Não foi apenas peso que o ex-governador do Rio Anthony Garotinho perdeu durante a greve de fome que protagonizou por mais de uma semana. Ao sensibilizar apenas simpatizantes e evangélicos com seu gesto desesperado, Garotinho perdeu também a credibilidade no PMDB e a chance de ser o candidato do partido às eleições presidenciais deste ano. No programa partidário de TV, na quinta-feira (11/5), o PMDB não permitiu que ele usasse o horário gratuito para fazer diatribes contra a mídia.
Foi para concorrer à chance de ser candidato ao Planalto que Garotinho preparou toda a estrutura de pré-campanha que o levou a diversos estados do Brasil. Financiada com recursos de entidades relacionadas ao governo do Rio, a estrutura financeira da pré-campanha possivelmente vinha sendo arquitetada há muito tempo. A imprensa, especialmente O Globo e Folha de S.Paulo, fez um trabalho praticamente inédito no Brasil de averiguação aprofundada dessa estrutura.
Quando os questionamentos sobre a teia de recursos começaram a se avolumar, sem ter resposta que lhe absolvesse, Garotinho recorreu à greve de fome e às acusações contra a mídia. Essas já vinham desde antes: em março, em seu programa de rádio, o ex-governador vituperou nominalmente contra repórteres de O Globo. Na quinta-feira (11), no final da greve de fome, seus seguranças agrediram uma fotógrafa do mesmo jornal. Não deve parar por aí o mau relacionamento de Garotinho com a imprensa.
Cobrança e investigação
Nessa sua cruzada contra a imprensa, o ex-governador teve na quinta (11) uma vitória pequena: obteve na Justiça a publicação de direito de resposta em O Globo e na revista Veja. Ele afirma que sua campanha não tinha conhecimento prévio de que o jatinho utilizado pertencera um dia ao ‘comendador’ João Arcanjo. Uma vitória para o ex-pré-candidato, sim, mas sem maior significado. Realmente não foi demonstrada conexão, mas continuam sem resposta todas as outras questões sobre os financiadores de sua pré-campanha.
Acuado pelos primeiros questionamentos, Garotinho recorreu a um gesto importante que acabou por entregá-lo: abriu os nomes dos financiadores de sua pré-campanha, o que permitiu aos repórteres verificar quem eram aquelas empresas. Já as contas da pré-campanha de Geraldo Alckmin, o pré-candidato do PSDB, continuam sem maior escrutínio publicado do que o registro de semana passada em O Globo. Aliás, abrandou-se o ritmo das reportagens publicadas sobre acusações ao pré-candidato tucano.
(Também se sabe quem paga as viagens da campanha não-declarada de Lula: como ele viaja pelo país inaugurando obras na condição de presidente, quem paga é o contribuinte.)
O caso Garotinho colocou os partidos em alerta. Como não há obrigação legal alguma de prestação de contas em pré-campanhas, será necessária muita cobrança e investigação da imprensa para saber como elas são pagas. E isso, salvo o breve intervalo em que os principais jornais do país escrutinaram diligentemente as contas da candidatura a candidato de Garotinho, ainda está em falta.
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Editor do blog Deu no Jornal, da Transparência Brasil