Monday, 30 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Semanais dos EUA enfrentam período de transição

Durante a maior parte do século 20, sob a influência de seu fundador, Henry R. Luce, a revista Time, da Time Inc., concentrou-se em mostrar as notícias do mundo a seus leitores. Agora, a postura editorial será outra. Richard Stengel, o novo editor-chefe da tradicional publicação americana, planeja oferecer aos leitores mais artigos e análises. “Nós fomos tradicionalmente um espelho e, para mim, temos de ser cada vez mais uma lâmpada”, afirma, citando o título de um dos mais importantes estudos sobre a literatura romântica, The Mirror and the Lamp, do crítico americano M.H. Abrams. “Como uma lâmpada, você lança luz sobre algo”, explica.

Para tal, a revista terá que contratar jornalistas consagrados e, assim, se assemelhará mais à rival Newsweek, que já têm em sua equipe colunistas como George Will, Anna Quindlen e Fareed Zakaria. Até agora Stengel contratou Ana Marie Cox, ex-editora do blog Wonkette, dedicado à vida política e escândalos da capital americana. Ana Marie ficou conhecida na blogosfera por seu estilo irreverente. A Time já vem publicando grandes reportagens que se assemelham a análises, como a matéria de capa da edição do dia 31/7, sobre o Oriente Médio, de autoria de Michael Elliot. “Eu quero que as pessoas falem sobre o que nós estamos escrevendo”, diz Stengel.

Tempo de mudanças nas semanais

Na Newsweek, Jon Meacham assumiu o posto do editor Mark Whitaker, que está agora com um papel estratégico no setor online do grupo. Tanto Stengel quanto Meacham terão que enfrentar tempos difíceis na indústria de revistas dos EUA: demissões, queda na tiragem e estagnação dos anúncios publicitários. “Eles têm de descobrir no que são realmente bons e para que existem”, avalia Robert S. Boynton, diretor do curso sobre revistas da Universidade de Nova York. “Claramente, as razões pelas quais eles existiram e tiveram sucesso no passado não vão mais funcionar. É preciso decidir se vão partir para a direção da mídia de elite e ter um olhar inteligente sob os eventos da semana, ou se continuarão tentando ser todas as coisas para todos os tipos de pessoas.” Hoje, a Newsweek, que pertence à Washington Post Company, tem circulação de 3 milhões de exemplares.

Desafios

Com tiragem maior – são quase quatro milhões de cópias – a Time enfrenta o mesmo desafio da rival: como é possível ser uma publicação relevante no ciclo de notícias semanal competindo com as notícias de última hora da internet e da TV a cabo, com as análises dos jornais e, ao mesmo tempo, com reportagens investigativas e narrativas de revistas mensais como a Vanity Fair?

Para Stephen G. Smith, atual chefe da sucursal de Washington do Houston Chronicle que já trabalhou como editor-executivo da Newsweek (1986 a 1991) e editor da seção nacional da Time (1978 a 1986), a influência e o prestígio das semanais caíram muito ao longo dos anos. “Antes, as capas das revistas jornalísticas semanais eram extraordinariamente importantes, tanto na política quanto na cultura. Se estivesse na capa da Time ou da Newsweek, era realmente um evento importante. Agora, o impacto é menor”, avalia.

Apostas de fim de semana

A partir do ano que vem, a Time trocará as segundas-feiras pela distribuição às sextas – e chegará às casas dos assinantes aos sábados. Meacham terá de considerar se a Newsweek também mudará seu dia de circulação. O novo dia apresenta aspectos positivos e negativos.

Para Stengel, “o fim de semana é quando as pessoas querem consumir o que fazemos. Na sexta-feira você pode influenciar a discussão, enquanto na segunda você se sente um pouco derrotado”, opina. Os anunciantes também podem considerar a sexta-feira um dia mais atraente para seus negócios, pois a edição ficará disponível nas bancas por todo o final de semana, quando muitas pessoas vão às compras.

No entanto, a tática do governo dos EUA de divulgar notícias que podem ser prejudiciais à política americana somente sexta-feira à noite poderia constituir um ponto negativo para o novo dia de circulação. Stengel, no entanto, não se mostra preocupado com este possível problema. “Quanto das más notícias de sexta nós temos nas revistas de segunda? Não muito, na verdade. Por isso a internet foi inventada”, justifica. Informações de Julie Bosman [The New York Times, 4/9/06].