DNA dele é mais do que suficiente.’ (Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Unicamp)


** ‘Se for uma imagem grotesca, nesse caso o importante é mostrar a prova, ou seja, o DNA. Se a foto for divulgada pelo governo, aí cabe à imprensa divulgar também.’ (Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra)


** ‘Esse é um problema do governo americano. Se a foto for divulgada, caberá à imprensa analisar de que forma pode apresentar de uma maneira que atenda os preceitos morais e religiosos das pessoas.’ (Alberto Dines, jornalista)


** ‘Somos um jornal de família. Sabemos que crianças também veem o nosso jornal e não queremos publicar nada gratuitamente. Mas não queremos esconder o que está acontecendo.’ (Liz Spayd, editora-chefe do Washington Post)


** ‘A sociedade tem o direito de saber. Devem divulgar a imagem. Mas uma imagem sem detalhes que chocam, principalmente o público infantil.’ (Fernando Oliveira Paulino, professor de Comunicação e Cidadania da Universidade de Brasília’


** ‘É de interesse público a divulgação das fotos do Bin Laden? Acho que sim. Momentos históricos exigem determinadas imagens. Com bom senso e decência, é claro.’ (Celso Schroder, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas)


** ‘Geralmente, evitamos imagens gratuitamente chocantes sem valor jornalístico. Mas fotos de Bin Laden morto certamente têm um grande valor jornalístico.’ (Bill Keller, editor do New York Times)

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Correspondente de O Globo em Washington