A imprensa tem tratado o governo Lula sem uma perspectiva histórica. Esta distorção precisa ser corrigida.
Em virtude de sua rede mundial de informantes, a Cúria Romana foi capaz de prever o esgotamento do comunismo no Leste Europeu e das ditaduras militares na América Latina. A fim de aumentar seu poder, a Igreja Católica resolveu apostar algumas de suas fichas em dois sindicalistas. Foi assim que Luiz Inácio da Silva e Lech Walesa, lideres operários que colocaram em xeque os modelos político-econômicos de seus países ao deflagrarem greves que não puderam ser contidas por Estados agonizantes, acabaram tendo projeção nacional e mundial.
É evidente que os clérigos acreditavam que poderiam manipular ou exercer algum controle sobre ambos. Caso contrário, nem Lula nem Walesa se tornariam as mais proeminentes lideranças políticas do Brasil e da Polônia, dois paises em que a grande maioria da população é católica. O plano da Igreja parece ter sido coroado de êxito. Tanto que os dois chegaram à presidência de seus respectivos paises com os votos de eleitores aliciados pelo baixo clero.
Ambiente tranqüilo
O primeiro a ser eleito Presidente foi Walesa. Lula demorou um pouco mais para chegar à presidência. Entretanto, ambos foram eleitos com maioria razoável de votos e conduziram-se durante suas campanhas eleitorais como se fossem verdadeiros salvadores da pátria. Tentado a revitalizar o modelo econômico interventor comunista em virtude da ojeriza que a Igreja Romana tem pelo liberalismo, Walesa acabou se transformando num desastre político. Hoje não se elege nem síndico de seu prédio.
O exemplo do polonês, que foi eleito uma década antes do brasileiro, parece ter sido aprendido por Lula. Após ser eleito e agradecer aberta e escandalosamente a seus mentores da CNBB, o petista deu início ao seu plano de governo, que oscila entre o liberalismo e o intervencionismo estatal.
Entretanto, liberalismo e intervencionismo são modelos econômico-institucionais mutuamente excludentes. É impossível concretizar o liberalismo e, ao mesmo tempo, construir um Estado interventor.
O Estado mínimo é um dos corolários do sucesso de políticas que visem criar um ambiente tranqüilo e competitivo para os negócios. O Estado não produz tributos, apenas arrecada. Assim, para poder intervir na economia o Estado deve sugar cada vez mais os recursos dos agentes econômicos, que obviamente não são tolerantes quando seus próprios interesses estão sendo prejudicados.
Bomba-relógio
O intervencionismo não afugenta apenas os investidores internacionais. Afugenta também os empresários brasileiros, que em virtude da globalização e das facilidades das operações online, podem investir em qualquer ponto do planeta. O liberalismo, a seu turno, tem como pedra angular a redução das despesas e da tributação. Estas duas coisas são impossíveis de se fazer quando o que se pretende é ampliar e diversificar a atuação do Estado na economia.
Tudo indica que o governo Lula está condenado. Não vai conseguir aprofundar o liberalismo em razão das restrições da Igreja Católica e certamente encontrará resistências entre os empresários ao tentar ampliar o intervencionismo estatal. Portanto, a questão não é saber ‘se’ os seus aliados vão abandoná-lo, mas ‘quando’ isto ocorrerá.
Lula transpira tranqüilidade. Acredita que o destino de seu governo só pode ser glorioso. Dorme em berço esplêndido sobre uma bomba-relógio que já foi acionada. Seduzido pelo poder, supõe que a glória emana de sua própria personalidade.Quando se encontrar na mesma situação e solidão que Walesa, talvez o ‘sapo barbudo’ perceba que foi apenas mais uma marionete manipulada pelos maquiavélicos homens de batina, que são especialistas em governar sem assumir pessoalmente a responsabilidade pelos seus atos. Paciência, nós sentiremos tanta falta de Lula como os poloneses sentem de Walesa.
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(*) Advogado