Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Sem vazamento, sem informação

Os principais jornais brasileiros, aqueles considerados de circulação nacional, tratam de maneiras diversas o projeto de política industrial do governo federal, previsto para ocupar a agenda pública a partir de quarta-feira (3/8).

O Plano Brasil Maior de Política Industrial, denominação escolhida pelo Executivo para o lançamento, é apresentado como o arcabouço de uma política nacional para a indústria, antiga reivindicação de economistas, investidores e empresários. Mas a pompa e a circunstância do evento se esvaziam com a divulgação de divergências que podem alterar o projeto original e reduzir o impacto de algumas propostas.

Segundo os jornais, as centrais sindicais manifestam contrariedade com a iniciativa antes mesmo de conhecer o texto, adiantando que não irão aceitar a redução de benefícios trabalhistas sem compensações.

De acordo com o que foi adiantado pela imprensa na terça-feira (2/8), o governo pretende desonerar a folha de pagamentos de alguns setores mais intensivos em mão de obra, como as indústrias têxtil, calçadista e de móveis.

Qualidades esperadas

Embora todos destaquem as divergências na elaboração do plano, os jornais oferecem abordagens diferentes à iniciativa do governo. O Globo e o Estado de S.Paulo tratam o pacote de medidas como o lançamento de uma nova política industrial. Mas para a Folha de S.Paulo, o que o governo vai anunciar é apenas um projeto-piloto de desoneração da folha de pagamento para alguns setores, ainda de forma experimental e por prazo determinado.

Além da questão trabalhista, que afeta as contas da previdência oficial, o noticiário se refere às intenções do governo de combater a chamada triangulação, manobra contábil com que algumas indústrias dissimulam a importação de produtos sobretaxados. O alvo principal é a China, que faz embarques a partir de outros países, para burlar a taxação, com a conivência de empresas brasileiras.

Como os formuladores do projeto mantiveram estrito controle sobre as propostas em discussão, pode-se observar que a imprensa não teve acesso ao texto integral e as reportagens são baseadas quase exclusivamente em comentários dos representantes das centrais sindicais.

O esforço para antecipar o anúncio de medidas do governo é uma das qualidades que se espera do jornalismo diário. A falta de maiores informações sobre a nova política industrial, na véspera de seu lançamento, parece mostrar que, quando não há vazamento, a imprensa fica sem recursos para avançar além dos relatos oficiais.

 

Observatório da Imprensa na TV

Após os escândalos envolvendo o império midiático de Rupert Murdoch, proprietário da rede de televisão norte-americana Fox e de jornais como o Wall Street Journal, o tema da regulação da imprensa volta ao noticiário.

A crise gerada pelo caso do News of the World, tablóide londrino denunciado pelo uso de escutas eletrônicas, fez com que a Comissão de Queixas da Imprensa (PCC, na sigla em inglês), órgão britânico responsável por fiscalizar a imprensa, fosse severamente questionada. Ofuscada pelo escândalo, a PCC revelou a fragilidade de suas ações para coibir as práticas nada éticas dos jornais populares na Inglaterra.

Desde 2010, a comissão vinha recebendo denúncias sobre os abusos do News of The World, segundo reportagem do The Guardian que repercutiu as denúncias publicadas pelo New York Times.

Nesta terça-feira (2/8), o Observatório da Imprensa na TV volta a essa polêmica. Mas, agora, vai analisar o funcionamento da Federal Communications Commission (FCC), órgão regulador da área de telecomunicações e radiodifusão dos Estados Unidos. Em funcionamento desde 1934, a FCC equivale à Anatel no Brasil, fiscalizando o espectro norte-americano de radiofreqüência, os canais de rádio e TV, serviços de telefonia e TV por assinatura.

Esse programa especial contará com a exibição de uma longa entrevista com o ex-presidente da FCC, Reed Hundt. Ela foi realizada em Washington, pelo correspondente internacional Lucas Mendes. O jornalista e professor aposentado da UnB Venício A. de Lima participará do programa em estúdio, com Alberto Dines.

O Observatório da Imprensa na TV vai ao ar às 22h, pela TV Brasil, ao vivo, em rede nacional. Em São Paulo pelo canal 4 da NET e 116 da Sky. [Com Tatiane Klein]